| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

O transporte público de Curitiba, que está em meio a uma batalha entre prefeitura e empresas concessionárias – as quais alegaram não ter caixa para pagar salário e 13.º de seus funcionários – vive uma crise de identidade. De modelo para o país e o mundo nas últimas décadas do século 20, o sistema virou foco constante de conflitos urbanos, com o agravante de perder usuários ano após ano. Essa é uma tendência nacional, mas chama a atenção a pouca atratividade do ônibus na capital paranaense em comparação com outras do país.

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Infográfico: comparações entre Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte

Isso é possível verificar ao se relacionar a população local com o número de passageiros pagantes equivalente (PPE) – que faz uma ponderação entre os que pagam e os que se beneficiam de isenções. Na média diária, há 630,6 mil passageiros pagantes equivalente em Curitiba, ou 33,6% de sua população. Em Porto Alegre, o PPE chega a 38,9% do número de habitantes e, em Belo Horizonte, a 43,1% da população. A reportagem considerou os dados mensais, referentes à malha urbana, e fez a divisão por uma média de 30 dias.

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Outro lado

Para a Urbs, a comparação de dados do transporte público com outras cidades é algo complexo e não leva em conta as particularidades de cada sistema. A Urbs disse ainda que os dados sobre contratos, frota, custo da tarifa e repasse feitos às empresas via Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC) e vários outros estão disponíveis em seu site e que o nível de transparência é mais alto que o de outras capitais. A Setransp, por sua vez, informou que apresenta todas as demonstrações contábeis para a Urbs mensalmente e que não se opõem a apresentar informações, “pois esse é o caminho para provar que operam o sistema com prejuízo”.

Isso não exime as outras cidades de também enfrentarem problemas nos seus sistemas de transporte. O Índice de Passageiros Transportado por quilômetro rodado (IPK) de Porto Alegre, está em 1,73, menor do que o de Curitiba, de 2,19. Em Belo Horizonte, a relação é melhor: 2,62. Quanto maior o IPK, mais sustentável é o sistema.

A tendência observada em todo o Brasil, porém, é mesmo de queda. A capital paranaense já registrou IPK de 3 em 1995, mas gradativamente foi perdendo usuários. Em Porto Alegre, o dado mais antigo mostra IPK de 2,17 em 2004.

Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Curitiba e região (Setransp), a situação teria se agravado com a desintegração financeira entre linhas urbanas e metropolitanas a partir de fevereiro deste ano. A Urbs diz que a queda é um processo histórico e ressalta que a mudança impactou apenas no gerenciamento da Rede Integrada (RIT), que passou para as mãos da Comec, órgão do governo estadual.

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O que foi então que levou o caos ao sistema, que passou por paralisação parcial do serviço na terça-feira (1.º) e está na iminência de uma nova greve na próxima terça (8)? Segundo especialistas que acompanham o assunto, a raiz dos problemas atuais está na licitação do transporte, realizada em 2010. “As empresas usam dados teóricos previstos no edital e no contrato para afirmar que não têm dinheiro, mas os parâmetros utilizados já eram todos defasados e não refletem o custo atual”, observa Valdir Mestriner, presidente do Sindiurbano. Para o economista Fabiano Camargo da Silva, do Dieese, é preciso mais transparência no sistema, controle social e mudanças nos parâmetros usados no edital.