Parentes de estudantes mortos e feridos pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira, na quinta-feira passada, voltaram ontem pela primeira vez à Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, para recolher mochilas abandonadas no dia da tragédia. Mães e pais lamentavam ter de retornar ao colégio em que costumavam buscar seus filhos para levar embora apenas os seus pertences. A vendedora de lanches Nilza da Cruz, de 63 anos, recolheu cadernos e cremes de rosto de sua neta Karine Lorraine Chagas de Oliveira, de 14 anos, uma dos 12 jovens mortos no massacre. Fez questão, no entanto, de deixar no colégio livros e material didático novos que a neta não usou. "Pode ser útil para alguém", explicou Nilza, muito emocionada, enquanto saía da unidade. "Minha neta era linda, vaidosa, gostava de estudar e de fazer exercícios físicos. Queria ser atleta e ia começar a competir."
A escola começou a ser limpa ontem e a passar por reformas para apagar os vestígios da chacina. Os buracos de bala foram todos fechados. As salas onde Wellington disparou contra os estudantes serão descaracterizadas. A primeira vai ser conectada à biblioteca, a outra será transformada em sala multifuncional, para atender também crianças com necessidades especiais.
De acordo com o diretor-geral da unidade, professor Luís Marduk, apenas dez alunos pediram transferência de colégio ao longo do dia de ontem. Ele e os demais professores estão tentando convencer todos os pais a manter seus filhos na escola. "Estamos em um trabalho de sedução porque a gente precisa desses alunos. Eles precisam ficar aqui dentro para superar esse terror", afirmou. Segundo ele, a escola começará a ter atividades culturais na próxima semana, com oficinas de artes e eventos com artistas. "Ainda não dá para dizer quando a escola voltará a funcionar regularmente", explicou. Professores foram recebidos nas instalações e tiveram apoio psicológico.
Herói
O sargento da Polícia Militar Márcio Alexandre Alves, autor do disparo que parou Wellington, que posteriormente se matou, também reapareceu na unidade ontem. "Preferi não subir para o andar das salas de aula para não ter que repassar tudo o que vi. É muito difícil voltar aqui. Eu olho e relembro as cenas. Estou em casa, tentando esquecer, mas acho que isso vai ficar para sempre", afirmou.
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