O gosto pela história nos leva, muitas vezes, a tomar contato com fatos bizarros e fora do conhecimento do cidadão comum. O relato que se segue aconteceu aqui mesmo em Curitiba e há quase cento e trinta anos.
O ano de 1886 estava em seu começo quando governava a Província do Paraná o ilustre militar, político e intelectual Alfred dEscragnolle Taunay. A economia girava em torno da erva-mate, produto que tinha seu maior comércio com o Uruguai e a Argentina. Francisco Facce Fontana, ítalo-uruguaio, fazia pouco tempo que se havia instalado em Curitiba, montando um engenho para beneficiar mate.
Criou-se um vínculo de amizade entre o presidente e o ervateiro, e este, aproveitando o cargo que exercia o novo amigo, propôs que o governo saneasse o charco existente à frente de seu engenho, para ali criar um parque de lazer para a cidade. Taunay abraçou a ideia e nomeou Fontana como administrador das obras do Passeio Público, que ali estava nascendo.
O industrial abraçou o cargo com ousadia na construção do parque e acoplou o trabalho do saneamento do brejo existente. Seu entusiasmo fez com que importasse diferentes espécies de árvores, não medindo esforços para adornar o ambiente. Para fazer o gramado do Passeio, mandou tirar leivas de grama do Largo Lobo de Moura, uma campina onde hoje está a Praça Santos Andrade.
Nesse momento entrou a Lei, na figura do presidente da Câmara de Vereadores, que também exercia o cargo de prefeito de Curitiba. Augusto Stellfeld, nascido na Alemanha, havia se instalado em Curitiba com sua farmácia, a primeira da cidade, em 1857. Como autoridade maior da capital da província, Stellfeld, baseando-se nas posturas da Câmara, intimou Fontana a imediata interrupção da extração da grama, assim como a devolução das leivas já arrancadas.
Isso só pode ser considerado como um grande exemplo. Dois imigrantes preocupados com as posturas e o aspecto físico da cidade. Um absorvido em criar o nosso belo Passeio Público e o outro, lutando para a permanência da natureza na campina, que já tinha status de área pública.
Já foi o tempo do fio do bigode. Curitiba cresceu e a cabeça dos políticos encolheu. Cada um cuide do que é seu e o resto que se lixe. Como se não bastasse os escândalos da atualidade na Câmara dos Vereadores, a nossa obreira prefeitura vem fazendo vista grossa para certos acontecimentos que prejudicam a população. Agora mesmo, como se diz, em baixo do meu nariz está ocorrendo uma excrescência que vilipendia posturas e coloca em risco a saúde popular.
Dentre as muitas obras que surgem pela nossa urbe, como apropriação de calçadas para o comércio, invasão de recuos, prejuízo a visibilidade e privacidade de vizinhos e também construções em lugar indevido e que devem ser fiscalizadas pela prefeitura, através da Comissão de Segurança em Edificações de Imóveis - Cosedi, existe uma, na esquina da Avenida Vicente Machado com a Rua Jerônimo Durski, que extrapola todas essas posturas, chegando ao cúmulo de construir um depósito de lixo hospitalar, conhecido como infectante, completamente fora do alinhamento e junto à calçada usada pelos pedestres.
Para completar, foi levantada uma rampa de cimento sobre a própria calçada, a fim de que ali subam e estacionem caminhões de lixo, utilitários de lavanderias e demais tipos de viaturas. O estabelecimento surgiu como uma clínica e logo se transformou em hospital. Pergunto ao nosso caro prefeito, que também é médico, se a nossa estimada Curitiba, em sua gestão, está virando num tipo de Casa da Mãe Joana?