Convento de Salvador: restauro cheio de entraves| Foto: João Ramos/Bahiatursa/S. Francisco

Os 15 conventos franciscanos da região Nordeste do país compõem o que o historiador francês Germain Bazin definiu como "uma das criações mais originais da arquitetura religiosa no Brasil’’. Ao contrário das outras ordens, que construíam seus prédios seguindo o modelo europeu, os franciscanos da região desenvolveram soluções inéditas de arquitetura. As igrejas geralmente têm uma torre única que fica recuada da fachada. Os pátios internos possuem um segundo andar avarandado e alguns deles trazem esculturas com motivos tropicais.

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São construções com mais de 400 anos e um acabamento riquíssimo. O Convento de São Francisco, em Salvador, tem o segundo maior conjunto de azulejos portugueses do mundo e tem a sua igreja coberta de ouro.

Todos os 15 conventos são tombados individualmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Agora, o instituto pleiteia um tombamento do conjunto como patrimônio mundial pela Unesco. Segundo o órgão, isso poderia chamar a atenção para o valor artístico e histórico dos monumentos, atrair investimentos e remediar uma crise delineada nas últimas décadas.

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Boa parte dos conventos está em situação precária de conservação. Na Bahia, o de São Francisco do Conde tem áreas que ameaçam ruir. O de Cachoeira está em ruínas.

A subutilização é uma regra. Os franciscanos não conseguem preenchê-los já que a ordem, que não é a mesma do Sudeste, tem apenas 161 missionários. A visitação turística na maioria deles é pequena. As obras de restauração são sempre bancadas pelo governo.

O convento de Salvador tem 70 quartos e 22 frades. Em 2006, seus painéis de azulejo foram cobertos com gaze porque a parte vitrificada ameaçava despregar. Na época, o técnico do Iphan pediu obras emergenciais em 90 dias. Nada foi feito.

Além de o restauro ser caro (neste caso, cerca de R$ 5 milhões só para os azulejos), é difícil conciliar os interesses do Iphan e dos religiosos. O instituto quer que os frades estimulem a ocupação turística dos templos, tornando-os autossustentáveis. "Os franciscanos têm de viver para os pobres. Não podem viver em função dos conventos’’, diz o frei Hugo Fragoso, historiador que pertence à ordem.

O Convento de Cairu, a 300 quilômetros de Salvador, está passando por um restauro que vai recuperar pintura, azulejos e douramento original. O custo da obra é de R$ 10 milhões. O Iphan queria fazer dali uma pousada, gerida pelos franciscanos, já que a falta de uso acelera a degradação do prédio. Mas a ideia não vingou. Hoje moram dois frades no convento com 12 quartos. Na semana passada, eles receberam 20 turistas. O ingresso custa R$ 2. Os frades complementam sua renda criando galinhas.

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