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Aedes Aegypti

Paranaguá estuda teste inédito com mosquitos geneticamente modificados

 | Marvin Recinos
AFP
(Foto: Marvin Recinos AFP)

Vivendo uma epidemia de dengue desde o fim do ano passado, Paranaguá, no Litoral do estado, pretende gastar R$ 2,4 milhões na compra de mosquitos transgênicos produzidos pela britânica Oxitec – o OX513A . O total será desembolsado ao longo de dois anos, tempo de duração previsto para o projeto que tem a intenção de acabar com a infestação de Aedes aegypti no município. Uma comitiva comandada pelo prefeito da cidade, Edison Kersten, foi a Campinas (SP) em março para visitar a empresa e acertar os detalhes para implantação desta tecnologia em Paranaguá.

“Neste primeiro momento, vamos priorizar bairros com maior número de casos , atendendo uma área de 30 mil moradores”, explicou o prefeito. De acordo com Kesrten, a implantação dos mosquitos geneticamente modificados deve ocorrer em até 3 meses. Em média, para cada inseto selvagem são soltos 100 mosquitos machos modificados .

Liberados no ambiente, os mosquitos OX513A cruzam com as fêmeas selvagens produzindo descendentes que herdam genes adicionais e morrem antes de chegar à fase adulta. Isso diminui a população das próximas gerações de mosquitos Aedes aegypti. Testes realizados pela própria Oxitec em bairros de Juazeiro (BA) e Piracicaba (SP) indicam que o uso dos mosquitos modificados reduziu em até 82% o número de mosquitos.

Porém, mesmo com os propagados resultados de sucesso pela empresa, cientistas ainda são reticentes ainda sobre uso desta tecnologia. Há dúvidas, principalmente, em relação à eficácia no uso da tecnologia para o combate à dengue.

“O uso do mosquito é seguro, também já se mostrou eficiente para a diminuição da população de insetos. Agora sobre a eficiência no combate a dengue é preciso que a tecnologia seja testada em maior escala”, diz o especialista na avaliação de riscos de Organismos Geneticamente Modificados, o pesquisador Paulo Paes de Andrade, do departamento de Genética da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Saneamento

Outro ponto negativo destacado por pesquisadores é a falta de estudos que afastem a possibilidade de um desequilíbrio ambiental causada pelo mosquito modificado. “Na melhor das hipóteses, haverá uma redução sazonal do Aedes aegypti. Mas a natureza não deixa vazios e em uma região de Mata Atlântica esse espaço pode ser ocupado pelo mosquito Aedes albopictus, que vive nas florestas no entorno da cidade”, afirma o cientista Leonardo Melgarejo, professor do mestrado profissional em Agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além de também ser vetor da dengue, o A. albopictus é potencial transmissor da Febre amarela, doença erradicada no Brasil desde 1942.

Na avaliação de Malgarejo, a solução para a infestação de mosquitos em Paranaguá passa por um amplo investimento na questão de saneamento. A mesma defesa faz o professor Mário Navarro, do Programa de Pós-graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“O investimento prioritário para redução da população do Aedes aegypti assim também como do Aedes albopictus e Culex quinquefasciatus, espécies mais importantes enquanto vetoras de agentes etiológicos na área urbana , deve ser direcionado para o saneamento básico”, afirma Navarro.

Ele faz ainda um alerta. “Antes da liberação é imprescindível que o serviço de vigilância entomológica tenha informações sobre a densidade do vetor foco da ação e faça um acompanhamento de forma a auditar com qualidade a efetividade ou não da liberação. ”

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