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Acampamento do MST na área de litígio reivindicada pela Araupel. | Cesar  Machado/Gazeta do Povo
Acampamento do MST na área de litígio reivindicada pela Araupel.| Foto: Cesar Machado/Gazeta do Povo

O clima de conflito agrário na região Centro-Sul do Paraná, nos municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu, onde estão as áreas de reflorestamento da Araupel, é cada vez mais tenso desde a nova ocupação feita pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no dia 1º de junho. A empresa acusa o movimento de depredação de patrimônio, saques em alojamentos de trabalhadores, derrubada de árvores nativas e caça ilegal de animais silvestres. Segundo a Araupel, desde maio do ano passado quando o movimento ocupou uma nova área da empresa, os prejuízos deixados pelo movimento já somam R$ 9 milhões.

O MST afirma que as acusações são feitas para tentar desestruturar o movimento e que a Araupel terá que provar as acusações. O movimento, no entanto, não esconde que pretende ocupar toda a área e diz que vai estabelecer prazo para que a empresa, que tem sede regional em Quedas do Iguaçu, se retire da cidade. “Para nós o invasor é a Araupel e não o movimento, a Justiça já decidiu em nosso favor”, diz Antônio Camargo de Maio, um dos líderes do acampamento que possui aproximadamente 4,5 mil pessoas.

No mês passado, a juíza da 1ª Vara Federal de Cascavel, Lilia Côrtes de Carvalho de Martino, reconheceu que a Araupel não é dona da Fazenda Rio das Cobras e declarou que a área pertence à União. A decisão foi comemorada pelo MST. A Araupel, que está recorrendo da decisão, diz que “ancorados na decisão judicial de primeira instância, de que as terras pertencem à União, o grupo vem estimulando a chegada de outras pessoas para o acampamento e ameaçam promover mais estragos à empresa”.

O MST confirma que a decisão judicial trouxe ânimo ao movimento e fez com que os sem-terra fossem impulsionados a acreditar que estão no rumo certo. “O otimismo é maior diante dessa notícia tão boa da juíza de Cascavel”, diz Camargo.

Desde o dia 1º de junho começou a ser montado um novo acampamento em Quedas do Iguaçu e já possui cerca de 800 famílias. Segundo Camargo, a partir de agora serão estipulados prazos para as negociações entre as autoridades e que se não forem cumpridos forçará a ampliação da área ocupada. “Não só vamos ocupar como vamos dar um prazo para a empresa se retirar porque ela que é a invasora”, afirma. O MST pretende ainda dar prazos para que a Araupel retire as madeiras do local para onde eles pretendem se instalar. Segundo o movimento, o único interesse é pela área e não pela madeira. “Como se diz na gíria, o bicho vai pegar”, afirma o líder.

Estrutura

Um ano após a ocupação realizada em maio do ano passado por filhos de sem-terra, o acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio, está organizado até com escola itinerante onde estudam 530 alunos. Várias salas de aula foram construídas no espaço, além de uma ampla biblioteca. Parte das madeiras para a construção da escola foi doada por moradores de Rio Bonito do Iguaçu. O MST faz questão de colocar uma placa informando o nome do doador. “Isso para nós é realmente uma grande conquista ter uma escola itinerante dentro do acampamento e com um número tão expressivo de alunos”, declara Camargo.

Segundo o líder sem-terra, o acampamento melhorou muito desde a ocupação no ano passado, principalmente na questão estrutural. Um dos problemas mais comuns no acampamento são as doenças e houve até uma suspeita de um surto de leishmaniose após centenas de moradores aparecerem com feridas pelo corpo. Uma equipe da Secretaria de Estado da Saúde esteve no local e descartou a suspeita de surto na última sexta-feira (12). As equipes constaram que as lesões foram provocadas pelas más condições de higiene e que deverão ser tratadas com urgência.

Reconhecimento

Em nota, a Araupel lembra que reivindicar uma desapropriação de terra não significa acabar com a dignidade de uma empresa com mais de quatro décadas de história, ainda mais quando ela detém prêmios de reconhecimento nacional por sua atuação voltada ao Meio Ambiente e à comunidade local. “A empresa mantém todos os certificados necessários que comprovam suas atividades exercidas de forma ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, sendo o principal esteio econômico não apenas de seus 1.100 funcionários mas de toda uma microrregião”, informa a Araupel.

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