Denúncia
MST ajudou a apontar casos de desmate
O Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) montou um dossiê, recheado com informações e 24 denúncias de crimes ambientais, e entregou à Polícia Federal em maio deste ano. Técnicos do Incra, assentados e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) teriam indicado casos de desmatamento no Celso Furtado.
A imensa área de reflorestamento que há no complexo de quatro assentamentos pertence ao Incra e os assentados não têm direito de corte. "Autorizamos apenas a derrubada para a abertura de estradas, para a passagem da rede de energia elétrica e para moradias. O restante pertence à União", argumenta Claúdia Sonda, superintendente estadual do Incra. Por isso, mesmo os carregamentos com madeira plantada, como pínus e eucalipto, são considerados como furto. Algumas madeireiras funcionavam dentro do assentamento Celso Furtado e foram interditadas ontem.
Segundo Cláudia, o Incra estaria preparando alternativas de renda para as famílias que estão em lotes totalmente cobertos por floresta e estão impedidas de plantar. O Incra investiu R$ 132 milhões, na maior transação já realizada no Brasil para a reforma agrária, para a compra da fazenda. (KB)
Quedas do Iguaçu - A maior ação de combate a crimes ambientais já realizada no Sul do Brasil teve como foco o maior assentamento de reforma agrária do Paraná. Ontem foi deflagrada a Operação Tolerância Zero, cuja magnitude transparece em números: participaram 240 policiais federais (de quatro estados), 258 policiais militares, 28 servidores do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) e 23 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Um helicóptero e 180 viaturas percorreram 12 munícipios das regiões Sudoeste e Oeste do estado. Foram apreendidos 107 caminhões com madeira de corte ilegal, 15 pessoas foram presas e 35 madeireiras foram interditadas.
Durante seis meses de investigação, a Polícia Federal identificou assentados envolvidos em desmate ilegal, pessoas que fingiam fazer parte de assentamentos para desmatar e gente que aproveitava e aproveita a vastidão da área para tirar madeira clandestinamente. Apesar de monitorar o corte, o foco da apuração foi apontar os compradores da madeira, que ganhavam muito dinheiro com o comércio ilegal e alimentavam o sistema. Policiais infiltrados chegaram a negociar a compra e venda de madeira. "Assim conseguimos saber como o esquema funcionava, quem eram os principais comerciantes e como esquentavam a documentação com notas fiscais e autorizações falsas", conta o delegado da Divisão de Repressão aos Crimes Ambientais, Rubens Lopes da Silva.
Assassinatos
A pressão exercida pelos coordenadores das atividades ilegais muitas vezes teria forçado assentados a participar do esquema da venda de madeira, conta o delegado. "Chegavam, armados, e perguntavam se o morador queria vender. E ainda completavam: Acho melhor você vender", diz, enfatizando a coerção. Algumas cargas eram negociadas por menos de 10% do valor de mercado. A polícia investiga se dez assassinatos ocorridos nos últimos anos na região teriam relação com o conflito madeireiro. "Os crimes ali são praticados com desenvoltura. É como um morro carioca, mas plano. Era um espaço onde o Estado não podia entrar", relata.
A Justiça concedeu 29 mandados de prisão temporária. "Não são apenas esses os envolvidos. Os mandados são para os casos mais graves", salienta o delegado. Pelo menos dois vereadores de cidades do Sudoeste foram relacionados com atividades ambientais irregulares. Os detidos foram levados para a delegacia da Polícia Federal em Cascavel, onde prestaram depoimento, e depois encaminhados para espaços provisórios cedidos na Penitenciária Federal de Catanduvas. A relação com o nome dos presos e dos fugitivos e o balanço final da operação devem ser apresentados hoje.
A assessoria do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, confirmou que ele acompanhará algumas ações da operação na manhã de hoje, quando a operação deve ser encerrada. A Tolerância Zero utilizou o dobro da estrutura que foi usada para a Angustifólia na região Centro-Sul, em junho deste ano. Entre os investigados pela PF estão pessoas que foram identificadas em operações anteriores e migraram depois que a repressão foi intensificada.
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