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Simonne, Margarida e Silmara são apenas algumas das personagens de histórias que não tiveram final feliz neste ano. Todas foram vítimas da paixão: ou dos companheiros ou do vício pela droga. Com idades acima de 30 anos, elas engrossam as estatísticas de uma nova prevalência no mapa da criminalidade.

Dia 14 de janeiro, Simonne Freiberger, 39 anos, foi encontrada morta em sua casa, em Colombo. Era uma mulher bonita, simpática, inteligente e bem-humorada, conforme relata a vizinha, a comerciante Maria Sgoda, 55 anos. Para ela, o casal Freiberger demonstrava ser feliz. Eles moravam na pequena casa de madeira, de cor cinza, havia quatro meses. Na sala, Simonne mantinha um piano que adorava tocar. "Era um casal bonito de se ver." O marido Carlos Eduardo Brito Hass, 38 anos, era dono de uma fábrica de velas que seria transferida para a casa nova, conta a vizinha. Não deu tempo. Por motivos desconhecidos, Carlos matou Simonne e se matou logo em seguida, com um tiro. Segundo notícias divulgadas na época, a mãe de Carlos disse que o filho andava bebendo muito. Horas antes de cometer o crime, ele ligou para a mãe pedindo que avisasse os amigos sobre o seu próprio funeral, no dia seguinte.

Drogas

O lugar onde Margarida Borille, 48 anos, morava, no Sítio Cercado, atualmente é um mocó. Depois da sua morte, o local foi invadido por outras pessoas que usam e vendem drogas. Para o vizinho Francisco Zableski, 57 anos, Margarida mexia com "tranqueira". Tinha dois filhos. No dia do crime, 5 de janeiro, três homens chegaram no início da noite e atiraram mais de 50 vezes contra o barraco. O filho mais velho, de 26 anos, saiu correndo; o mais novo foi retirado pelos vizinhos. Margarida não teve a mesma sorte e morreu com um tiro na testa.

O caso de Silmara dos Santos, 34 anos, não é diferente de outros das listas de mortos. Usuária de drogas e pequena traficante do bairro onde morava, no Abran­ches, foi morta por dois homens no dia 8 de fevereiro. Uma moradora do local, Maria*, contou que Silmara foi chamada no portão. Ao ir buscar a chave, viu os homens invadindo a cozinha e perguntando seu nome. O marido – desempregado e também usuário de crack – se trancou no banheiro com os três filhos pequenos. Foram quatro disparos. Por mais de 15 dias, a nova inquilina da casa teve muitos transtornos por causa do número de pessoas que chegavam de carro lhe pedindo para vender drogas. Um dia, Maria surpreendeu-se com um homem no pátio da casa, com uma caixa de televisão. Tinha vindo procurar Silma­ra para trocar o produto por droga. "A mulher morre por vingança. O marido foge e eles (os traficantes) se vingam do lado mais doloroso. Na mãe ou no filho", diz.

Padrão

Para o sociólogo Pedro Bodê, do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná, a participação da mulher no mundo do crime é um padrão comum quando o companheiro também o faz. Ele lembra que, quando o homem é preso, existe uma recorrência de a mulher assumir o trabalho do marido. É preciso lembrar também que a mulher é mais responsável pela gestão da casa do que o homem. "Por isso, quando a violência incide sobre ela, os efeitos são devastadores na família. As crianças, que tinham o mínimo de proteção, passam a ter nenhuma." Segundo ele, a saída seria multiplicar os programas de prevenção e isso só se faz com investimento social. "Esse problema não se resolve somente por intermédio de punição. Tem de combater a causa anterior, senão vira uma cadeia de desgraças". (AP)

* nome fictício a pedido da entrevistada

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