Vivendo uma epidemia de dengue desde o fim do ano passado, Paranaguá, no Litoral do estado, pretende gastar R$ 2,4 milhões na compra de mosquitos transgênicos produzidos pela britânica Oxitec – o OX513A . O total será desembolsado ao longo de dois anos, tempo de duração previsto para o projeto que tem a intenção de acabar com a infestação de Aedes aegypti no município. Uma comitiva comandada pelo prefeito da cidade, Edison Kersten, foi a Campinas (SP) em março para visitar a empresa e acertar os detalhes para implantação desta tecnologia em Paranaguá.
Mundo
Ainda não existem exemplos no mundo da comercialização deste mosquito. Nos Estados Unidos a Federal Drugs Administration (FDA) deve fazer uma consulta pública, já que existe interesse da empresa em fazer testes no estado da Flórida.
“Neste primeiro momento, vamos priorizar bairros com maior número de casos , atendendo uma área de 30 mil moradores”, explicou o prefeito. De acordo com Kesrten, a implantação dos mosquitos geneticamente modificados deve ocorrer em até 3 meses. Em média, para cada inseto selvagem são soltos 100 mosquitos machos modificados .
Liberados no ambiente, os mosquitos OX513A cruzam com as fêmeas selvagens produzindo descendentes que herdam genes adicionais e morrem antes de chegar à fase adulta. Isso diminui a população das próximas gerações de mosquitos Aedes aegypti. Testes realizados pela própria Oxitec em bairros de Juazeiro (BA) e Piracicaba (SP) indicam que o uso dos mosquitos modificados reduziu em até 82% o número de mosquitos.
Porém, mesmo com os propagados resultados de sucesso pela empresa, cientistas ainda são reticentes ainda sobre uso desta tecnologia. Há dúvidas, principalmente, em relação à eficácia no uso da tecnologia para o combate à dengue.
Tetraciclina
Para chegar a fase adulta, as larvas do mosquito geneticamente modificado recebem uma dose da substância tetraciclina. Esse seria um outro ponto fraco do Aedes aegypti produzido pela Oxitec. “Caso as larvas tenham contato com o antibiótico tetraciclina, o dispositivo genético que impediria os insetos a chegar na fase adulta é ‘desligado’, além disso não existem estudos suficientes que comprovem a segurança do uso deste inseto”, explica o biólogo José Maria Ferraz, pesquisador convidado da Unicamp. A Oxitec, por sua vez, afirma que não há quantidade suficiente desta substância na natureza, que foi proibida para uso em ração de animais ainda em 2009. No entanto, de acordo com Ferraz, a tetraciclina é utilizada como antibiótico para seres humanos e os riscos do contato dos insetos com a substância se acentua em cidades com baixos índices de tratamento de esgoto – caso de Paranaguá.
“O uso do mosquito é seguro, também já se mostrou eficiente para a diminuição da população de insetos. Agora sobre a eficiência no combate a dengue é preciso que a tecnologia seja testada em maior escala”, diz o especialista na avaliação de riscos de Organismos Geneticamente Modificados, o pesquisador Paulo Paes de Andrade, do departamento de Genética da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Saneamento
Outro ponto negativo destacado por pesquisadores é a falta de estudos que afastem a possibilidade de um desequilíbrio ambiental causada pelo mosquito modificado. “Na melhor das hipóteses, haverá uma redução sazonal do Aedes aegypti. Mas a natureza não deixa vazios e em uma região de Mata Atlântica esse espaço pode ser ocupado pelo mosquito Aedes albopictus, que vive nas florestas no entorno da cidade”, afirma o cientista Leonardo Melgarejo, professor do mestrado profissional em Agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além de também ser vetor da dengue, o A. albopictus é potencial transmissor da Febre amarela, doença erradicada no Brasil desde 1942.
Na avaliação de Malgarejo, a solução para a infestação de mosquitos em Paranaguá passa por um amplo investimento na questão de saneamento. A mesma defesa faz o professor Mário Navarro, do Programa de Pós-graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“O investimento prioritário para redução da população do Aedes aegypti assim também como do Aedes albopictus e Culex quinquefasciatus, espécies mais importantes enquanto vetoras de agentes etiológicos na área urbana , deve ser direcionado para o saneamento básico”, afirma Navarro.
Ele faz ainda um alerta. “Antes da liberação é imprescindível que o serviço de vigilância entomológica tenha informações sobre a densidade do vetor foco da ação e faça um acompanhamento de forma a auditar com qualidade a efetividade ou não da liberação. ”
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