Uma parte da tarifa paga pelo passageiro de ônibus de Curitiba vai para a locação de 80 banheiros químicos que serviriam aos cobradores das estações-tubo. Desde o ano passado, mais de R$ 650 mil já foram desembolsados com esse propósito – média de R$ 34 mil por mês. Mas nenhum banheiro foi instalado desde então. Sem o equipamento, trabalhadores têm recorrido a terrenos baldios e postes como “opções” em estações isoladas.
Instaladas em 1991 na cidade, as estações-tubo não foram projetadas originalmente para ter banheiros – mesmo tendo sido idealizadas já sabendo que ali haveria cobradores. De alguns anos para cá, os trabalhadores passaram a fazer protestos por melhores condições nesses locais, inclusive pedindo a instalação de banheiros.
Outro lado
A Urbs informou que participará de uma reunião com os empresários intermediada pelo Ministério Público ainda neste mês para discutir, entre outros assuntos, a questão dos banheiros. Disse ainda que tem um procedimento interno para notificação das empresas, para que elas se manifestem sobre o porquê dos equipamentos não terem sido alugados.
Paralelamente à discussão sobre a locação, a prefeitura informou que um novo modelo para as estações-tubo, que contempla banheiros, já está aprovado pelos arquitetos autores do projeto original. Em caso de substituições ou novos pontos de embarque, esse novo projeto será instalado.
As empresas de ônibus, por sua vez, informaram que não são parte na ação movida no MPT. O Setransp disse que já pediu o fim do repasse referente aos banheiros químicos e o desconto do valor já repassado e que, em fevereiro deste ano, a Urbs manteve esse repasse nas tarifas mesmo sabendo que os empresários não têm interesse em realizar a locação.
Já a Comec afirmou que tem apenas quatro estações-tubo e que aguarda uma decisão final sobre a ação do MPT para adotar as medidas que forem determinadas pela justiça.
O Ministério Público do Trabalho ingressou com uma ação em 2014 para cobrar melhorias nas estações-tubo. Em novembro do ano passado, um juiz do Tribunal Regional do Trabalho determinou que a Urbs e a Comec instalassem os banheiros. Mas a decisão ficou condicionada ao transitado em julgado da ação. Ainda falta a análise de um colegiado do Tribunal Regional do Trabalho da 9.ª Região e, em caso de recurso, do Tribunal Superior do Trabalho.
Nesse meio tempo, como alternativa emergencial, a Urbs inseriu na tarifa a conta do aluguel de 80 banheiros químicos. A decisão foi tomada em novembro de 2015, retroativa a fevereiro daquele ano. Eles serviriam a 150 das 350 estações-tubo da cidade por causa da proximidade entre algumas delas. Mas naquele mesmo mês as empresas decidiram não contratar o serviço e enviaram um ofício à prefeitura pedindo para não receber mais o recurso. Elas também disseram que irão devolver o que já receberam.
No meio desse imbróglio, o trabalhador continua sem opções aceitáveis. Na estação-tubo Mossunguê, João Bittencourt, de 59 anos, aponta para o mato quando questionado como faz para ir ao banheiro. “É o que nos resta”, lamentou. Ele trabalha há 15 anos como cobrador e há pouco mais de dois anos está na estação-tubo da Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, onde não há comércio por perto.
Situação semelhante vivem os cobradores da estação-tubo Camilo de Lellis, em Pinhais. O equipamento é administrado pela Comec, que assim como a Urbs também é ré na ação movida pelo MPT. Sem um banheiro por perto, os trabalhadores instalaram uma porta encostada em uma área vazia para ter mais “privacidade”.
Em um protesto realizado em dezembro do ano passado, o Sindimoc instalou um banheiro de alvenaria na estação-tubo Arroio Cercado, na Rua Ricardo Gasparian Machado, no Sítio Cercado. À época, a prefeitura havia notificado o sindicato para que demolisse o banheiro por entender que ele não fazia parte do mobiliário urbano da cidade. Mas até hoje ele continua no local.
“Falta de banheiros dificulta tratamento”, diz médico do Sindimoc
Urologista responsável por atender trabalhadores do transporte coletivo de Curitiba, o médico Juliano Scheffer afirmou que a ausência de banheiros para esses profissionais dificulta o tratamento de doenças urinárias. “Em via de regra, o tratamento pede que a pessoa esvazie a bexiga regularmente. A cada duas horas, de preferência. Mas se não tem banheiro, isso fica bem difícil de recomendar”, afirmou.
O especialista chama atenção também para a média de idade da categoria. “São trabalhadores com idade média superior a 40 anos. E nessa faixa etária que em geral começam a surgir as primeiras complicações urinárias. Um dos sintomas mais evidentes da infecção urinária é que a pessoa começa a sentir mais vontade de ir ao banheiro”.
Segundo o médico, as doenças urinárias mais comuns entre esses profissionais são a hiperplasia de próstata benigna, a infecção do trato urinário, a incontinência urinária e cólica renal com cálculo urinário. Scheffer destaca que as dificuldades para tratar essas doenças acabam trazendo prejuízos para todos. “Se não tem banheiro, acabamos tendo que afastar esse trabalhador. Isso é ruim para todo mundo, inclusive para os empregadores”.
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