A operação policial que cercou a Assembleia Legislativa e ocasionou “a batalha do Centro Cívico”, há exatamente um mês, custou R$ 948,3 mil aos cofres públicos. A conta leva em consideração as quantias gastas com munição não-letal e diárias dos policiais militares que participaram da operação. Ao todo, os 2.516 policiais designados para a ação dispunham de 2.323 balas de borracha e 1.413 bombas de fumaça, gás lacrimogêneo e de efeito moral, além de 25 garrafas de spray de pimenta, para conter os manifestantes que se aglomeravam em frente à Assembleia Legislativa.
A munição era suficiente para disparar 20 balas de borracha por minuto. Também era possível arremessar 11 bombas no mesmo tempo. O conflito durou cerca de duas horas, na tarde do dia 29 de abril, e deixou mais de 200 feridos.
As informações, divulgadas pela primeira vez após um mês do episódio fatídico, constam de documento oficial enviado pela Polícia Militar do Paraná (PM-PR) ao Ministério Público de Contas, ao qual a Gazeta do Povo teve acesso. O ofício é assinado pelo comandante-geral da PM, Maurício Tortato, e por outros membros do alto escalão da corporação.
Se as contas do sindicato dos professores estaduais, a APP-Sindicato, estiverem corretas, 20 mil servidores participaram do protesto. Assim, havia munição para atingir um em cada cinco servidores. É possível considerar que a operação “Centro Cívico” custou R$ 47 para cada manifestante.
Segundo a PM, 1.661 policiais militares lotados na região de Curitiba e outros 855 do interior foram deslocados para a operação. Com estadia, alimentação e transporte, o gasto para manter o efetivo chegou a R$ 553,2 mil. As munições de menor potencial ofensivo usadas na operação custaram R$ 395 mil. A mais usada, a bala de borracha calibre 12, custou R$ 22,75 a unidade. Foram comprados 1.104 projéteis. Já o tipo de bomba com maior disponibilidade foi a granada explosiva de efeito moral com corpo de borracha. A PM comprou 479 unidades por R$ 188,23 cada.
O ofício da PM cita, ainda, que não houve registro de policiais presos por insubordinação durante a operação policial.
Na ocasião, os servidores protestavam contra a votação do projeto que alterava a previdência dos servidores. Mesmo com a guerra na praça, a proposta foi aprovada pelos deputados e sancionada pelo governador Beto Richa (PSDB) um dia depois. Pelo texto, servidores com mais de 73 anos migraram para o fundo previdenciário do Paranaprevidência, diminuindo a solvência do fundo para pouco mais de 30 anos.
A diretora de Finanças da APP-Sindicato, Marlei Fernandes de Carvalho, afirmou que o relatório do MPC comprova o uso desproporcional da força contra os manifestantes. “É lamentável, muito triste e mostra o quão desproporcional foi. Por isso chamamos aquele dia de massacre. Ter tudo isso disponível para usar contra servidores que faziam uma manifestação pacífica? É cada vez mais assustador”, afirmou. Ela também criticou o gasto com diárias de policiais de outras cidades para atuar no protesto.
Marlei disse ainda que o arsenal disponível aponta para uma premeditação do governo na operação. “Era desnecessário e o governo podia ter paralisado a ação dos policiais, mas não o fez”.
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