| Foto: Rogério Alves/TV Senado/Fotos Públicas

Pela primeira vez desde a tragédia de Mariana, em novembro do ano passado, a mineradora Samarco e suas controladoras, Vale e BHP Billiton, responsáveis pela barragem do Fundão, reconheceram que a ruptura do reservatório ocorreu numa obra aberta no topo da estrutura.

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O anúncio sobre as causas do desastre – que matou 19 pessoas e deixou um rastro de destruição por todo o Rio Doce até o litoral do Espírito Santo – foi realizado na tarde desta segunda-feira (29), em Belo Horizonte, com a presença dos presidentes da Samarco e da Vale e do diretor comercial global da BHP.

As mineradoras apresentaram os resultados de uma investigação própria sobre a tragédia, mas evitaram falar em culpados pela série de falhas de projeto e operação ocorridas desde o início do funcionamento do reservatório, em dezembro de 2008. No evento, jornalistas foram orientados a não fazer perguntas sobre as responsabilidades no desastre de Fundão.

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Segundo as investigações, a ruptura se deu por processo de liquefação: os rejeitos armazenados na estrutura fluíram como líquido, numa “transformação abrupta” desses materiais. A liquefação ocorreu porque a areia armazenada ali estava solta (não compactada) e encharcada de água. As mineradoras não explicaram por que não houve controle da água. Fundão recebia rejeitos arenosos e lama, inclusive da Vale.

A tragédia, como a Polícia Federal já havia apontado no início deste ano, ocorreu na lateral esquerda da barragem, onde a Samarco havia recuado a parede no topo de Fundão, formando um “S”.

A alteração foi feita porque naquele ponto a mineradora precisou abrir um canteiro de obras para solucionar problemas antigos numa galeria. Nesse chamado recuo do eixo, Fundão se apoiava sobre lama que não deveria estar ali (mas acabou indo para o local por problemas de drenagem).

Segundo o professor emérito de engenharia civil pela Universidade de Alberta, no Canadá, Norbert Morgenstern, um dos quatro especialistas contratados para investigar o caso, o rompimento ocorreu como se uma “bisnaga de pasta de dente” fosse pressionada.

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A areia presente na região do recuo pressionou a lama que estava embaixo, fazendo-a ser expelida (como em uma bisnaga). O especialista não respondeu se a existência do recuo, por tanto tempo, era indicada. A obra era temporária, mas acabou sendo permanente.

A investigação também aponta os tremores de terra sentidos na região como possíveis gatilhos para a ruptura da barragem. Como não havia instrumentos no local no momento do desastre capazes de medir a capacidade de interferência dos tremores, não há certeza sobre essa influência. A hipótese já havia sido descartada pela Polícia Federal, mas é considerada pelas mineradoras.

Os presidentes das empresas, Roberto Carvalho (Samarco), Murilo Ferreira (Vale) e o diretor da BHP, Dean Dalla Valle, não comentaram os resultados das investigações. Perguntas dos jornalistas não puderam ser feitas aos três.

Eles pediram desculpas pela tragédia, disseram sentir pelos familiares e amigos das 19 vítimas e pelos danos causados às comunidades e ao meio ambiente. Afirmaram ainda esperar que as investigações cujos resultados foram divulgados nesta segunda contribuam para a segurança na mineração.

As perguntas que a investigação da Samarco, Vale e BHP buscou responder:

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Por que aconteceu um fluxo fluido de rejeitos?

Fundão armazenava rejeitos arenosos e lama. A areia na barragem estava solta, sem compactação e havia muita água na estrutura, não retirada por problemas de drenagem. Por isso, ocorreu liquefação: a areia transformou-se abruptamente em um fluxo fluido de lama.

Por que o fluxo fluido de rejeitos ocorreu no local onde ocorreu?

A Samarco encurvou o eixo de Fundão, criando uma obra na forma de “S”, chamada de recuo, pois precisou abrir um canteiro de obras no topo do reservatório para resolver problemas antigos numa galeria. O recuo fez a barragem se apoiar sobre a lama, que foi levada ao local por problemas de drenagem. A areia pressionou a lama como numa “bisnaga de pasta de dente” e o material acabou sendo expelido.

Por que o fluxo fluido de rejeitos ocorreu no dia 5 de novembro de 2015?

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Segundo os especialistas contratados pelas mineradoras, tremores sentidos no dia 5, pouco antes da tragédia, não podem ser descartados como gatilhos para a ruptura. Na condição em que a estrutura estava, eles podem ter dado o ponta-pé inicial para o desastre.