Curitiba e Cascavel - A posição geográfica do Paraná e a existência de um presídio federal no município de Catanduvas tornaram o estado um fator potencialmente importante para explicar a atual crise de segurança do Rio de Janeiro desde o fim de semana, quando teve início uma disputa de traficantes da cidade, 22 mortes já foram registradas. O presídio tornaria o estado palco de decisões de criminosos com grande poder de fogo. Já a posição geográfica, na fronteira com o Paraguai, faz do estado a principal entrada de armamento pesado ilegal no Brasil. Armamento como o que pode ter derrubado um helicóptero, causando a morte de três policiais no Rio.
O presídio de Catanduvas apareceu no noticiário já no fim de semana como possível origem da ordem para a invasão do Morro do Macaco. Um dos presos de Catanduvas, Marcinho VP, ligado ao Comando Vermelho (CV), teria ordenado a ocupação do local, cujo tráfico antes estava nas mãos de outro grupo criminoso, a Amigos dos Amigos (ADA).
Ontem, o Ministério da Justiça negou que o presídio tenha sido a origem da ordem para a invasão do morro (veja texto nesta página). Porém, apesar de o governo afirmar que o serviço de inteligência do sistema penitenciário federal e o aparato de segurança da Penitenciária Federal de Catanduvas "não permitem comunicação [dos presos] com o ambiente exterior", em pelo menos duas vezes a Polícia Federal (PF) interceptou recados de detentos para comparsas que estão soltos.
Em março deste ano, uma advogada carioca foi surpreendida em flagrante pelas câmeras de vigilância do presídio quando tentava sair da unidade com uma carta escrita por um dos chefes do crime organizado no Rio e endereçada a outros criminosos. Ao ser abordada, a advogada rasgou a carta em vários pedaços e acabou presa.
Após remontar a correspondência, a PF descobriu que o texto fazia alusão a crimes praticados por bandidos que integram facções e agradecia-os pela execução de rivais. O nome da advogada e do cliente não foram revelados. Na época, o delegado da PF em Cascavel, Algacir Mikalovski, disse que seria aberto um inquérito para apurar se a advogada tinha mais clientes dentro do presídio.
Em novembro de 2007, um ano e meio após a inauguração do presídio federal no Paraná, duas mulheres foram presas em Catanduvas acusadas de atuarem como mensageiras do traficante Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e outros criminosos. A PF chegou a cumprir mandados de busca e apreensão em celas dos presídios de Catanduvas e Campo Grande (MS), onde encontrou cartas cifradas com indicação de movimentos financeiros da quadrilha. Jaqueline Kelly dos Santos Arantes, uma das supostas mensageiras, foi presa quando desembarcava de um ônibus oriundo de Campo Grande, cidade para onde Beira-Mar fora transferido quatro meses antes.
Armamento
Embora a queda de um helicóptero, derrubado por disparos de traficantes cariocas, tenha sido um fato inédito nos conflitos entre grupos criminosos e a polícia do Rio de Janeiro, a estrutura montada para garantir tal capacidade bélica não representa uma novidade. Armas com capacidade para derrubar helicópteros, aviões e carros blindados têm entrado ilegalmente no Brasil, via Paraguai, há pelo menos duas décadas.
O Paraná está na ponta desse negócio que tem como consumidores finais os traficantes cariocas e quadrilhas paulistas que roubam bancos e carros fortes. No ano passado, policiais federais e patrulheiros rodoviários federais de Cascavel apreenderam uma metralhadora calibre ponto 50. A arma é usada pelo exército norte-americano no Afeganistão e no Iraque.
Em 2006, em Guaíra, a Polícia Federal apreendeu uma metralhadora dinamarquesa Madsen, calibre 7.62. A arma é usada para combates próximos desde a Primeira Guerra Mundial. Na mesma ocasião também foi apreendido um lança-rojão Rokcet HE 66 mm. Conhecido popularmente como "bazuca", o lança-rojão pode penetrar em alvos fortemente blindados que estejam a até 200 metros de distância.
A entrada via Paraguai não é a única maneira que grupos criminosos encontram de comprar armamento de uso restrito das forças armadas. Apreensões realizadas em morros cariocas mostram que muitas armas
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