Equipe da Polícia Federal de Ponta Porã e de Naviraí retornaram neste sábado à área de conflito entre índios e fazendeiros, onde o cacique Nísio Gomes teria sido morto a tiros por pistoleiros supostamente contratados pelos ruralistas. Segundo a assessoria da PF, as equipes estão tentando localizar o corpo do cacique e apurar quem foram os responsáveis pelo ataque ao acampamento dos guarani-caiuá ocorrido no início da manhã de sexta-feira.
Há vinte dias os índios estão no local, às margens da rodovia estadual MS-386, em Amambai, na fronteira com o Paraguai. Os índios dizem que cerca de 40 homens armados e boa parte deles encapuzados, chegaram em caminhonetes atirando e mandando todos se deitarem
No final da tarde deste sábado, a PF ouviu testemunhas, entre elas Valmir Cabreira, filho do cacique que teria sido morto. Alguns índios que estavam com ferimentos de tiros de borracha foram encaminhados para fazer exame de corpo de delito. A PF informou que oficialmente ainda não trata o caso como homicídio, já que não há ainda a confirmação de que Nísio Gomes esteja morto. A polícia também apura a denúncia feita por Valmir, de que os pistoleiros sequestraram dois adolescentes de 12 anos e uma criança de cinco anos.
No dia do ataque, a Polícia Federal, Funai e Ministério Público Federal enviaram equipes para o acampamento denominado Tekoha Guaviry. Segundo a assessoria do MPF, a perícia recolheu cartuchos de balas de borracha e um boné que estaria sendo usado pelo cacique no dia do ataque. O boné apresenta uma perfuração que, segundos os índios, foi provocada pelo tiro que acertou a cabeça de Nísio.
Valmir conta que o pai foi morto com tiros na cabeça, pescoço, peito, braços e perna. Também ficou constatado marcas que indicam que um corpo foi arrastado, o que poderia ser o do cacique, já que, segundo Cabreira, depois de matar o cacique os pistoleiros levaram o corpo de colocaram dentro de uma das caminhonetes.
Segundo o coordenador estadual do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Flávio Vicente Machado, neste sábado os índios voltaram ao acampamento e estão fazendo a conferência se há algum desaparecido. Ainda não foram localizados os adolescentes Mauro Martins, de 15 anos, e Jailson Brites, de 16, desaparecidos desde o ataque dos pistoleiros. O coordenador da Funai em Ponta Porã, Silvio Raimundo da Silva, voltou ao acampamento na sexta-feira a tarde, para verificar a situação. Segundo ele, no local estavam cerca de 60 dias. De acordo com o Cimi, os indígenas querem que a PF se empenhe em localizar o corpo do cacique Nísio Gomes, para que ele seja enterrado conforme as tradições dos guarani-caiuá.
O ataque ao acampamento indígena ganhou repercussão entre os movimentos sociais. O Cimi e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) classificaram o episódio como um "massacre". Segundo o Cimi, a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos deve vir a Mato Grosso do Sul na próxima semana para visitar a área de conflito.
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