Veja entrevista com vitimas do abuso sexual em Curitiba
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O empresário Jamhar Amine Domit, de 78 anos, foi preso em sua casa nesta semana, em Curitiba, quando mantinha uma empregada doméstica em cárcere privado.
Ele atraía mulheres que queriam um emprego. O anúncio no jornal oferecia salário de R$ 1.200 para trabalhar como governanta, mas era uma armadilha. Elas encontravam um patrão perverso e acabavam vítimas de abuso sexual.No apartamento de luxo, num bairro nobre, os policiais recolheram carteiras de trabalho e documentos de identidade, além de objetos pessoais das vítimas.
Uma das vítimas relata: "ele chegava na cozinha, dava um empurrão. Dizia que tinha me contratado para que cuidasse dele, a casa não interessava".
"Sempre que ele chamava tinha um filme pornô. Ele falava: 'cala a boca que quem está falando sou eu'", diz outra vítima.
Uma vítima conta sobre o momento da sua contratação: "quando nós fomos lá para a cozinha, a primeira coisa, ele fez eu abrir a boca, ver meus dentes, ver meus seios, se eu tinha condições de trabalhar para ele".
Segundo um levantamento feito pelos investigadores, no livro de registro que existe na portaria do prédio, de janeiro a agosto deste ano passaram pelo apartamento do empresário 117 mulheres.
As que foram vítimas dele saíram sem receber pelos dias trabalhados em regime de escravidão e sem os documentos. Uma delas contou em depoimento que só foi mandada embora depois que ameaçou se jogar lá de cima.
Uma das mulheres que passaram pelo apartamento do empresário conta que foram 16 dias de humilhação e medo.
"No momento em que eu entreguei a documentação ele fechou a porta e disse: de agora em diante você vai ficar sob as minhas ordens", conta a mulher.
Ela enfrentou tentativas de abuso sexual. "Ele tentava mas eu me esquivava. Ele tirava a roupa e dizia: olha pra mim, você não sabe o que está perdendo. Muitas outras queriam estar aqui", relata a mulher.
"Desde o segundo dia eu pedi: 'abre a porta para eu ir embora, eu não quero mais ficar aqui'. Aí eu pensei assim, vou aguentar porque em 30 dias ele me dá R$ 1.200 e dá para eu voltar para a minha cidade", conta.
Segundo a delegada Samia Coser, o empresário é acusado dos crimes de redução à condição análoga à de escravidão, cárcere privado, estupro e atentado violento ao pudor.
Relação patrão-empregada
O inferno no apartamento de Curitiba é um caso extremo na relação entre patrões e empregadas domésticas. Mas ainda são muitos os casos de desrespeito.
"É preciso entender que qualquer relação de trabalho no Brasil, mas sobretudo trabalho doméstico, vem de um contexto histórico de escravidão", diz Roberto Damatta.
"Eu acho que ele é uma pessoa, e deve ser até hoje, que achava que pelo que ele pagava ele tinha o total domínio sobre o funcionário", disse uma das mulheres.
"Na escravidão, simplesmente o empregado não tem direitos. O senhor, ou a senhora, são donos daquela pessoa", disse Damatta.
Contratada para acompanhar uma mulher doente, esta profissional passou a ser assediada pelo marido da ex-patroa. O caso está na Justiça do Trabalho.
"Eu botei a esposa dele para dormir, aí na hora que eu ia saindo ele me puxou bem forte e me beijou à força. Eu saí correndo, deixei tudo aberto, naquele dia resolvi contar", conta a mulher.
A escritora Suely de Carvalho também resolveu contar sobre os abusos que sofreu. "'Vou arrumar um trabalho para você numa rádio'. Ele ficava tipo jogando essas indiretinhas indecentes, que deixam a empregada revoltada", conta ela sobre o patrão.
Suely escreveu um livro sobre os doze anos como empregada doméstica. "Ele insistia. Apagou a luz da lavanderia e ficava batendo. Eu falei: 'olha, se você continuar batendo na porta, eu vou gritar, eu vou pedir socorro aos prédios vizinhos.'"
E uma frase dela mostra como é solitária a luta dessas mulheres: "meu Deus do céu. E o medo de morrer sozinha, ficava apavorada de morrer no quarto".
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