No começo de fevereiro, o delegado Alberto Teixeira, superintendente da Polícia Civil em Marabá, no Pará, decidiu colocar todo o efetivo nas ruas. À noite, liderou um comboio de cerca de 20 carros pela cidade. No jargão local, é o que se chama de "patrulhão".
A ideia era fazer uma blitz nos pontos mais notórios de tráfico de drogas. Não demorou para que o patrulhão se desmantelasse. Relatos de assassinatos cometidos por duplas em motocicletas começaram a pipocar em diferentes pontos da cidade, cortada em três setores distintos pelos Rios Tocantins e Itacaiúnas.
"Foi um cartão de boas-vindas mandado pelo tráfico", disse Teixeira, especialista em combate ao crime organizado. "Em 19 anos de polícia, nunca tinha visto nada parecido", acrescentou o delegado, que há pouco mais de quatro meses trocou Belém pelo principal município do "Polígono da Violência" - região no sudeste do Pará que concentra 14 cidades com altas taxas de assassinatos.
Graças principalmente à espiral de violência nessa área, a Região Norte ultrapassou o Nordeste e é, pela primeira vez, a campeã de homicídios no País. Teve quase 34 mortos por 100 mil habitantes em 2009. Cinco anos antes, com taxa de 23/100 mil, estava em quarto lugar, à frente apenas da Região Sul, segundo o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde.
Marabá, que reivindica o posto de capital do futuro Estado de Carajás, caso o desmembramento do Pará seja aprovado em plebiscito, está em primeiro lugar no ranking da matança - teve, entre 2007 e 2009, uma média anual de 114 homicídios por 100 mil habitantes. A cidade tem pouco mais de 200 mil moradores, o mesmo que o distrito paulistano de Cidade Dutra, onde 30 pessoas foram mortas em 2009 - em Marabá, a título de comparação, foram 271.
Na vizinha Nova Ipixuna, onde foram mortos os líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, a taxa é de 78 assassinatos por 100 mil habitantes. Na média dos 14 municípios que formam o Polígono da Violência, o índice chega a 91/100 mil - superior ao de Honduras, o país mais violento do mundo, com cerca de 60/100 mil.
Os crimes relacionados a conflitos agrários são frequentes - e os de maior visibilidade -, mas não os mais comuns. A venda de drogas alimenta uma disputa armada por territórios que vai desde as grandes quadrilhas até os traficantes de pequeno porte, e jovens envolvidos em furtos e roubos são alvo de grupos de extermínio. "Aqui é mais fácil conseguir um pistoleiro que um táxi", ironizou José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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