A polícia começou a ouvir depoimentos que podem ajudar a esclarecer o esquema para simular o enterro de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, apontado como chefe do tráfico de drogas na comunidade da Zona Sul do Rio. A polícia vai investigar uma máfia que pode envolver médicos e funerárias.
Foram mais de duas horas de depoimento a portas fechadas. O gerente da funerária negou envolvimento no golpe. Mais quatro pessoas também tiveram que dar explicações.
De acordo com os agentes, o traficante queria sumir com medo de uma futura ocupação da polícia na favela da Rocinha, onde ele é suspeito de controlar a venda de drogas. O suposto enterro de Nem seria na última sexta-feira (29), no cemitério do Catumbi.
A falsa declaração de óbito foi assinada pelo médico Dalton Jorge. Sem ver o morto, ele atestou que o criminoso morreu de insuficiência renal e diabetes. Isso foi feito para evitar que o corpo fosse levado para o Instituto Médico Legal (IML).
O médico está preso e pode pegar 15 anos de prisão por falsidade ideológica e associação para o tráfico. Ele contou ter recebido R$ 150 pelo serviço.
Funcionário de funerária pode ter tido participação, diz delegado
Segundo a polícia, os formulários para o enterro foram preenchidos na funerária antes de o atestado de óbito ter sido assinado pelo médico. O que, de acordo com os investigadores, é um procedimento irregular. Para o delegado responsável pelo caso, algum funcionário da funerária teve participação no esquema. O delegado disse ainda que vai investigar o envolvimento de outros médicos com funerárias.
"Além disso, mostra uma fragilidade do sistema também porque, a partir do momento que você tem a declaração de óbito, o corpo pode ser enterrado direto, ou seja, sem que seja velado, sem que alguém procure saber se existe realmente um corpo dentro de um caixão", disse o delegado Márcio Mendonça.
O Conselho Regional de Medicina informou que abriu sindicância para apurar o caso e que o médico pode ter o registro profissional cassado. A polícia ainda trabalha para identificar o corpo que seria enterrado no lugar de Nem.
O Disque-Denúncia aumentou para R$ 5 mil a recompensa por informações que levem a polícia ao traficante.
Corpo não iria para o IML
Segundo a polícia, com este atestado de óbito, o corpo não precisaria passar pelo Instituto Médico Legal (IML), órgão responsável por investigar mortes violentas. O médico que assinou o atestado de óbito contou ter recebido R$ 150 pelo serviço.
Se a fraude tivesse dado certo, o traficante já tinha até escolhido a nova identidade. Nada de mudanças radicais. Nem trocou sua data de nascimento em apenas um dia, os nomes dos pais foram diminuídos e do dele, manteve apenas o primeiro e o último nome.
"Ele queria fazer o que a gente faz. Viajar, se divertir. E com essa identidade falsa ele poderia fazer isso, ainda mais fazendo com que a policia pensasse que ele estivesse morto", declarou o delegado Márcio Mendonça.
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