“Daqui a pouco a ferida fecha e peço perdão para a família da vítima”. O desabafo é do coronel da reserva Edivaldo Camelo da Costa, que informou à Divisão de Homicídios que o irmão, Edvaldo Camelo da Costa, era o homem que aparecia nas imagens da estação Uruguaiana do metrô matando, com dois tiros, um homem na fila da bilheteria. Ele se sente culpado de certa forma pelo crime por ter resgatado o irmão em uma favela, há quatro meses, onde passava frio e fome.
“Se eu pudesse voltar atrás eu não teria ido resgatar ele (na favela). Ia fazer o que sempre fiz, não ia querer saber dele. Se eu tivesse deixado esse cara largado, rasgado, ao relento, ele ficaria lá. Será que o fato de eu ter dado oportunidade e trabalho não acabei ajudando ele a se articular?”, questionou.
E devolve a pergunta. “Você, no meu lugar, ajudaria ele? Faria de novo tudo que fez? Dá para se arrepender e se sentir um pouco culpado. Ele matou um inocente”, desabafou.
O coronel conta que, após ter denunciado o irmão, vem recebendo muitas mensagens de familiares criticando o seu ato. “Eles questionam como eu posso ter entregado o meu próprio irmão. Tento explicar que o cara não roubou uma galinha. Matou um homem, um fato grave. Ele mostrou que não tem como conviver com a sociedade”, diz.
Edvaldo critica a decisão judicial que colocou o irmão em liberdade. “Eles são estudiosos da mente humana, mas a psicóloga do presídio tem que fazer uma reciclagem. Ela disse no relatório que meu irmão estava pronto para sair do presídio, que tinha mudado. Eu vi o questionário. Ela (a psicóloga) não percebeu que era uma farsa, uma fantasia. Como profissional ela tinha que ter percebido isso”, argumenta.
Ele conta que o irmão pratica crimes há muitos anos, uma dor que os pais carregam em silêncio. “Só meus irmãos acreditavam que ele poderia se recuperar. Meu pai nunca acreditou e nunca quis saber dele. Uma vez, chorando, me contou que, numa conversa, ele teria dito que “ agora era bunda de fora ou calça de veludo”, que não tinha mais jeito, que era bandido mesmo, que ia assaltar. Isso foi nos anos 1990”, contou. “Morávamos num cortiço, e meu pai sempre foi um homem honesto. Como ele ficou assim, não sei. Não me pergunte que não sei”, acrescentou.
Desde sexta-feira, quando reconheceu o irmão como o autor do crime, que o coronel não dorme e nem se alimenta direito. “Ainda não estou conseguindo dormir, e não consigo me alimentar direito. Mas daqui a pouco a ferida fecha e peço perdão para a família da vítima. Tenho dois filhos, que me apoiam, e minha mulher. Isso é que importa. Cumpri minha obrigação de cidadão, nem a de polícia, mas a de cidadão”, dasabafou.
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