Questão muito interessante levantada por um leitor sobre o ponto de vista que defendi na coluna "Foi na missa" (no dia 23). Afirmei que o uso da preposição "em", e não "a", em enunciados que indicam deslocamento, ir até um determinado local ou evento, é padrão na fala dos brasileiros, já chancelado pelos principais estudiosos da nossa língua; mais que isso, é a preposição usada sistematicamente por quase 200 milhões de falantes esse, sim, o principal argumento para se afirmar que se trata de uso correto.
O leitor, baseado nas lições de alguns importantes e, inclusive, bons instrumentos normativos do nosso idioma, questiona se enunciados do tipo "Nós fomos no baile de formatura" não estão dizendo que "baile" é um meio de transporte, como nesta frase: "Meu Fusca estragou, por isso fui no carro do meu colega".
A resposta, evidentemente, é não.
O argumento mais óbvio é que, ao contrário de "carro", "baile" não é meio de transporte, a não ser em linguagem figurada, em contexto muito específico. Não é nada crível que um falante, por mais que defenda o "a" como padrão na linguagem oral, entenda dessa forma. De zero a 1 trilhão, qual é chance de haver um mal-entendido entre dois falantes caso um deles use a preposição "em"? Se os dois tiverem o português como língua materna, nenhuma.
Uma questão central, também óbvia e sobretudo indispensável para toda análise de língua, é que os falantes não são meros espectadores que se põem no 40.º andar de um prédio e enxergam a língua passar lá na avenida, passivos e deslumbrantes. Eles são ativos, têm controle absoluto dos sentidos. A supressão dos falantes em análises desse tipo é um equívoco metodológico, um enorme atentado contra a razão e contra os brasileiros.
A língua é uma atividade humana, que se concretiza em relações reais. Dispensar isso de nossas considerações é correr o risco de se criar ficção. De péssima qualidade, aliás.
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