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Acidente

Pânico no ônibus

Em meio ao trabalho dos socorristas, pelo menos 17 feridos menos graves pareciam ter saído de um cenário de guerra: enrolados em faixas, com muito sangue e ainda chocados com o acidente | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Em meio ao trabalho dos socorristas, pelo menos 17 feridos menos graves pareciam ter saído de um cenário de guerra: enrolados em faixas, com muito sangue e ainda chocados com o acidente (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

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Entenda como foi o acidente

O motorista do ligeirinho causador do acidente que matou duas pessoas e deixou 32 feridas ontem, na Praça Tiradentes, em Curitiba, está preso na Delegacia de Delitos de Trânsito. José Apa­recido Alves, 49 anos, foi autuado em flagrante por homicídio culposo (sem intenção de matar). O motorista alegou em depoimento à polícia que uma possível falha mecânica causou a tragédia. Um laudo oficial sobre as causas do acidente só deve ser divulgado em 30 dias.

Por volta das 11h30 de on­­tem, um ônibus da linha Co­­lombo/CIC descontrolado bateu em um táxi estacionado, avançou o sinal vermelho, colidiu com um Peugeot 206 e só parou ao destruir parte da entrada principal das Lojas Pernam­bucanas. Edson Pereira da Silva, 55 anos, que estava no ponto de ônibus em frente à loja, morreu na hora. A outra vítima, Carlos Alberto Fernandes Bran­tes, 63 anos, morreu a caminho do hospital.

Segundo o delegado Ar­­mando Braga, o motorista disse que assumiu o volante na Ti­­radentes, engrenou a marcha e a aceleração foi ao máximo. Mesmo freando, Alves não conseguiu parar: "O freio não foi suficiente para imobilizar o veículo pela potência", disse Alves à polícia. Ele afirmou que, para não atropelar muitas pessoas, puxou o ônibus para o lado direito. Alves imagina que a velocidade do veículo estava entre 40 e 50 km/h. "Ao que tudo indica tratou-se de uma fatalidade", afirmou o delegado. O motorista poderá ser solto mediante o pagamento de fiança. Um advogado da empresa Auto-Viação Redentor, responsável pelo ônibus, esteve na delegacia para acompanhar o depoimento.

Choque

Entre os passageiros do ligeirinho, o clima era de choque. A maioria não viu o deslocamento irregular do ônibus e só percebeu o acidente no momento do impacto. Ao observar o estado do ônibus, a reação era peculiar. Uns choravam, outros pareciam agradecidos pela melhor sorte e a grande maioria não sabia o que pensar. Parte dos feridos, especialmente os que se localizavam na parte da frente do ônibus, ficou presa entre as ferragens, enquanto os passageiros dos fundos sofreram com a força do choque. O acidente não feriu funcionários e clientes das Lojas Per­nambucanas.

Apesar das mortes, o saldo da tragédia poderia ser maior, pois o acidente ocorreu próximo ao horário do almoço, em um dos locais mais movimentados do centro da cidade.

O taxista Aparecido Lírio, que teve o carro danificado pelo coletivo, poderia ter sido uma vítima. Ele acabara de estacionar seu carro na última vaga do ponto de táxi quando olhou pelo retrovisor para ver se havia tempo e espaço para deixar o carro. Foi quando viu o ligeirinho já desgovernado vindo em direção ao táxi. "Eu sabia que ele ia bater e fiquei esperando a colisão", conta. Com o susto, o taxista não acompanhou o resto da trajetória do ônibus e só percebeu o tamanho do acidente mais tarde. "Não sei o que aconteceu com o ônibus ou o motorista, mas ele não estava na velocidade normal", relata.

Testemunhas

A promotora de eventos Luzia dos Santos, 34 anos, que estava no Colombo-CIC, sentou logo atrás do motorista. Ela disse ter ouvido um estralo quando as portas foram fechadas. Ao acionar o veículo, Alves teria gritado: "Meu Deus. Não consigo controlar o ônibus". Luzia conta que o veículo ficou desgovernado e que começou a puxar para o lado esquerdo. Ela ouviu do motorista – que estaria nervoso, mas lúcido – que não conseguia usar o freio. Os passageiros gritaram, se amontoaram e tentaram se proteger como podiam. "O ônibus só parou quando invadiu a loja", disse Luzia.

Familiares de José Aparecido Alves negam que ele tenha bebido, que tenha problemas psicológicos ou que sofreu um mal súbito. "Meu pai falou que estava dirigindo normalmente e de repente veio um barulho no carro e ele não conseguiu parar. Só isso", disse a filha Andressa Alves, 20 anos.

O auxiliar técnico José Car­los Alves, 46 anos, irmão do motorista, afirmou que o acidente só pode ter sido causado por um defeito no ônibus. Se­­gundo o auxiliar, o irmão, que está há 12 anos na profissão, saiu para trabalhar por volta das 4 horas de ontem e voltou para casa por volta das 9 horas para pegar uma garrafa de café. "Ele estava bem."

José Aparecido saiu de casa pa­­ra pegar outra linha, que não era a que ele fazia normalmente, segundo a filha. Andressa diz que o pai não tinha nenhum problema de saúde e não ingere bebidas alcoólicas, pois pertence a uma religião que proíbe o uso. No entanto, a jovem diz que, às vezes, o pai ficava meio estressado.

Perícia

O ligeirinho foi levado para o pátio do Detran e será periciado hoje pelo Instituto de Cri­minalística. Outras testemunhas deverão ser ouvidas durante o dia, além das cinco pessoas que prestaram depoimento ontem. Procurada pela reportagem, a Redentor não atendeu as ligações. Só se pronunciou por meio de uma nota oficial onde lamenta o acidente. A Urbs, que gerencia o transporte coletivo em Curitiba, disse que aguardará a perícia para se pronunciar. A última vistoria no veículo foi feita no dia 22 de março de 2010. A operação é feita a cada seis meses e estaria dentro do prazo.

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