Origem
Investimento público é predominante
A proporção dos investimentos públicos e privados mostra que, ao longo da década, houve um descolamento das duas fontes, com o governo passando a assumir a maior parte dos aportes. Em 2002, União e empresas se equivaliam no volume de investimentos: o primeiro destinou R$ 2,9 bilhões e o segundo, R$ 2,6 bilhões. Mas, a partir do ano seguinte, o dinheiro público nas estradas cresceu 700% em oito anos, enquanto as aplicações privadas se mantiveram estáveis. Os números não abrangem aplicações feitas pelos estados. Apesar disso, o gasto dos dois setores é proporcional à quilometragem sob sua responsabilidade. As concessionárias detêm 8,6% da malha pavimentada nacional, enquanto o governo federal é responsável por 33%.
Parceria
Alternativa é recorrer ao capital privado
Na busca por formas de financiamento para as estradas brasileiras, as Parcerias Público-Privadas (PPPs) surgem como opção mais adequada. Segundo o Ipea, o modelo de concessões realizado desde os anos 1990 no país está esgotado. Estudos mostram que os trechos que ainda podem despertar interesse da iniciativa privada somam, no máximo, mais mil quilômetros.
O Brasil precisa quintuplicar os investimentos em rodovias para garantir que, daqui a cinco anos, passageiros e cargas continuem trafegando sem problemas pelo país. O próximo quinquênio vai demandar R$ 344 bilhões a serem aplicados na malha rodoviária brasileira, tanto em gastos com manutenção quanto na abertura e ampliação de novos trajetos. São quase R$ 70 bilhões por ano um número que contrasta com os R$ 13,9 bilhões que foram investidos ao longo de 2010, somando os aportes de poder público e iniciativa privada.O cálculo foi feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, e consta do estudo Rodovias Brasileiras: políticas públicas, investimentos, concessões e tarifas de pedágio, divulgado neste mês. O relatório evidencia o descompasso entre a importância das rodovias no Brasil o dinheiro aplicado neste setor. Atualmente, o país investe 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nas estradas. O resultado é inferior à média de 3,4% apurada junto a um grupo de países emergentes que inclui Chile, Tailândia, China, Vietnã e Filipinas.
Segundo o Ipea, o investimento atual do Brasil não é suficiente sequer para manter as condições da malha. Por causa da falta de manutenção durante anos, as rodovias tiveram uma progressiva degradação em seu estado de conservação. Por isso, conclui o estudo, a restauração passa a ser mais cara, pois em alguns trechos o asfalto precisa ser reconstruído. O Ipea sugere R$ 36,7 bilhões anuais apenas em gastos correntes que se somariam a outros R$ 32,2 bilhões em novos investimentos.
A questão se torna ainda mais imediata devido à importância que as rodovias ocupam em relação aos outros modais de transporte do país. Em 2010, o setor rodoviário abocanhou 60% do total de investimentos em transportes no Brasil. "A matriz de transporte está desbalanceada. Países com características geográficas semelhantes, como Canadá e Estados Unidos, investem muito mais em ferrovias e hidrovias", lembra Olivier Girard, sócio da Macrologística Consultoria e consultor nos setores automotivo e infraestrutura de transportes.
Disparidade
A melhoria da malha rodoviária está diretamente atrelada ao desenvolvimento socioeconômico do país. Hoje existe uma clara distinção entre as condições das rodovias no eixo Sul-Sudeste em relação às do Norte-Nordeste. Segundo levantamento anual feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), as estradas em condições regulares, ruins ou péssimas chegam a 84% no Norte e 65% no Nordeste, ante 49% no Sudeste e 41% no Sul.
"A Região Norte está praticamente isolada do resto do país", ressalta Nilson Hanke Camargo, assessor de logística da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). "Os estados com uma carência maior precisam ser uma prioridade, para que possam se integrar ao país", completa.
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