Opinião
Diálogos musicais na noite curitibana
Arrigo Barnabé assusta. O músico paranaense, que se apresentou já na madrugada de domingo ao lado da Orquestra à Base de Sopro, só não fez chover ao recriar ao vivo o álbum Clara Crocodilo (1980), marco da chamada Vanguarda Paulista. O show foi o mesmo que aconteceu em junho do ano passado no Teatro Guaíra, mas o clima era outro no palco da Rua Riachuelo.
Alguns fãs maisexaltados vibravam com a interpretação de Arrigo, vestido com uma espécie de sobretudo preto. Loucamente competente, o artista se recriava a cada instante. A interação com a orquestra era máxima.
Todas as oito faixas do álbum foram executadas. "Orgasmo Total" e "Diversões Eletrônicas" fizeram parte do público cantar, popularizando seu conceito musical baseado no dodecafonismo.
A aproximação do popular com o erudito, marca já bastante presente na obra de Arrigo, talvez tenha se consolidado com a apresentação que fez durante a Virada Cultural. Pois não é todo dia que se vê um bom público pedindo bis para um artista tido como experimental. "Sabor de Veneno" encerrou a apresentação, uma das melhores do evento, já perto das duas da manhã do domingo.
Cristiano Castilho, repórter da Gazeta do Povo.
Por 29 horas seguidas, Curitiba foi uma outra cidade. "Até me espantei com tanta gente nas ruas. Diversão, cultura e segurança para caminhar pelo centro. Gostaria que fosse sempre assim." A frase da publicitária Alessandra Moretti define o que foi a Virada Cultural, que teve início ao meio-dia do sábado e terminou ontem, por volta das 17 horas, quando Erasmo Carlos encerrou sua apresentação no Palco Riachuelo, em frente do Paço da Liberdade.
Ao todo, a programação gratuita da Virada atraiu 200 mil pessoas aos vários palcos espalhados por diversos pontos da cidade. A estação montada na Praça Generoso Marques foi a que atraiu mais gente, contou com a presença de aproximadamente 45 mil pessoas ao longo dos shows. Neste ponto, o público superou a expectativa da organização da equipe do Sesc Paraná, que previa 30 mil nas apresentações de Paulinho da Viola, Sandrá de Sá, Arrigo Barnabé, MartNália e Erasmo.
"Estamos cumprindo o objetivo do Paço, que é trazer a população para o centro. A Virada prova que é possível revitalizar a região central por meio da cultura", diz Daniel Ferrarezi, do Sesc. A informação do público presente é da Fundação Cultural de Curitiba que, em parceria com o Sesc-PR, viabilizou o evento. De acordo com a Polícia Militar, não houve nenhum caso de ocorrência grave.
Às 11 horas de ontem, centenas de jovens pulavam ao som da banda curitibana Copacabana Club, no Palco Ruínas, no Setor Histórico. Uma hora depois, em frente ao Paço da Liberdade, aproximadamente 5 mil pessoas, de todas as idades, balançavam ao som das canções da MartNália.
O Panelaço, mostra de bandas independentes realizada no sábado, foi outro ponto alto da Virada. Desde então, o Teatro Universitário de Curitiba (TUC) passa a se chamar Sala Ivo Rodrigues, nome do vocalista da banda Blindagem, falecido neste ano. O conjunto, agora com Rodrigo Vivazz nos vocais, deixou muitos olhos marejados ao tocar canções como "Sou Legal, Eu Sei" e "Não Posso Ver". O Terminal Guadalupe, projeto musical de Dary Jr, foi responsável por um dos shows mais intensos do Panelaço. Mas os acreanos do Los Porongas e os goianos do Violins foram os mais aplaudidos da mostra alternativa.
O ponto baixo da Virada foi a apresentação de Hermeto Pascoal com a Orquestra Sinfônica do Paraná, na Praça da Espanha, às 15h30 de sábado: não houve "química" entre os improvisos de Pascoal e a sua esposa, Aline Morena, com a orquestra. Por outro lado, as apresentações de Felixbravo, Janaina Fellini e Molungo no Bicicletário, no Centro Cívico, figuram entre os destaques da maratona cultural. A Virada foi bem-sucedida e prova que, para fazer das ruas da cidade um ponto de encontro da população, basta um projeto cultural.
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