Dois policiais militares foram presos nesta terça-feira (29), em Curitiba, suspeitos de terem participado da chacina que deixou quatro mortos na Vila Osternack, no bairro Sítio Cercado, na capital paranaense. O crime é investigado pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que disse não poder passar detalhes do inquérito pelo caso correr sob sigilo.
A titular da DHPP, Maritza Haisi, e o delegado Cristiano Quintas, defenderam que há um conjunto probatório que sustenta a suspeita sobre os dois, mas que o caso ainda está em investigação. Segundo Quintas, o sigilo foi pedido para que se garantisse a "integridade do inquérito".
Questionados sobre a possibilidade de os policiais suspeitos fazerem uma cobrança de pedágio dos traficantes - propina para não atrapalhar as atividades ilícitas -, a delegada disse apenas que isso também faz parte da investigação e, por isso, o fato não pode ser comentado.
Os PMs presos foram encaminhados ao Batalhão de Polícia de Guarda, que fica em Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba. Por serem policiais, eles ficam sob custódia da PM durante o processo e detidos na corporação. A prisão dos policiais é temporária, ou seja, a princípio é válida por 30 dias. Os dois policiais não devem ser ouvidos hoje por "estratégia de investigação", segundo Quintas.
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), braço do Ministério Público (MP) do Paraná não participou das investigações. O coordenador geral do órgão, promotor Leonir Batisti, disse que a DHPP tem autonomia para realizar investigações que envolvam inclusive a suspeita de participação de policiais. Em geral, o envolvimento do Gaeco em uma investigação é feita quando há solicitação por parte das autoridades envolvidas nos casos.
Policiais
O advogado Cláudio Dalledone, que defende os policiais militares suspeitos de participação na chacina, diz que pediu a quebra do sigilo do inquérito. Ele alega inocência dos policiais suspeitos e afirmam que ambos têm pouco tempo na corporação, bem como boa conduta. "Pedimos a quebra do sigilo para que não prevaleça esse estado de coisas (obscuras)". O advogado quer ter acesso aos documentos que mostrem como a DHPP chegou a essa conclusão - se por meio de testemunhas, provas documentais ou imagens de câmeras de segurança.
Em entrevista concedida ao telejornal Paraná TV 1ª Edição, da RPCTV, os policiais contestaram a investigação e alegaram inocência. Eles disseram que trabalhavam na corporação há pouco tempo juntos e que no dia da chacina estavam em uma confraternização familiar. Os suspeitos ainda contestaram a idoneidade de testemunhas ouvidas pela DHPP.
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que a corregedoria da corporação trabalha em conjunto com a Polícia Civil nas investigações.
A reportagem questionou a PM sobre a conduta dos policiais na corporação e se já havia alguma suspeita do envolvimento deles com tráfico de drogas ou ameaças, mas a PM disse que "outras informações serão passadas em momento adequado, já que agora podem atrapalhar no andamento dos trabalhos investigativos".
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR) também foi procurada, mas não deu retorno até as 18h45.
O crime
O crime aconteceu por volta de 1h30 da madrugada, em uma casa na Rua Jardim Alegre, no dia 30 de junho. Entre as vítimas estavam uma grávida, dois adolescentes e um homem de 29 anos. As quatro vítimas da mesma família foram mortas com tiros na cabeça enquanto dormiam. Uma menina de 5 anos conseguiu sair da casa e avisou a PM com a ajuda de um taxista. A criança está sob proteção do Estado.
As vítimas foram identificadas como Jonathan Pereira Veloso, 29 anos, Jaqueline Garcia da Silva, 33 anos, grávida de seis meses, Kauane Garcia Diaz, 16 anos, e Ailton Garcia Diaz, 14 anos. A suspeita inicial era de que Veloso teria envolvimento com o tráfico de drogas, mas a informação não foi confirmada pelos policiais nesta terça-feira.
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