ONGs podem fazer muita diferença
Ao pé do morro, a favela Dona Marta é vista pelos turistas que sobem ao Cristo Redentor como uma lembrança de que o Rio de Janeiro tem áreas pobres. No empilhamento de casas de tijolos, a grande maioria, sem reboco, parece se sustentar na linha do céu, entre o morro e as nuvens. Os moradores nem percebem que eles têm a melhor visão da zona sul do Rio.
A mais violenta também mudou
A região conhecida como Vila Osternack, no bairro do Sítio Cercado, zona sul de Curitiba, já foi considerada a área mais violenta da capital, chegando a registrar 14 assassinatos em um único fim de semana. Hoje, a média caiu para um homicídio por mês. A Polícia Militar atribui o resultado ao programa Segurança Social, que gera emprego e renda na região.
Em apenas meia década, uma das áreas mais violentas e miseráveis do Paraná se transformou em um bairro urbanizado e relativamente seguro. Surgida em 1991, a partir da ocupação irregular de uma área de manancial às margens do Rio Palmital, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, a Vila Zumbi dos Palmares vem passando por um processo de transformação graças às intervenções urbanas e à atuação de programas sociais na região.
Moradores mais antigos lembram que quase todo dia alguém era assassinado na região. Atualmente, a vila chega a ficar semanas sem homicídios. "Isso aqui quando começou parecia uma cidade de filme de faroeste, morria gente todo dia", compara uma das pioneiras da ocupação, Gonçalina Torres Correia, de 77 anos. "Nossa vida melhorou, e a violência diminuiu muito."
A regularização da área, que começou em 2004, sob a coordenação da Companhia de Habitação do Paraná (Cohab), trouxe uma série de benefícios aos moradores. "Acabaram os barracos, temos casas boas, com ônibus na porta, ruas asfaltadas", lembra a pioneira. "Tem de tudo aqui: comércio, farmácia, correio. Só não tem banco."
Obras da Sanepar levaram saneamento básico à população, melhorando a saúde, a qualidade de vida e as condições ambientais da região. O Rio Palmital, que havia virado um esgoto a céu aberto, foi recuperado, e a população foi protegida do risco das enchentes.
Com a revitalização, os imóveis da Vila Zumbi se valorizaram. "Quem não queria nada com o trabalho aproveitou para vender e acabou indo embora", conta Denise de Oliveira, que trabalha em uma loja de roupas na Rua Aleixo Schluga, a principal via do bairro. "Os bandidos que não foram embora acabaram morrendo", acrescenta a comerciante Maria de Oliveira, irmã de Denise e dona da loja.
A chegada de um condomínio de luxo às imediações, no início da década, contribuiu para a transformação da área. Implantado no vizinho município de Pinhais, o Alphaville Graciosa desenvolveu projetos sociais na Vila Zumbi. "O Colégio Bom Jesus do Alphaville sempre destina bolsas às crianças da Vila Zumbi", lembra a comerciária Luana de Oliveira. "Principalmente às deficientes", completa sua colega Ivete dos Santos.
Elizabete Amorim, funcionária de uma loja no bairro, ressalta que o condomínio criou oportunidades de emprego aos moradores do bairro. "Eles dão preferência à mão de obra daqui e treinam o pessoal para trabalhar como porteiro ou doméstica", afirma.
No entanto, conforme lembram os próprios moradores, a queda na quantidade de assassinatos não significa que a Vila Zumbi esteja livre do crime. Há quem afirme que o tráfico de drogas continua presente no bairro, impondo a chamada "lei do silêncio". "Vez ou outra ainda tem uma vingança, vão [ser mortos] dois ou três", conta Gonçalina. "A gente sabe quem foi, mas viu e não viu. Não pode falar." O cabeleireiro Laércio Aparecido de Lima confirma a presença dos traficantes na área. "São eles que impedem a entrada de assaltantes na área", afirma.
Apoio da infância até a terceira idade
Moradora da Vila Zumbi dos Palmares desde o início da ocupação, Gonçalina Torres Correira, de 77 anos, participa das atividades oferecidas aos idosos pelo Centro de Convivência e Aprendizado da Graciosa, mais conhecido como Casa Amarela. Implantado em 2001 pela Fundação Alphaville, ligada ao grupo que construiu um condomínio nas imediações, em território do município de Pinhais, o centro é mantido desde 2006 pela prefeitura de Colombo.
"No entorno de cada condomínio implantado pelo grupo Alphaville, a fundação desenvolve um projeto social", explica a coordenadora-geral do Centro de Convivência, Diva Paganardi. "O terreno é do município. A fundação construiu e equipou o centro, doou as instalações ao município e manteve o local em parceria com a prefeitura por seis anos."
No início, a Casa Amarela oferecia apenas cursos profissionalizantes, formando pedreiros, eletricistas e outros profissionais para atuar no condomínio. Hoje, além dos programas de geração de renda e educação para a sustentabilidade, o local oferece programas para infância e para a terceira idade.
Atualmente, 36 idosos são atendidos pelo Centro de Convivência, que oferece alimentação duas vezes por semana, com café da manhã, almoço e lanche da tarde. Outro dia é destinado a atividades de lazer, como bingo, baile, sessão de cinema e passeio. As quintas-feiras são reservadas ao artesanato. Dona Gonçalina participa da atividade, exibindo orgulhosamente as peças que costurou.
Hoje, 120 crianças frequentam a escolinha de futebol e as aulas de informática da Casa Amarela. O Centro de Convivência abriga ainda a Asssociação de Empreendedores Zumbi dos Palmares, que atua em três frentes: serigrafia, horta orgânica e artesanato. Com cinco integrantes, o Silk Zum, grupo de serigrafia, imprime em camisetas, canecas e outros objetos. Outras dez pessoas, ainda em fase de apreendizagem, atuam na incipiente horta, que ainda não gera renda.
O carro-chefe da associação é o Zumbi Arte, grupo de artesanato. São 25 pessoas que produzem peças com destinação garantida no mercado. Os pontos de venda estão localizados em hipermercados e shoppings da capital.
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