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Santo André

Piora estado de saúde de ex-namorada de seqüestrador

Piorou o estado de saúde da adolescente Eloá Pimentel, de 15 anos, ex-namorada do seqüestrador Lindemberg Fernandes Alves. De acordo com a médica Rosa Maria Aguiar, diretora do Centro Hospitalar Santo André, onde a jovem está internada, Eloá está instável e teve sangramentos durante a noite. Segundo Rosa, um dreno foi colocado na cabeça da adolescente para tentar amenizar o edema cerebral.

- Esperamos que ela sobreviva, mas está muito grave - afirmou Rosa, acrescentando que Eloá tem sangramentos pelo dreno e que a menina tem sido submetida a transfusões de sangue.

Eloá Cristina Pimentel Silva e Nayara Rodrigues Vieira, ambas de 15 anos, foram baleadas após 100 horas de seqüestro em Santo André. Eloá levou dois tiros, um na cabeça e outro na virilha, e está em coma. Ela perdeu muita massa encefálica e seu estado é gravíssimo. Nayara foi baleada na boca, mas não corre risco de morrer.

Eloá está na Unidade de Terapia Intensiva do Centro Hospitalar e uma segunda cirurgia não foi descartada. Ela já foi operada na noite de sexta-feira. Os médicos decidiram não retirar a bala que ficou alojada na nuca de Eloá, na área conhecida como cerebelo, afirma a médica Rosa Aguiar. Em entrevista, diretores do hospital informaram que, numa escala de 1 a 10, o risco de morte é 9. Eles também não têm condições de dizer se ela ficará com seqüelas caso sobreviva.

A outra adolescente baleada, Nayara Rodrigues, está bem, segundo a médica. Nayara está na unidade semi-intensiva, mas está consciente e conversa com os médicos. De acordo com Rosa Aguiar, ela pode ter alta em até 10 dias. Segundo a médica, os profissionais que atendem Nayara não perguntam sobre o seqüestro. Ela afirmou que a menina ainda não tem condições de prestar depoimento à polícia.

O pai de Eloá está internado no mesmo hospital. Ele foi sedado depois de entrar em choque com o fim trágico do seqüestro, que durou mais de 100 horas. Segundo Rosa Aguiar, a mãe da adolescente já foi liberada e está em casa.

Investigação

O diretor do Instituto de Criminalística de Santo André afirmou que as balas encontradas nos corpos das duas reféns são compatíveis com uma das armas usadas pelo seqüestrador, mas ainda não é possível afirmar se os tiros partiram dela.

O coronel Eduardo José Félix, que comandou a negociação com o seqüestrador Lindemberg Alves, de 22 anos, durante toda a semana, disse que a polícia só invadiu o apartamento onde as meninas eram mantidas após ouvir um tiro. Policiais do Gate, que estavam num apartamento vizinho ao de Eloá, teriam ouvido o disparo e, antes dele, ouviram conversas de que, mais uma vez, Lindemberg não iria libertar as meninas.

O tiro não pôde ser ouvido por quem estava do lado de fora do prédio. O primeiro sinal de que as coisas não iam bem foi uma explosão. Segundo o coronel, o barulho foi provocado por uma bomba plástica, de efeito moral. Em seguida, três tiros foram ouvidos. A invasão do apartamento pelos policiais veio a seguir. Segundo o comandante, ao entrar no apartamento os policiais encontraram Nayara na sala. Eloá foi achada no chão da cozinha, baleada.

Lindemberg estava entre a sala e a cozinha e não se rendeu. Lutou com policiais e teve de ser dominado na saída do apartamento. O rapaz levou tiros de balas de borracha, mas saiu ileso. De acordo com o coronel, ele tinha uma arma calibre 32 e cinco cartuchos foram deflagrados. Segundo a polícia, também foi achada uma espingarda calibe 22 e um saco de munição no apartamento. A polícia teria feito a operação apenas com bombas de efeito moral e balas de borracha.

Para o coronel, o tiro que acertou a virilha de Eloá foi dado ainda na manhã de sexta.

- Houve um tiro pela manhã, provavelmente o que acertou a virilha de Eloá, já que a posição foi de baixo para cima, diferente da que ele (Lindemberg) estava quando o local foi invadido.

O rapaz foi algemado e encaminhado para o 6º distrito policial, onde fez exame de corpo de delito. Ele passou a noite na sede do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra). Uma multidão revoltada cercou, na noite de sexta-feira, a cadeia pública de Santo André, na Grande São Paulo, onde o seqüestrador Lindemberg Fernandes Alves deveria passar a noite. Por conta de ameaças de invasão ao presídio, os presos ficaram agitados e o seqüestrador teve de ser transferido. Nenhum parente foi levar comida ou roupas ou visitá-lo.

Este foi o mais longo caso de cárcere privado no estado de São Paulo. Não foi o primeiro a terminar em tragédia. Em dezembro de 2006, o marceneiro Gilberto Gomes de Lima, de 42 anos, manteve sob a mira de um revólver - dentro de sua oficina - a mulher, Gilvanete da Silva Lima, de 37 anos, e a amante, grávida, Andréa Pereira dos Santos, de 31 anos. Após 30 horas de negociações com a polícia, Lima matou a amante e se matou em seguida, deixando livre apenas a mulher. Andréa teria contado a Gilvanete que estava grávida.

Psicólogos dizem que paixão doentia e perda de poder sobre a ex-namorada podem ter motivado Lindemberg, descrito como um rapaz calmo pelos familiares, a seqüestrá-la.

Espera longa e criticada

O fim do seqüestro ocorreu em meio a críticas sobre a ação da polícia. Um dia antes, na quinta-feira, Nayara Vieira, 15 anos, voltou ao prédio e se tornou novamente refém. A adolescente, rendida no primeiro dia, ao lado da amiga, havia passado 33 horas refém e tinha sido liberada na noite de terça. Na quarta, prestou longo depoimento à polícia, no qual relatou que Lindemberg estava agressivo e havia batido várias vezes em Eloá.

No dia seguinte, o seqüestrador exigiu que a Polícia Militar chamasse de novo Nayara. Em troca, libertaria Eloá. A adolescente retornou ao prédio e virou novamente refém.

A Polícia Militar chegou a negar que ela estivesse de novo na condição de refém e informou que a presença da menina era "estratégia de negociação" . Na manhã de quinta, o próprio coronel Eduardo José Félix havia dito que ela poderia sair quando quisesse do apartamento. Mas o rapaz blefou e não libertou a garota.

Nayara não saiu mais. Na tarde de quinta, o coronel deixou Santo André e participou, em São Paulo, do confronto entre a Polícia Militar e policiais civis em greve.

A polícia enfrentou críticas na manhã de sexta. Ariel de Castro Alves, do Condepe, afirmou que os pais de Nayara não autorizaram que ela entrasse de novo no apartamento e que, mesmo se a polícia pedisse autorização judicial, a Vara da Infância e da Adolescência não permitiria que uma adolescente fosse usada na negociação com um seqüestrador armado.

No início da noite de sexta, depois da tragédia consumada, o coronel Eduardo José Félix culpou a própria adolescente. Disse que havia combinado com a menina que ela ficasse apenas "no primeiro lance" da escada de acesso ao prédio e que ela não seguiu a orientação e entrou no apartamento.

- Ela subiu por conta própria, conversando com o Lindemberg pelo telefone. Ela subiu ao apartamento e ficou - disse o coronel, que voltou a afirmar que a família de Nayara foi consultada, antes de ela aceitar ajudar na negociação - os pais da menina negam. "A mãe dela (quando a viu entrar no apartamento) disse: 'Não sei se choro ou se bato na minha filha'", afirmou.

Não foi a única confusão em torno do caso. A polícia demorou cerca de uma hora para se pronunciar sobre o caso após a invasão do apartamento.

Em seguida, a assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes chegou a divulgar no início da noite que Eloá estava morta. Em seguida, desmentiu. Disse que Eloá havia sido reanimada dentro do hospital e pediu desculpas à família da adolescente pelo erro.

O coronel Eduardo José Félix disse que Lindemberg alternou entre agressivo, compreensivo e se fez de coitadinho durante toda a semana de negociação.

- Foi uma ocorrência de alto risco - reconheceu o coronel ao fim da operação.

Segundo ele, os policiais não portavam armas letais, apenas de efeito moral ou com uso de balas de borracha.Policiais retiram uma das reféns baleadas no seqüestro - Diário de S. Paulo - Temos todos os registros, tudo gravado. O Gate é extremamente sério e responsável por preservar a vida - disse o coronel.

Para especialistas, a polícia cometeu pelo menos três falhas: demora, devolução de refém e acesso irrestrito ao telefone, pelo qual o criminoso chegou a dar entrevistas. Numa entrevista à TV Globo, o criminoso culpou a ex-namorada por sua atitude violenta.

A última exigência de Lindemberg atendida pela polícia foi apresentar um documento por escrito, entregue por um promotor do Ministério Público, garantindo sua integridade física. O documento foi levado pelo promotor Augusto Eduardo de Souza Rossini. Neste caso, não ocorreu falha: Lindemberg saiu ileso.

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