Delegado Guilherme Rangel: “A prisão é necessária para garantir a aplicação da lei penal e tentar ressarcir as vítimas| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A Polícia Civil cumpriu quatro mandados de prisão temporária e outros quatro de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira (14) contra as sócias e um diretor da agência de turismo Interlaken. A empresa anunciou o fechamento por meio de um post no Facebook no último dia 26 de dezembro, deixando 201 clientes lesados, num prejuízo estimado em aproximadamente R$ 2 milhões. Segundo informações da polícia, foram vendidos pacotes pela agência até o dia 23 daquele mês.

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Os mandados foram cumpridos nas casas dos suspeitos e em sedes da Interlaken, nos bairros Juvevê, Ahú, Atuba e Alto da XV. Segundo a polícia, o objetivo foi apurar qual o patrimônio dos envolvidos, além de evitar a fuga dos mesmos e a transferência de bens. Os alvos dos mandados de prisão são Lúcia e Marseille Fontoura - mãe e filha, sócias-proprietárias da Interlaken; Augusto Benzi, diretor financeiro, e uma sócia oculta, identificada como Regina Sueli Fontoura. Com eles, a polícia apreendeu celulares, R$ 3.300 em espécie, cartões bancários e passaportes, além de cheques de empresas, sócios e clientes. Os valores disponíveis nas contas bancárias ainda serão apurados.

Ma fé

Em um dos celulares apreendidos pela polícia, o marido de Marseille Fontoura reclama da conduta da esposa em mensagens trocadas com a mãe . “Marselle fez muita coisa errada na agência...só agora no final do ano mais de 100 pessoas vão ficar sem viagem...E só no meu nome ela fez uma dívida de mais de 150 mil reais(...) Segunda-feira acho que vai sair na RPC, Gazeta do Povo, e ela vai ser presa (...) Vai ser difícil, não sei o que faço...Se fico com ela ou acabo tudo (...).

Em outra mensagem, ele cita uma entrevista do delegado Guilherme Rangel: “O delegado falou que agiram de ma fé. Pior que foi”.

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Os presos já estavam sob custódia da polícia desde às 8h50 e serão transferidos para o Complexo Médico Penal de Pinhais, caso de Augusto, e Penitenciária Estadual de Piraquara, caso das mulheres. Todos têm nível superior e ficarão em celas especiais. “Em conjunto com o Ministério Público e Poder Judiciário, optamos pela prisão temporária. Ela é necessária para garantir a aplicação da lei penal e tentar ressarcir as vítimas”, disse o delegado Guilherme Rangel em entrevista coletiva. A prisão tem prazo de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco, caso haja necessidade.

Copa do Mundo

Os quatro suspeitos estão sendo indiciados por propaganda enganosa, associação criminosa, indução de consumidor ao erro e estelionato. Segundo o delegado, a pratica delituosa vinha ocorrendo desde 2014. “A crise da empresa se agravou no segundo semestre de 2015. Mas, pelo que investigamos, a situação financeira deles vinha difícil desde a Copa do Mundo”, disse. Além dos pacotes turísticos não entregues, a empresa também é investigada por vender pacotes completos e entregar apenas parte deles. Há clientes que compraram passagem e hospedagem, por exemplo, e chegaram no destino turístico sem ter onde ficar.

Sócia da Interlaken assegura a cliente que não há problema com reserva; ouça

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Risco de fuga

Apesar de preferir não cravar se os suspeitos tinham a intenção de fugir, Rangel afirmou que a retenção dos passaportes acaba por evitar qualquer possibilidade de que isso ocorra. “Sabemos que eles têm facilidade com essa questão de viagem por trabalharem com isso. Por isso a importância de reter os documentos”. Além disso, também havia o temor de que os sócios transferissem bens para terceiros antes que os bloqueios fossem efetivados pela Justiça. “Agora, com as quebras do sigilo bancário e telefônico, vamos verificar se eles estavam tentando ludibriar polícia e clientes”.

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A polícia também chegou a outras duas empresas que teriam participação com a Interlaken, uma na área de turismo e outra de construção civil. A utilização dessas empresas na suposta fraude será o próximo passo da investigação policial, segundo Rangel.

O secretário da Segurança Pública, Wagner Mesquita, participou da apresentação do material apreendido e também comentou o caso. “A insolvência civil é uma questão jurídica no nosso país para proteger o comércio e sabemos da situação difícil que o país tem passado na atividade comercial. No entanto, ficou clara a intenção fraudulenta que essa empresa tinha por que ela tinha ciência de que não cumpriria seus compromissos e potencializou suas vendas no final do ano”.

A reportagem não conseguiu contato com o advogado de defesa da agência de turismo. Um e-mail foi encaminhado pedindo um posicionamento do representante, mas ainda não obtivemos retorno.

Semana passada teve depoimentos

Lúcia e Marseille prestaram depoimento na quarta-feira (6) da semana passada na Delegacia de de Crimes contra a Economia e Proteção ao Consumidor (Delcon). No dia seguinte, prestou depoimento Augusto Benzi, diretor financeiro da agência, filho de Lúcia e irmão de Marseille. Na ocasião, ele informou que gostaria de ressarcir consumidores lesados, mas não tem patrimônio suficiente.