Uma denúncia apresentada pelo deputado Geraldo Pudim (PMDB-RJ) durante a audiência da CPI do Desaparecimento de Crianças, na Câmara dos Deputados, levou o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, a revelar um fato importante das investigações do misterioso desaparecimento de seis jovens em Luziânia (GO). Na reunião realizada nesta terça-feira (2), Pudim relatou ter recebido informações sobre o possível envolvimento de policiais militares de Goiás no sumiço dos adolescentes.
"Algumas pessoas me informaram que haveria envolvimento de policiais militares de Goiás em grupos de extermínio e que poderiam esses adolescentes terem sido vítimas desses grupos", afirmou ao G1 o deputado.
Questionado sobre a denúncia, Barreto admitiu que a Polícia Federal já trabalhava com a informação repassada pelo parlamentar. "A PF acompanha esse assunto com cautela, mas com muita proximidade. Já havia sido relatado esse fato. Até agora não se descobriu uma objetividade dessa afirmação. Não há nenhum indício claro da participação da polícia militar, mas não vamos descartar nenhuma hipótese. Não vamos descartar porque ainda não temos esclarecimento dessa situação", afirmou Barreto.
Pudim recebeu a denúncia durante uma audiência da CPI, realizada em Luziânia no final de janeiro. "Como as pessoas têm medo, não quiseram fazer denúncia formal. Mas é uma linha de investigação que não pode ser descartada de forma alguma", avaliou Pudim.
Segundo o deputado, "o medo impera" na cidade goiana de onde os jovens desapareceram.
Inteligência
Mais cedo, o ministro da Justiça defendeu um volume maior de investimentos na área de inteligência das polícias estaduais como forma de aprimorar as investigações de casos de sumiço no país.
"No Brasil, durante muitos anos, os investimentos foram direcionados para o esquema de policiamento ostensivo. A inteligência policial é deficiente. Temos que investir na inteligência, na estruturação tecnológica das perícias estaduais para poder dar condições de a polícia investigar os desaparecimentos", defendeu Barreto.
Para demonstrar o grau de deficiência das investigações criminais da polícia, Barreto lembrou que apenas 50% das investigações de homicídio no país chegam a identificar o assassino. "É muito grave. 50% das investigações de homicídio não chegam a descobrir autor. Se não conseguimos apurar nem a autoria dos crimes, quem dera buscar pessoas desaparecidas", afirmou Barreto.
O ministro voltou a apresentar o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, lançado no dia 26 de fevereiro. Para Barreto, a popularização do cadastro poderá ajudar nas buscas: "A localização dos desaparecidos será mais intensa."
Um dos casos mais polêmicos da CPI, que tem intrigado a polícia de Goiás, está na cidade de Luziânia, onde seis jovens desapareceram sem deixar vestígios. Até a Polícia Federal entrou no caso para auxiliar a polícia goiana. O ministro da Justiça evitou fornecer detalhes sobre a investigação para não comprometer o trabalho dos agentes, mas afirmou que o trabalho já está na fase de quebra de sigilos. "A polícia já fez reuniões de inteligência, tem equipamentos de inteligência para auxiliar nas buscas e já utiliza métodos que envolvem quebra de sigilos", relatou Barreto.
Familiares dos jovens desaparecidos acompanharam a audiência que começou 15h na Câmara. Em seu depoimento à CPI, o ministro da Justiça conta com a colaboração do secretário nacional de Segurança Pública, Arthur Andrade, e do delegado Wesley Almeida Soares, da Polícia Federal, que acompanha o caso dos desaparecimentos de adolescentes em Luziânia.
Cadastro
Lançado no dia 26 de fevereiro pelo Ministério da Justiça, o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas foi criado para se tornar uma rede nacional de investigação. Todo cidadão vai poder fazer o registro do desaparecimento por meio da página (www.desaparecidos.mj.gov.br). A partir da informação registrada, os dados serão validados no cadastro após a verificação do caso.
Segundo o secretário Nacional de Segurança Pública substituto, Alexandre Aragon, a partir do cadastro será possível chegar a um número real sobre casos de desaparecimentos no país. A base de dados será abrigada em uma rede integrada por policiais, investigadores e delegados de todo o país. "O desaparecimento é inserido no cadastro e, posteriormente, divulgado para todos os entes de segurança do país", explicou o secretário.
Crianças e adolescentes
A secretária Nacional da Promoção do Direito da Criança e do Adolescente afirma que a maior causa de desaparecimento de crianças e adolescentes é a fuga, que representa 40% do total de casos. Na sequência, estão a subtração da criança por um dos pais (15% dos casos), o rapto consensual, comum no caso de namoro entre adolescentes que fogem junto (10%) e o desaparecimento relacionado ao tráfico de droga e exploração sexual (5%).
Os estados com maiores índices de notificação de casos de desaparecimento são o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, que respondem por 40% dos registros. Para a deputada Bel Mesquita (PMDB-PA), presidente da CPI do Desaparecimento de Crianças e Adolescentes, o novo Cadastro Nacional será o instrumento fundamental para a localização dos desaparecidos.
"Não vai nos ajudar a resolver os casos de desaparecimento, mas teremos maior facilidade de encontrar nossos filhos e nossas filhas. Tenho certeza que teremos um longo caminho, mas será muito mais ágil do que foi até agora", disse.