O curitibano nunca foi tão assaltado como no início deste ano. É o que revela um levantamento feito pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp). No primeiro trimestre de 2007, ano em que a estatística começou a ser divulgada periodicamente, o número de roubos na capital era de 3.747 em Curitiba. Em nove anos, o registro deste tipo de crime, caracterizado pelo uso de violência ou de grave ameaça, mais do que dobrou, tendo crescido 129%.
Entre janeiro e março de 2016 foram 8.569 ocorrências – um aumento de 14% em relação a 2015 ( veja infográfico). O dado engloba todos os tipos de roubo – residencial, ao comércio e de veículos. Atualmente acontece um assalto a cada 15 minutos na capital. Em números absolutos, o Centro é o bairro curitibano que mais registra roubos, seguido por Cidade Industrial e Sítio Cercado. O aumento na região central entre 2015 e 2016 foi maior que a média da cidade inteira: 24%.
Ainda no primeiro trimestre de 2016, a Sesp verificou aumento nos casos de furto (quando não há emprego de violência) e roubo a residência – 9% e 11%, respectivamente. O dado real, porém, pode ser maior. É que, historicamente, crimes contra o patrimônio são subnotificados pela falta de fé na polícia. A população deixa de registrar, principalmente, furtos e pequenos roubos.
Hipóteses para o avanço do crime
Especialistas em segurança pública elencam hipóteses que podem explicar o aumento de roubo em Curitiba. Entre elas, a ação de organizações criminosas articuladas na cidade e a desestruturação das Polícias Militar e Civil que, há algum tempo, passam por dificuldades como viaturas paradas em manutenção e presos em delegacias por falta de vagas no sistema penitenciário.
Segundo o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos da Violência e Direitos Humanos da UFPR, o aumento do roubo pode ser consequência da sofisticação das quadrilhas nos últimos anos. A violência ou grave ameaça é cada vez mais empregada para driblar o aumento de segurança privada e as estratégias policiais.
“Nos últimos anos houve um crescimento de prisão por furto e roubo na cidade. Será que essas pessoas, ao passarem pela escola do crime, não assumiram compromisso com uma facção criminosa? É uma hipótese”, indagou Bodê, ao mencionar a presença de uma facção criminosa paulista que atua nos presídios do Brasil. O Paraná, de acordo com informações oficiais do Ministério Público de São Paulo, é o segundo estado do país com mais integrantes da facção.
Para o ex-secretário nacional de Segurança Pública, coronel da reserva paulista José Vicente da Silva, é provável que o trabalho de acompanhamento dos crimes pelos policiais não tenha sido feito da maneira correta. “O crime não aumenta pela competência do bandido, mas pela incompetência da polícia. Algumas unidades devem precisar ajustes de recursos. É preciso colocar a régua para ver. Quando mede a incidência por policial, é possível ver a carga que o distrito ou a unidade da PM atende. Segurança pública é gestão. Tem que dar uma estrutura e cobrar os resultados”, ressaltou.
A falta de informação
Os dois especialistas concordam que é preciso priorizar uma campanha que faça a população denunciar os crimes contra o patrimônio. Em casos de furto, isso já é facilitado pela delegacia eletrônica. O roubo, no entanto, é preciso ser registrado em uma delegacia ou após chamar a PM. A subnotificação gera dificuldades nas investigações.
“O ideal é a polícia ampliar a forma de registro. Tem que fazer um cuidadoso registro de cada um dos casos. Ela precisa pedir o máximo possível sobre descrição, incentivar o registro. Funciona como um quebra-cabeça, quanto mais informações ou peças será possível ter um quadro melhor sobre o que está acontecendo”, sugeriu o coronel.