Cartunista tem duas missas de 7.º dia
Amigos e parentes participaram ontem da missa de sétimo dia do cartunista Glauco Vilas Boas, 43 anos, e do filho dele, Raoni, 25 anos, mortos na madrugada da última quinta-feira. Organizada pela primeira mulher do cartunista, Érica Ornellas, 45 anos, mãe de Raoni, a celebração foi no Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Beatriz Galvão, a Bia, viúva de Glauco, não compareceu, pois também realizou uma missa ontem à noite na Igreja Céu de Maria, dentro dos ritos do Santo Daime.
São Paulo - Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 25 anos, acusado de matar o cartunista e líder religioso Glauco Vilas Boas e seu filho Raoni, confessou à polícia que planejava sequestrar Beatriz Galvão, viúva de Glauco, quando retornasse do seu refúgio no Paraguai. Nunes foi preso na noite de domingo ao tentar atravessar a ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu, no Oeste do estado. Na noite de quinta-feira, ele matou Glauco e Raoni a tiros na chácara do cartunista em Osasco, na Grande São Paulo, após tentar sequestrá-lo.
Seu objetivo era esclarecer, por meio de um líder religioso, quem seu irmão, Carlos Augusto, 22 anos, teria sido em outras encarnações. "Teria de se ausentar do local, mas voltaria até conseguir realizar seu intento que dissessem que seu irmão é o Cristo encarnado, diz trecho de seu interrogatório à Polícia Civil de Osasco dado na quarta-feira em Foz, onde ele continua preso na sede da Polícia Federal. Depois de atirar nas vítimas, Nunes voltou três vezes à região do crime, no Parque Santa Fé, em Osasco, antes de tentar fugir para o Paraguai.
Além de Beatriz, outro possível alvo de sequestro seria o líder religioso de nome Alfredo, também integrante da igreja Céu de Maria, fundada e dirigida pelo cartunista. A sede da igreja fica também na chácara onde Glauco morava. O advogado de Nunes, Gustavo Badaró, confirma que seu cliente tinha esse plano, mas, para ele, a confissão reforça sua versão de que o rapaz não tinha intenção de matar quando foi até a casa do cartunista. Para a polícia, o fato de Nunes ter vendido drogas na região da Vila Madalena, em São Paulo, para comprar a arma, como ele mesmo admite, demonstra esse planejamento.
Celular
A polícia ouviu ontem a psicóloga Eneida Iasi, mãe do estudante Felipe de Oliveira Iasi, 24 anos, que levou Nunes de carro até o local do crime. O objetivo era tentar esclarecer a participação de seu filho no crime. Há suspeita de que Iasi transportou Nunes na fuga após os assassinatos.
Além de ouvir a psicóloga, policiais fizeram ontem uma cronometragem do trajeto feito por Iasi após deixar a chácara de Glauco na rota apontada pelo rastreador de seu carro. Os policiais querem saber se, de fato, ele não ajudou o assassino na fuga, como disse em seu depoimento.
Na quarta-feira, a Polícia Civil apresentou dados fornecidos a partir do telefone celular de Nunes que apontam que ele percorreu na noite do crime 9 km em oito minutos. A base desses cálculos foram as torres de retransmissão do sinal.
Sigilos
A polícia de São Paulo já pediu à Justiça a quebra dos sigilos telefônicos de Nunes e Iasi. Em depoimento dado em São Paulo, Iasi disse que deixou a chácara de Glauco antes que o cartunista e o filho dele fossem mortos; a versão foi confirmada por Nunes. "A gente quer saber o que ele (Nunes) falou, quando, com quem e por quanto tempo depois que saiu do local", disse o delegado Marcos Carneiro, diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo.
O delegado suspeita que Iasi tenha ajudado na fuga. Os policiais também querem saber porque ele deixou seu aparelho desligado entre 23h22 do dia 11 e 7h48 do dia 12, data dos assassinatos, já que disse ter sido sequestrado e obrigado a levar Nunes à casa das vítimas.
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