O governo de São Paulo iniciou a divulgação de um filme publicitário sobre o programa Recomeço, que reúne medidas de combate ao crack, entre elas, o plantão judiciário para agilizar o atendimento a dependentes de drogas, iniciado há três meses no centro da cidade. Para fazer o vídeo, a produtora encarregada pagou cerca de R$ 300 de cachê a parentes de dependentes, segundo familiares ouvidos pela reportagem. Não há nenhuma ilegalidade nisso.
Com sede no Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas do Estado), o plantão judiciário ainda sofre com problemas estruturais, segundo relataram juízes à reportagem. Eles se queixaram da demora para abertura de vagas de internação, falta de ambulâncias e de equipes para lidar com viciados em surto.
O governo do Estado iniciou uma parceria com a Prefeitura de São Paulo para ampliar o serviço, com mais unidades de atendimento e leitos.
O filme está sendo veiculado em salas de cinema da cidade e em canais abertos de TV. O governo não informou o custo.
Segundo o governo do Estado, a intenção é divulgar melhor o serviço, mostrando como funciona o centro de atendimento a dependentes. O programa passará a incluir benefício mensal de R$ 1.300 por mês a dependentes que buscarem ajuda voluntariamente.
A produtora de vídeo encarregada da propaganda é a Paranoid, que tem entre seus sócios o cineasta Heitor Dhalia, diretor do premiado filme "Cheiro do Ralo" (2007). Ela foi contratada por outra empresa, a Adag Comunicação, está com contrato com o governo.
Segundo familiares, as entrevistas foram feitas num estúdio, após a assinatura de um contrato. "A família vai se acabando junto com a pessoa. É uma doença. Eles estão doentes e precisam de ajuda", diz a dona de casa Janicleide Xavier, 40, mãe de um jovem que ficou internado por dois meses na rede estadual.
O filme, veiculado no dia 13 nos intervalos do telejornal "SPTV", da Rede Globo, fala como o crack "destrói vidas e famílias". E diz que "o governo do Estado decidiu enfrentar o problema com coragem".
"Acredito que tenham colocado no vídeo mais o que a gente falou de bom", disse Janicleide. Ela afirma que o Cratod "lhe abriu uma porta", mas que "há muita desorganização".
"Não sei se vai funcionar essa propaganda. O governo tem que sair da propaganda e ir para a ação", disse o desempregado Samuel de Paula, 45, pai de um menor de idade que também ficou internado num hospital por meio do plantão. Ele também participou das gravações, mas não aparece nos filmes veiculados.
O filho dele fugiu de um hospital após menos de 20 dias de internação. Após a fuga, o jovem foi para a Fundação Casa (antiga Febem) por determinação judicial. Ele terá que cumprir medida socioeducativa por tráfico de drogas.
Espontaneamente
O governo informou, em nota, que ainda está colhendo uma série de depoimentos para alertar a população sobre o perigo do uso do crack e informar familiares de dependentes sobre a oferta de tratamento gratuito. "As pessoas que se dispuseram a participar relataram suas histórias espontaneamente", diz a nota.
De acordo com o governo, todas as campanhas publicitárias são elaboradas pelas agências de publicidade contratadas por meio de licitação.
"Cabe às agências executar todas as etapas, o que inclui a eventual contratação de produtora de vídeo ou foto, entre outros serviços. A campanha ainda não está concluída, de modo que seu custo total não pode ser estimado", diz o governo.
Segundo a nota, as pessoas que participaram do filme assinaram contrato com a produtora, previsto pela APRO (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), que autoriza o uso das imagens, o que é praxe no mercado publicitário.
Ainda segundo o governo, as pessoas receberam ajuda de custo para compensar o tempo gasto.