Os estudantes Maria Clara de Lara, Gabriel Lacerda e Ana Reis caçam pokémons no local.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Cabeças baixas e sussurros. Com os dedos prontos e olhos atentos, os jogadores da febre atual “Pokémon Go” encaram a tela do celular esperando que apareça uma das criaturas para capturar. Enquanto isso, outros carregam os aparelhos nas tomadas do Passeio Público.

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De repente, uma correria. Algum pokémon raro está nos arredores e os diversos mestres pokémon vão atrás de mais um para a coleção. Aparentemente, esta é outra tarde normal no Centro de Curitiba, que vem sendo ocupado pelos fãs do Pikachu desde o lançamento do jogo em nossas terras, em 3 de agosto.

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A estudante do terceirão Maria Clara de Lara, de 17 anos, conta que não conhecia o lugar antes de usar o aplicativo. “Essa é a segunda vez que passo por aqui para jogar. Nunca tinha vindo”, afirma a garota que está no nível 18. Já Gabriel Lacerda, de 18 anos, afirma que usa o espaço para se exercitar.

“Eu já corria aqui aos fins de tarde”, explica. Outra estudante, Ana Reis (18), diz que frequentava o Passeio com a família . Ela acredita que o jogo acaba isolando mais as pessoas. “Todo mundo anda de cabeça baixa. Eu já cheguei a conversar rapidamente com alguém, mas não evoluiu disso para uma amizade”, posiciona-se.

Jovens passam a tarde conversando e jogando. Eles também aproveitam para carregar os celulares quando podem 

Enquanto os três estão ali de passagem para coletar alguns itens nas PokéStops – pontos onde é possível conseguir benefícios do jogo, como pokébolas e ovos de pokémon – outros passam várias horas do dia sentados no chão e conversando.

Esse é o caso dos amigos Edilson Lima Jr., de 30 anos, e Carlos Meri Filho, de 31. Ambos desempregados passam o tempo livre conhecendo novas pessoas e jogando.

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Meri Filho, que joga há um mês e já está no nível 23, conta que todos os dias captura pokémons.“Eu e o Edilson nos conhecemos faz tempo, mas já fizemos outras amizades aqui no Passeio Público.

Saímos de carro pela cidade e vamos jogando, chegamos a ficar oito horas fazendo isso”, conta o ex-chefe de cozinha. Para Lima Jr., o melhor do jogo é a união da realidade com o virtual e a acessibilidade. “Eu vejo pessoas de todas as idades se divertindo com o “Pokémon Go”, desde jovens até a faixa dos 60 anos”, afirma o administrador de empresas.

A comerciante Patrícia se preocupa com a interação excessiva com os celulares 

Embalo

Quem está aproveitando a febre é a comerciante Patrícia Felipe, de 33 anos, que acredita que existem dois lados nessa história.

“O movimentou aumentou bastante no período da tarde, mas eu me preocupo com o que essa geração faz para se divertir. Anos atrás as pessoas vinham até aqui para passear e conversar. Hoje, buscam algo que não existe de verdade. Eles vêm até aqui comprar algo, me dão dinheiro e não olham nos meus olhos”, afirma Patrícia.

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Já os estudantes de arquitetura Guilherme Vignoli, de 26 anos, e Gabriela Sonda, de 23 anos, acreditam que o jogo faz as pessoas saírem de casa e irem conhecer e ocupar espaços de Curitiba. “Ao mesmo tempo que esse entretenimento possibilita que as pessoas se apropriem da cidade, ele também expõe as contradições que existem nas periferias, onde quase não existem PokéStops, pois há uma circulação reduzida de pessoas”, comenta Vignoli. Ambos vão ao Passeio há duas semanas para jogar.