Há até pouco tempo considerado uma forma mais branda da dengue, o zika agora desafia pesquisadores e médicos. Confirmada a relação entre a doença e o aumento no número de casos de microcefalia, agora os pesquisadores correm contra o tempo para entender como o vírus atua no organismo.
Por enquanto, o que se tem são mais perguntas que respostas. Confira os principais questionamentos relacionados ao vírus que os pesquisadores ainda buscam solucionar:
1. A cepa do vírus que circula no Brasil sofreu alguma mutação?
Por enquanto, os pesquisadores já conseguiram decodificar cerca de 97% do material genético do vírus zika em circulação no país. Com isso, já se sabe que ele é muito parecido com o da cepa asiática, que causou surtos em uma ilha da Micronésia e na Polinésia Francesa. Mas só depois que 100% do material tiver sido decodificado é que poderá haver uma certeza se é o mesmo tipo de vírus ou se ele sofreu alguma mutação.
2. Por que o zika contaminou tantas pessoas se a carga viral detectada no sangue é muito baixa?
A principal forma de transmissão do zika é por meio da picada do mosquito Aedes aegypti, num ciclo homem -mosquito-homem. Ou seja, o mosquito pica uma pessoa infectada, se contamina ao ingerir o sangue do doente e passa a infecção para a próxima pessoa que picar. Considerando que é encontrado muito pouco vírus na corrente sanguínea de quem tem zika, a lógica seria que fosse mais difícil para o mosquito ser contaminado. Mas a velocidade com que a doença se espalhou pelo país e o número de casos demonstra o contrário. Os cientistas querem entender o por quê disso.
3. Quanto tempo depois de picar uma pessoa com zika o mosquito passa a contaminar outros humanos?
No caso da dengue, esse ciclo demora cerca de 10 dias. Mas no zika, como funciona? Isso é importante para saber qual a velocidade de transmissão da doença.
4. Quais as outras formas de infecção além da picada do mosquito?
Já há na literatura médica relatos de contaminação de zika por contato sexual e transfusão de sangue – caso, inclusive, ocorrido no Brasil. Saber se essa forma de contaminação realmente ocorre é importante para orientar sobre os outros cuidados necessários para a prevenção da doença. Sobre a amamentação e o parto, ainda não há nada comprovado.
5. Toda gestante que tiver contato com o vírus durante a gravidez terá um bebê com microcefalia?
Os cientistas ainda não conseguiram demonstrar como vírus age em gestantes e bebês. Por isso mesmo, ainda não é comprovada uma relação de causa e efeito entre zika vírus e microcefalia. O que se sabe é que existe uma relação entre o vírus e o surto de microcefalia no país. Agora, os cientistas precisam saber se toda grávida que tiver contato com o vírus terá um bebê com problemas neurológicos, se o momento da infecção influencia no grau da gravidade de uma possível má-formação e se nos casos assintomáticos (80% deles) o vírus também atinge o feto.
6. Qual o papel da resposta imune prévia da mãe contaminada pelo zika vírus para o desenvolvimento de bebês com microcefalia?
Os vírus da dengue, febre amarela e zika são muito parecidos e, por isso, a resposta imunológica a um deles pode influenciar a forma como o organismo vai reagir quando tiver contato com outro. Essa é uma linha de pesquisa nas investigações da relação entre o zika vírus e o aumento de casos de microcefalia. Os cientistas querem saber se a resposta imune previa da gestante para dengue e febre amarela influencia de alguma forma a formação do bebê caso a mãe se contamine com zika vírus.
7. No caso de fetos com microcefalia, onde o vírus se esconde?
Por enquanto, o que foi encontrado pelos cientistas foi a presença de RNA viral no líquido amniótico de gestantes que tiveram zika no primeiro trimestre da gravidez. Isso indica que o vírus está presente, mas não se sabe onde ele está instalado. Os casos de microcefalia demonstram uma predileção do agente pelo tecido neurológico. Mas os cientistas ainda precisam descobrir onde exatamente o vírus se aloja e como atua.
8. Existe um padrão de má-formação dos bebês com microcefalia relacionada ao zika?
Microcefalia não é uma doença por si só. Ela apenas indica que existe algo de errado com o cérebro do bebê e pode vir acompanhada por outras má-formações no resto do corpo. No caso de microcefalia relacionada ao zika, os médicos e pesquisadores estão tentando estabelecer se existem má-formações típicas. Já se detectou, por exemplo, problemas oculares graves nessas crianças. Há também casos de lesões em algumas partes do cérebro, sem que isso tenha afetado o tamanho do crânio.
9. E no caso de pessoas que desenvolveram a Síndrome de Guillain-Barré, qual a influência do zika?
Da mesma forma que ocorre na microcefalia, os pesquisadores já sabem que há uma relação entre o vírus e o aumento no número de casos da síndrome, que é uma doença autoimune que ataca o sistema nervoso. Agora, é preciso saber como o vírus atua nos casos em que há essa relação. Também como na microcefalia, descobrir onde o zika se aloja no corpo e qual o papel da resposta imune prévia é essencial. Os pesquisadores tentam descobrir se quem teve dengue ou foi vacinado para febre amarela e se contamina por zika tem mais chances de desenvolver Guillain-Barré.