Empresária diz que mandado equivocado foi cumprido em seu escritório
A empresária Cristine Silvério, foi até o Gaeco, no fim da manhã, e reclamou que foi cumprido mandado de busca e apreensão no escritório da empresa de eventos que ela possui de maneira equivocada. Ali, segundo ela, morava um dos investigados, mas que se mudou havia mais de um ano. Segundo Cristine, o mandado foi cumprido de forma arbitrária, porque reviraram a casa inteira dela, apreenderam todos os equipamentos dela e que ela não pode trabalhar sem esses aparelhos. A empresária diz ainda que contas que ela precisa pagar foram levadas pelos policiais.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou uma operação nesta terça-feira (10) para prender vários policiais civis e militares suspeitos de envolvimento com o jogo ilegal no caso que ficou conhecido como "mansão cassino". Entre os presos pelo Gaeco está o ex-delegado-geral da Polícia Civil Marcus Vinicius Michelotto.
O local foi estourado por policiais que faziam protestos contra a diretoria da Polícia Civil em janeiro de 2012. A inesperada batida policial em uma mansão que funcionava como cassino no bairro Parolin, em Curitiba, iniciava uma guerra interna na corporação.
Veja fotos da operação do Gaeco em Curitiba
A operação desta terça-feira é coordenada pelo Gaeco, que integra o Ministério Público (MP-PR), e conta com o apoio das corregedorias da Polícia Civil e da Polícia Militar. Em nota, o MP-PR informou que todas as ações estão sob "segredo de Justiça por determinação judicial, para garantir a eficácia das investigações". Por conta disso, poucos detalhes foram revelados.
Além de Michelotto, outro delegado foi preso: Geraldo Celezinski, que, à época em que o cassino foi descoberto, era titular do 5º Distrito Policial. Os dois delegados tiveram decretadas suas prisões temporárias, por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Eles ficarão detidos no Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da Polícia Civil.
Pela manhã, os presos na operação eram levados à sede do Gaeco, onde prestaram depoimento. Ao longo de todo o dia, foi grande a movimentação no local. O coordenador do órgão, Leonir Batisti deixou o prédio por volta das 16h30, dirigindo um carro oficial do Gaeco. Ele permaneceu com os vidros fechados e não respondeu às perguntas dos jornalistas, que se aglomeravam diante da sede.
Repercussão
Os advogados Rodrigo Sánchez Rios e Marlos Arns, que representam Michelotto, disseram que vão tomar medidas judiciais para fazerem valer os direitos do ex-comandante da Polícia Civil. Durante a tarde, eles examinavam o teor dos pedidos de prisão, expedidos pela Justiça. Sanchéz Rios avaliou que, como a investigação diz respeito a um fato já ocorrido, a detenção é desnecessária.
"Se é um fato pretérito, a necessidade de prisão de esvazia. Não há necessidade. Ele tem endereço fixo, é um servidor público exemplar. Então não haveria necessidade disso", disse o advogado.
O presidente do Sindicato dos Delegados do Paraná (Sidepol), Cláudio Marques esteve presente no Gaeco e foi um dos primeiros a confirmar a prisão de Michelotto. "Acho muito estranho se for isso [investigação relacionada ao caso mansão cassino]", disse, se referindo ao fato de a instigação da operação ser um caso antigo.
"A questão da prisão do Michelotto parece que se tornou uma coisa pessoal entre ele e o Gaeco. E o Gaeco quer fazer investigações, mas não tem estrutura e não tem coragem de investir nisso." Segundo ele, o Gaeco não teria coragem de fazer investigações "no que realmente importa, que é o crime organizado."
O advogado Milton Miró Vernalha Filho, do Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), classificou a ação do Gaeco como sendo um "show midiático". "Tudo indica que há uma usurpação da função pública por parte do Gaeco. Parece que é um projeto político do Gaeco para tomar a Polícia Civil para si. Se trata de um show midiático para atingir o secretário e o governador."
O delegado Rubens Recalcatti, titular do 1º Distrito Policial de Curitiba (1ºDP) foi ao Gaeco para visitar os delegados presos. Ele também confirmou que se tratam dos delegados Michelotto e Celezinski. Recalcatti disse que os dois estão bem e tranquilos.
O caso "mansão cassino"
Em 27 de janeiro de 2012, sem a presença de um delegado, policiais civis invadiram a mansão no Parolin, prenderam três pessoas e apreenderam 40 máquinas de caça-níqueis. A operação teria sido um protesto dos policiais pela aprovação do Estatuto da Polícia Civil. No início da tarde daquele mesmo dia, o comando da corporação classificou a operação como "miliciana e política".
De acordo com denúncia recebida pelos policiais que fizeram a operação sem o conhecimento do comando, a mansão funcionava todos os dias da semana, do início da noite ao amanhecer, com "movimentações de carros, motos e pedestres". O registro feito por eles à época descrevia o local como abrigo para tráfico de drogas, exploração sexual de adolescentes, jogos de cartas e exploração de caça-níqueis.
O resultado da operação foi uma crise institucional: o delegado-chefe da Polícia Civil, Marcus Vinicíus Michelotto, classificou os agentes envolvidos na ação de "milicianos"; já os policiais cravaram que a corporação passa por uma "crise de moralidade".
Cerca de um ano depois, apesar da existência de suítes luxuosamente decoradas no local, uma investigação da Polícia Civil concluiu que não havia exploração sexual na mansão cassino. A instituição, em fevereiro de 2013, ressaltou que o local era frequentado por idosos. A investigação também teria concluído que não houve o envolvimento de qualquer policial civil na exploração do jogo na mansão.
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