São Paulo - Manifestantes ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram ontem as sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em cinco estados São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Piauí e Paraíba e no Distrito Federal. Em Pernambuco, a superintendência do órgão está ocupada desde sábado. O movimento realizou manifestações em 19 estados ontem, para cobrar do governo federal a criação de novos assentamentos da reforma agrária e exigir mais apoio para as famílias já assentadas.
Apenas em Brasília o prédio havia sido desocupado até a noite de ontem, segundo comunicado do MST. O presidente do Incra, Rolf Hackbart, afirmou que as invasões são "inaceitáveis" e rechaçou a crítica dos movimentos sociais ao governo Lula. "Criamos mais de 3,6 mil assentamentos. Mais de 574 mil famílias estão cadastradas no programa de reforma agrária", garantiu. Segundo ele, enquanto continuarem as invasões de prédios do Incra pelo país, as negociações ficarão suspensas.
Nos protestos, que integram o chamado "abril vermelho", os manifestantes do MST reivindicam o assentamento de 90 mil famílias acampadas em todo o país, a atualização dos índices de produtividade, a garantia de recursos para as desapropriações de terras e investimentos públicos nos assentamentos. Desde o início das ações do "abril vermelho", foram invadidas 68 propriedades em 11 estados.
No Recife, cerca de mil integrantes do movimento fizeram caminhadas em avenidas de grande movimento, no início da manhã, horário de pico de veículos, causando congestionamentos e reclamações. Na Bahia, o MST deu início a uma marcha que percorrerá, até o dia 26, os 110 km que ligam Feira de Santana e Salvador, as duas maiores cidades do estado. Em Fortaleza (CE), os sem-terra ocuparam a sede do governo estadual. Eles também fizeram marchas em Minas e Tocantins. No Rio Grande do Sul os protestos foram realizados em estradas vicinais do município de São Gabriel, para homenagear o acampado Elton Brum da Fonseca, morto naquela região pela Brigada Militar, durante uma desocupação, em agosto do ano passado.
Reação
Em reação aos atos do MST, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) instalou ontem um escritório voltado para a defesa dos direitos dos proprietários rurais atingidos. O escritório conta com técnicos especializados e advogados, que devem atuar em conjunto com as federações estaduais de agricultura e pecuária. A ação faz parte da campanha "Vamos Tirar o Brasil do Vermelho - Invasão É Crime", lançada na semana passada pela presidente da entidade, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO).