O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira (17) que "não adianta colocar a polícia para dentro do campus" para combater trotes violentos. O ministro se referia aos recentes casos de violência registrados em universidades e faculdades do país.
"É lamentável esse tipo de conduta. Felizmente são casos isolados, mas houve um recrudescimento recente disso. Isso é caso de inquérito policial, porque estimula a discriminação e o racismo", afirmou Haddad. Ele participou nesta terça, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da inauguração de uma escola técnica federal em Planaltina (DF).
Segundo Haddad, o melhor caminho para enfrentar a violência nas faculdades é conscientização. "O básico que se espera de um universitário é consciência. Temos que fazer um trabalho de conscientização. Os estudantes têm que ajudar a combater esse tipo de prática com trotes civilizados de integração dos calouros com alunos mais antigos", afirmou.
Casos recentes
Uma faculdade de Santa Fé do Sul, no interior de São Paulo, deverá expulsar a aluna suspeita de jogar uma mistura de gasolina e desinfetante em calouros durante um trote ocorrido na segunda-feira (9).
A Fundação Municipal de Educação e Cultura (Funec) irá aguardar a conclusão do inquérito policial para anunciar oficialmente a sua decisão.
Entre as vítimas do trote está a estudante Priscilla Vieira Rezende Muniz, 18 anos, grávida de três meses. Ela teve queimaduras nas costas e nas pernas e chegou a ficar internada por um dia.
Em Catanduva (SP), calouros de uma faculdade tiveram de abaixar as calças no meio da rua, em pleno viaduto que passa sobre uma das mais movimentadas avenidas da cidade. As roupas das moças foram cortadas. Um site publicou fotos que mostram os estudantes em situação constrangedora.
O coordenador do curso explica que a faculdade teve conhecimento e tenta identificar agora os estudantes que participaram do trote.
Em Araçatuba, também em São Paulo, os calouros dos cursos de medicina veterinária e de odontologia do campus da Unesp também passaram por constrangimento durante trotes na universidade.
Os veteranos teriam obrigado os novos alunos a rasparem os cabelos, consumir bebida alcoólica e tomar banho de lama. O trote aconteceu dentro da própria universidade. Ninguém ficou ferido.
Em nota, a direção da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Unesp lamentou o episódio. O texto diz ainda que será constituída uma comissão para "elucidar as circunstâncias, com adoção de outras medidas se necessário".
Projetos
A Câmara dos Deputados decidiu nesta segunda-feira (16) que irá votar em plenário um projeto que desestimule a prática de trotes violentos nas universidades brasileiras. Existem na Casa pelo menos 16 propostas que buscam um tratamento mais rigoroso aos responsáveis por essa prática.
O deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) conclui um novo texto para ser votado, em caráter de urgência, no plenário, com base nessas propostas.
O projeto mais antigo sobre o trote violento tem 14 anos e está pronto para ser votado em plenário. No entanto, o que é visto como o mais provável de ser apreciado é um projeto que torna os dirigentes de instituições de ensino superior corresponsáveis pela recepção dos novos alunos. A proposta permite ainda que as universidades estabeleçam sanções contra a prática do trote violento.
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