Bombeiros carregam corpos resgatados no Morro do Bumba, em Niterói, onde pelo menos 200 pessoas podem ter sido soterradas na noite de quarta-feira: falta de estrutura e burocracia dificultam identificação dos corpos e enterros| Foto: Sérgio Moraes/Reuters

Ondas de até 4 metros param o trânsito

Ondas de até quatro metros de altura chegaram à orla da zona Sul do Rio ontem e causaram a interrupção do trânsito e o alvoroço de curiosos em pontos turísticos da cidade, como Copacabana e o aterro do Flamengo, em frente ao Pão de Açúcar. A ressaca deve manter o mar agitado ao menos até hoje.

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Solo arenoso foi um dos fatores

Os deslizamentos em morros são facilitados por fatores como o desmatamento da região, a topografia do morro, e as características das construções e do solo. Quando esses fatores estão presentes, uma chuva forte pode terminar em uma tragédia. O solo do Morro do Bumba, em Niterói, é arenoso, o que significa que a água se infiltra mais facilmente por ele. Quando chove, o solo se desagrega, como se desmanchasse: separa-se da rocha e escorrega. É um movimento que tecnicamente se chama de "corrida de solo". Segundo o Serviço Geológico do Brasil, algumas situações identificam riscos: rachaduras nas paredes e pisos das casas, blocos de rocha soltos, água minando na base do barranco, árvores ou postes inclinados, muros de arrimo trincados e afundamentos na rua e quedas de rochas.

CEF libera FGTS para desabrigados

Moradores que perderam as casas nos temporais que atingem o Rio poderão retirar até R$ 4.650 do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A liberação dos recursos do FGTS, no entanto, não será imediata. O superintendente nacional da Caixa Econômica Federal (CEF), Elício Lima, destacou que a retirada depende da decretação de estado de calamidade pública ou situação de emergência pelos municípios, além do reconhecimento desse status pelo governo do estado e pelo Ministério da Integração Nacional. A CEF também anunciou a abertura de uma conta para auxílio às vítimas das chuvas no Rio. O número é 0199.006.2010-1. Os depósitos podem ser feitos em qualquer valor e em todas das agência da CEF, casas lotéricas, correspondentes bancários e pela internet, em nome da Defesa Civil Estadual.

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Desastres mataram em 211 cidades

Duzentas e onze cidades do Brasil registraram mortes por deslizamentos de terra entre 1988 e 2009, de acordo com o Ministério das Cidades. Quase 90% das ocorrências se concentram nas regiões Sul e Sudeste e duas cidades paranaenses aparecem na lista: Apucarana e Itaperuçu. Mesmo sem a descrição de cada tragédia, sabe-se que a maior parte delas se deve à ocupação de morros e encostas. Con­forme o Ministério e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não existem dados sobre o total de pessoas que vivem em áreas de risco no país, mas há consenso de que a ocupação é fruto de uma política habitacional falha.

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Rio de Janeiro - Um levantamento divulgado ontem pela Defesa Civil do Rio de Janeiro deu uma dimensão da tragédia causada pelas chuvas que afetam o estado desde segunda-feira: 212 mortos e pelo menos 50 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas. Ontem, 26 corpos foram resgatados no Morro do Bumba, em Niterói, onde houve um deslizamento na noite de quarta-feira, e 16 deles aguardavam reconhecimento para liberação. O Corpo de Bombeiros estima que 150 pessoas ainda estejam soterradas.

Com a tragédia, as autoridades passaram a usar a garagem de uma empresa de ônibus, no pé do morro, como necrotério improvisado. A ideia é acelerar os enterros. "Temos hora para começar, mas não sabemos quando vamos terminar. Funcionaremos em diversos turnos, para que o serviço esteja disponível 24 horas", disse o coordenador-geral da Defensoria Pública do Estado, Petrúcio Malafaia.

Antes da implementação do IML improvisado, os corpos estavam sendo divididos entre os necrotérios de Niterói e do Rio. O corpo do tio do motoboy Alan Silva, por exemplo, foi enviado para a capital. Ele não sabia como iria fazer para reconhecê-lo, já que todos os documentos da família ficaram soterrados na área do desabamento. "Como vou provar que ele é meu tio?", indagava.

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Desde a manhã de ontem, uma fila de vítimas do desabamento já se formava no entorno da garagem. Além do reconhecimento dos corpos, o serviço de emissão de segunda via de documentos era um dos mais aguardados.

Para acelerar os sepultamentos, a Polícia Civil enviou dez servidores ao local, entre peritos e papiloscopistas, para trabalhar na liberação dos corpos. Da garagem os corpos seguirão direto para o Cemi­tério de Maruí, onde a prefeitura de Niterói liberou enterros gratuitos para os familiares das vítimas das chuvas. O prédio do IML de Niterói está fechado há dois anos.

A falta de documentos dificulta o reconhecimento de corpos das vítimas. Para dar assistência jurídica às famílias e pedir alvarás para sepultar os corpos que não podem ser identificados, a Defensoria Pública do Rio destacou um plantão de defensores. Eles ficarão durante todo o fim de semana no IML.

Niterói entrou em colapso depois de segunda-feira: o Hospital Azevedo Lima, o único em que o Setor de Emergência funciona, não tem mais leitos disponíveis. No Hospital Universitário Antônio Pedro, o pronto-socorro está fechado há três anos. Moradores do Morro do Céu, próximo do Morro do Bumba e também construído sobre um antigo lixão, disseram que várias casas estão afundando e uma igreja desabou à tarde. Ninguém ficou ferido.

Áreas de risco

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O prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou ontem que, se for preciso, a prefeitura poderá chamar a força policial para retirar as famílias das áreas de risco. "Prefiro uma pessoa com raiva de mim na rua, mas viva, do que uma pessoa feliz porque a prefeitura deixou ela ficar nessa área, mas morta depois por causa de um deslizamento", disse. O governador Sérgio Cabral também defendeu as remoções, mesmo à revelia dos moradores.

Já o Ministério Público (MP) estadual instaurou inquéritos civis para apurar a implementação e a regularidade de plano de identificação, monitoramento e contenção de áreas de risco por parte do poder público nos municípios. O MP quer identificar problemas de drenagem urbana, controle de ocupações e áreas de risco e à destinação do lixo. Também será apurada a responsabilidade dos agentes públicos nos desastres e fiscalizados os contratos e recursos que serão usados na reestruturação dos locais atingidos.

As Forças Armadas auxiliarão no socorro às vítimas das chuvas com homens e dois hospitais de campanha, que serão montados em São Gonçalo para atender os feridos. Militares do Exército e da Marinha também auxiliarão no resgate dos corpos soterrados em morros.