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educação infantil

Pequenos, mas independentes

Guilherme e seus pais, Silvana e Fernando: aos 9 anos, cuidando das próprias tarefas. | Lucas Pontes/Gazeta do Povo
Guilherme e seus pais, Silvana e Fernando: aos 9 anos, cuidando das próprias tarefas. (Foto: Lucas Pontes/Gazeta do Povo)

Guilherme tem 9 anos, está no 5.º ano do ensino fundamental e planeja que, quando tiver 18, vai trabalhar para se sustentar. “Por enquanto, meus pais é que pagam o que eu preciso. Quando eu trabalhar, não será mais necessário”, avisa. Ele é responsável pela hora em que vai fazer as tarefas da escola e os pais não interferem nessa responsabilidade. O menino escolhe os livros que lê e tem opiniões sobre política.

Não foi sempre assim. Os pais – Silvana Carbonera e Antônio Fernando Zanatta – tinham, por exemplo, de pedir todos os dias para que Guilherme fizesse a atividade escolar. “É um treino. Envolve acordos, responsabilidade, escuta e liberdade para falar e ser ouvido”, enumera a mãe.

Esse treino começou há pouco mais de um ano e os pais sentem a diferença. Guilherme faz aula de parkour e sabe que, no intervalo entre as lições com o professor, precisa treinar em casa. Com as tarefas escolares, ele se organiza sozinho. “Se esquece uma tarefa, não tento remediar. Aprendeu a arcar com as consequências”, explica Silvana.

Guilherme é uma criança independente, mas é uma exceção . “Dá para observar a dependência de aprovação dos adultos inclusive em crianças bem pequenas. Até para escolher um brinquedo e para comer”, comenta a psicóloga Priscila Badotti.

A independência infantojuvenil é uma questão mais complexa do que parece, pois os cuidadores não devem estar ausentes – eles estão ali para ajudar a tomar decisões. A autonomia é um processo e depende da participação dos pais. “Quem cuida da criança pode ajudá-la nas pequenas tarefas do dia a dia. Precisa fazer sozinha alguma ação e ter o pai ou cuidador por perto para dizer: ‘Muito bem, esse é o caminho. Pode tentar melhorar. Dá próxima vez, você vai fazer melhor’. É essencial ter a segurança do adulto por perto no início dessa caminhada”, observa a psicóloga.

Superproteção

Observadores da educação infantil relatam que cada vez mais os pais – seja por insegurança ou por suas próprias histórias de vida – acreditam que deixar a criança fazer atividades por conta própria é uma forma de negligência. “Vemos pais que se dispõem a atender a criança na hora que ela quer e como quer. Essa atitude é prejudicial a longo prazo”, completa.

Juliana Boff, coordenadora pedagógica do Colégio Sion, conta que, em geral, as crianças demonstram interesse pelas atividades solitárias, mas os pais e cuidadores acabam fazendo por elas. Na escola, por isso, os pequenos são motivados a fazer algumas tarefas. “São coisas simples, como dar um recado ou entregar alguma coisa a alguém. O aluno começa a se perceber, desloca-se com segurança e começa a aprender”, explica.

A criança tem possibilidade de aprender sozinha a maioria das atividades da vida prática, mas precisa ter oportunidade para isso. “Vai vestir o casaco sozinha ou abotoar uma blusa. Na primeira vez, pode errar, demorar. Mas se repetir, com a supervisão de um adulto, em breve consegue fazer sozinha”, diz Juliana. A educadora concorda que, nos últimos anos, a superproteção dos pais ficou mais evidente: “Poupa-se o filho de experimentar situações das quais ele precisa. É antigo o ditado que diz que a criança precisa cair para aprender a levantar”, resume.

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