NOVIDADE| Foto: Mauro Campos

Valdomiro Araújo Miranda, 64 anos, tem uma história diferente da maioria das outras 29 pessoas que ainda moram no Hospital Dermatológico Sanitário do Paraná. Ele é dos poucos ali que não perdeu laços com a família. Tanto que sempre está em contato por telefone com os cinco irmãos que moram em Maringá, com quem também costuma passar as festas de fim de ano. Mas mesmo o carinho da família não foi suficiente para fazer com que Valdomiro escapasse da tristeza do isolamento compulsório.

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Por volta dos 15 anos de idade, Valdomiro saiu de Promissão para ser internado no hospital-colônia da vizinha Bauru, no interior de São Paulo. Ficou lá um ano e dois meses e retornou para casa. "A única recomendação dos médicos era para que eu separasse minhas roupas, prato, talher, para não contaminar meus pais e meus irmãos", diz.

Em 1967, a família se mudou para Cambira, no Norte do Paraná, para trabalhar na lavoura de café. Em 1974, por conta de um derrame, Valdomiro foi obrigado a retornar a um hospital-colônia. Tudo porque nenhum hospital queria tratá-lo por ser portador de hanseníase. "O doutor de Maringá me encaminhou para Piraquara. Vinha e voltava para o tratamento uma ou duas vezes por ano até 1982", relembra.

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Como a viagem de ônibus de cerca de 500 quilômetros era cansativa e o calor do Norte do Paraná só agravavam as feridas da hanseníase, Valdomiro decidiu ficar morando de vez em Piraquara. Ali, teve a perna direita amputada em 1984 – o que o obriga a andar em uma cadeira de rodas. Outras seqüelas da doença são o pé esquerdo virado para fora, lembrando uma foice, e a mão virada para baixo, em forma de garra.

Sobre os R$ 750 a que terá direito da pensão do governo federal por ter sido isolado compulsoriamente, Valdomiro (que sobrevive com a pensão rural, no valor de R$ 380 por mês) faz planos. Pensa em voltar a morar com a família em Maringá. "Sinto muita saudade deles. É diferente eu morar perto deles do que eles virem aqui me visitar sempre", aponta.

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