Instantes antes do disparo que se ouviu dentro do apartamento onde seqüestrou a ex-namorada e a amiga dela, Lindembergue Alves, de 22 anos, parecia estar calmo e que iria se entregar. "Ele não pedia nada em troca, apenas que (os policiais) não se aproximassem", afirmou o coronel Eduardo Félix de Oliveira, comandante-geral do Policiamento de Choque da Polícia Militar de São Paulo.
De acordo com ele, após ouvir o disparo, na manhã de ontem, os negociadores do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) telefonaram para o rapaz, que afirmou que o tiro tinha sido sem querer e que não havia atingido ninguém. As adolescentes Eloá, ex-namorada de Lindembergue, e a amiga dela Nayara, ambas de 15 anos, falaram ao telefone na seqüência, ainda de acordo com as informações do coronel. Entretanto, quando os policiais invadiram o apartamento, o rapaz deu dois tiros em Eloá, que está em estado gravíssimo, um na cabeça e outro na virilha, e também atirou na boca de Nayara, que se recupera bem.
Nayara foi considerada por Félix de Oliveira como o ponto de equilíbrio no caso, pois havia conflitos entre Lindembergue e Eloá, com direito a agressões por parte dele. Eloá discordava de tudo, e recebia chutes, tapas e puxões de cabelo, segundo informações que Nayara teria passado à polícia após ter sido liberada pelo seqüestrador, na terça-feira. Depois, ela voltou ao cativeiro na manhã de quinta-feira.
O coronel contou ainda, em entrevista coletiva realizada há pouco, que Lindembergue deixava a televisão ligada e mudava de ambiente com as garotas para distrair os policiais. Quando foi cortada a luz, o rapaz teria pedido para elas circularem pelo apartamento com velas nas mãos. "Lindembergue é muito inteligente", disse Félix de Oliveira, para mencionar em seguida que, segundo os negociadores, o humor do rapaz oscilava muito e dava sinais de depressão. Sobre a decisão de invadir o cativeiro o coronel disse: "Toda decisão tem um risco".