Colegas e quadrinistas lamentam a morte do cartunista Glauco Villas-Boas. O artista e seu filho, Raoni, foram baleados em sua casa em Osasco, na Grande São Paulo, na madrugada desta sexta-feira (12).
Caco Galhardo, quadrinista - "Todo mundo está muito chocado. O Glauco é um grande talento que perdemos subitamente. Para todos os cartunistas foi uma grande referência. O Geraldão é uma grande referência e o Glauco era um cara pacífico. Como alguém pode fazer uma coisa dessas? O atirador não tem noção. O Glauco era um gigante. Ele tinha o dom de repetir a mesma piada e ser engraçada dez mil vezes. O mundo acordou mais xarope hoje."
Adão Iturrusgarai, quadrinista - "É uma tragédia. Não é ler que o Glauco morreu. É ler que ele foi assassinado. E junto a um filho. Não fomos amigos tão próximos, mas estou bem chocado. É muito triste ver isso acontecendo. Não existe mais ética moral no ser humano. Hoje em dia, um ladrão não te assalta com um 38 - ele entra na sua casa com um fuzil. A violência virou uma epidemia de falta de moral. Algo que começa em Brasília e se estende pela sociedade. Ele foi uma influência muito forte, poderosa. Tenho desenhos que fiz na década de 80 que são muito parecidos com os do Glauco, uma coisa meio Henfil, caligráfica, típica de quem não sabe desenhar muito bem. Vai ser um dia de m...."
Toninho Mendes, editor - "Com ele morre uma parte do que esse país tinha de alegre, respeitoso, diferente e em busca do futuro. Estou sem condições de falar. Você não imagina o meu estado de transtorno. A gente trabalhou juntos na Circo, por quase dez anos. Eu não consigo acreditar no que está acontecendo."
Lula, presidente da República - "Glauco foi um grande cronista da sociedade brasileira, entendia os usos e costumes da nossa gente e expressava isso com inteligência e humor. (...) Foi uma perda tremenda. Diante dessa verdadeira tragédia, quero expressar meu sentimento de pesar a familiares, amigos e admiradores."
Maurício de Sousa, quadrinista - "Como eu disse no primeiro momento, no Twitter, o fato é tão chocante que nossa reação não pode ser medida em palavras, mas em um sentimento de dor, luto e desesperança. Apesar disso, nós sairemos do choque. E vamos encontrar caminhos, mesmo que sejam longos, demorados, para contermos essa onda de irracionalidade e desumanidade. Famílias bem formadas, educação, fé em Deus, justiça social serão alguns dos pontos por onde passará o caminho do respeito à vida. Vamos lutar para isso. Como tributo ao Glauco e ao Raoni." Fernando Gonsales, quadrinista - "É um acontecimento muito triste. Ele era um cara muito legal e que fará muita falta. Eu acho que o trabalho dele, de um jeito ou de outro, influenciou a minha geração. Ele deu uma escrachada que revolucionou. É assim que o vejo: como um dos grandes revolucionários do humor brasileiro."
Allan Sieber, quadrinista - "Eu infelizmente nunca cruzei com ele, era o único que não conheci pessoalmente da turma dos Los 3 Amigos. Mas segundo os chegados, era um gênio da resposta rápida, muito rápido no gatilho mesmo. Eu - e creio que toda minha geração - fui muito influenciado por aquela cena paulista que o Toninho Mendes agregou ao redor dele, como Angeli, Glauco e Laerte. E o Glauco foi o que introduziu um elemento anárquico muito saudável nessa turma. Vai fazer falta." Gabriel Bá, quadrinista, no Twitter - "Que m... O Glauco foi morto a tiros em casa! Um filho também morreu! Que b...!
Arnaldo Branco, quadrinista - "O Glauco era o batedor que ia na frente testando os limites pra todo mundo que vinha atrás. Sempre ficava impressionado como o cara falava abertamente de sexo e drogas ainda na vigência da censura (velada, que fosse). Fazia humor urgente, em estado bruto."
André Dahmer, quadrinista - "O Glauco participou do renascimento dos quadrinhos brasileiros nos anos 80. Tinha um quadrinho de traço único, feroz, vivo. A notícia veio como um soco na barriga, mais um para virar estatística em tempos de banalização da vida. Não sei o que pensar."
Orlando, cartunista - "Glauco veio de uma rota de destruição, muito ferrada, e conseguiu colocar a vida no prumo, se ajeitar. Encontrei ele pouco tempo atrás, estava superbem. O boom do trabalho dele foi em 78 ou 79 no Viralata, seção de humor publicada no Folhetim, suplemento da Folha que saía aos sábados. Ele apareceu com um humor absolutamente inusitado, ninguém fazia aqui, traço super solto."
Jal, cartunista - "Ele tinha uma proximidade muito grande com o Henfil, chegaram a morar juntos no Rio Grande do Norte. Dava pra notar essa influência claramente no desenho dele. Infelizmente a violência leva mais um. O Glauco era um cara que trabalhava muito bem essa coisa do diálogo, da paciência. Não era um pitbull. Era um cara que buscava a paz."
Spacca, cartunista, em seu site - "Glauco era uma figura. Trabalhamos lado a lado, desde que entrei para a Folha em 1985. A partir de 86 comecei a fazer charge política, e alternamos naquele espaço até 92. Glauco era um dos "filhos do Henfil", jovens cartunistas que durante um tempo cresceram sob as asas do mestre mineiro (os outros eram Nilson e Laerte).Ele conservava a irreverência e a rapidez do traço do Henfil, mas aquilo era dele. A genialidade era dele. Tinha um humor maroto, meio caipira, que era dele mesmo, e da família dele e da cidade dele, Jandaia do Sul no Paraná. Glauco me dizia que na cidade dele todo mundo era engraçado, o barbeiro, todo mundo. Num lançamento em que vi a família dele, tive essa impressão, eram bem gozadores e moleques, tinha que ficar esperto."
Associação Brasileira de Cartunistas - "Glauco, companheiro de sempre de Laerte, Angeli, Toninho Mendes e Adão Iturusgarai nos quadrinhos. Seus personagens satirizavam as relações de uma geração perdida entre as questões comportamentais e instintivas do ser humano. Usava o humor como arma de anteparo à violência. Foi uma das 'crias' de Henfil. Seu filho Raoni também escolheu ser cartunista e trabalhava com o pai. A notícia de uma execução sumária em um assalto é quase que sem nexo diante de alguém que justamente lutava contra isso. Fica a lembrança de um amigo que fez de sua vida uma história de sucesso no humor gráfico do país. E o compromisso de continuarmos na batalha de enfrentarmos a violência de nossos dias com o que melhor sabemos fazer- o humor. Salve Glauco. Salve Raoni."
Lourenço Mutarelli, quadrinista "Os três, (Glauco, Angeli e Laerte) são os quadrinistas mais importantes do país, os caras que mais me motivaram. É uma puta perda, um tipo de morte muito absurda. Glauco era um cara muito importante, com um trabalho único. Foram eles que me incentivaram a conseguir um espaço nos quadrinhos, e influenciaram toda a minha geração."
João Montanaro, quadrinista, no Twitter - "Dia ruim para os quadrinhos e para o Brasil. Quando criança eu copiava os desenhos do Glauco. Fiz o ( personagem) Doubli pensando no Glauco e no Calvin."
Chico Caruso, cartunista - "Era um cara bem engraçado, esperto, com um trabalho sempre jovem. Ele foi o primeiro a publicar genitália desnuda em um grande jornal. Aquela secretária, a Dona Marta, o Geraldão, são personagens geniais! Que tragédia, perdemos um grande talento do humor."
Juca Ferreira, ministro da Cultura - "Glauco encarnava uma soma de qualidades tão rara a ponto de parecer ficcional: o anarquismo explosivo que marcava os personagens desenhados num cubismo aparentemente simples; a doçura no trato com as pessoas; e a condição de fundador de uma igreja do Santo Daime. Essa sua natureza se choca de maneira inexplicável com a morte violenta dele e do filho --pelo que transmito meu abraço de conforto à família e aos amigos."
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