Veja, em números, o sistema da operação que tomou a favela| Foto:

Secretário de segurança

"Vamos ao Vidigal e à Rocinha"

O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, garantiu que o Complexo do Alemão continuará ocupado. "Podemos garantir que aquela área vai permanecer ocupada e policiada", disse. Para ele, o território resgatado hoje "era o coração do mal". O secretário disse também que os próximos passos da estratégia de combate ao tráfico no Rio incluirão as comunidades do Vidigal e da Rocinha, localizadas na zona Sul da cidade. Beltrame enviou um recado para os bandidos: "Quem apostar na derrota, vamos dobrar a aposta".

Ele comemorou o resultado da operação na Vila Cruzeiro e Alemão, mas frisou os desafios da política de segurança no Rio. "Não resolvemos todos os problemas, a caminhada é muito grande, não tem jogo ganho, não tem partida ganha, há muito o que fazer, mas já demos um passo importantíssimo", disse.

Beltrame destacou o sucesso do trabalho conjunto com as Forças Armadas. "Estamos satisfeitos em participar de uma operação em que o Estado brasileiro voltou a ter autoridade sobre uma área do seu território." (Agência Estado)

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Análise

Só subir o morro não adianta

A conquista do Alemão pode não representar um avanço relevante para a política de segurança do Rio caso não haja uma ação continuada. Para especialistas, o mais importante é que a região seja ocupada de forma permanente pela polícia, para que os traficantes não retomem o território no futuro.

O receio é que se repitam experiências, como a de 2007, quando a polícia tomou o local deixando 19 mortos. Logo depois, o tráfico voltou a dominar a área. Em 2008, o Bope chegou a cravar uma bandeira com o símbolo do batalhão na favela, numa exibição que lembra a da bandeira brasileira instalada ontem no Alemão. "Há um pouco de ilusão em cravar uma bandeira como se estivesse tomando o quartel inimigo. O avanço depende da permanência do Estado’’, diz Ignácio Cano, sociólogo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

A questão mais imediata , de conseguir um contingente policial necessário à ocupação após a entrada militar, é uma conta difícil de resolver. Ubiratan Ângelo, ex-comandante da PM do Rio, diz que o atual efetivo, de 40 mil homens, não é suficiente para uma ocupação permanente da polícia no morro.

(Folhapress)

Blindados puxaram os comboios da polícia rumo à praça central do Complexo do Alemão: operação reuniu 2,7 mil policiais e militares, e resultou na apreensão de armas, munições e 40 toneladas de drogas
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Rio de Janeiro - Uma semana após o início dos ataques incendiários no Rio, 2.700 homens das Polícias Civil, Militar e Federal e das Forças Armadas en­­tra­ram no Complexo do Alemão, na zona norte da cidade, e impuseram a mais dura derrota ao tráfico de drogas dos últimos tempos. Não houve o combate que se temia. Tampouco foram presos os chefes do tráfico da Vila Cruzeiro, Fa­­bia­no Atanazio, o FB, e do Alemão, Lu­­ciano Martiniano da Silva, o Pezão. Mas não há dúvida de que a operação foi um sucesso. Cerca de 40 toneladas de drogas foram apreendidas – além de armas e munições – e duas prisões importantes ocorreram. Uma foi a de Sandra Helena Ferreira Maciel, a Sandra Sapatão, que era do Com­plexo do Borel e, segundo a polícia, ligada a Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar. Outra foi a do traficante Elizeu Felício de Souza, o Zeu, um dos condenados pelo assassinato do jornalista Tim Lopes. Pelo menos outras 20 pessoas foram presas. Um traficante e duas pessoas não identificadas morreram.

Varredura

A invasão foi rápida. Em 1h40 de ataque, o domínio da área central do complexo estava consolidado, embora ainda houvesse resistência em pontos de difícil acesso. Em seguida, a polícia iniciou a varredura, de casa em casa – seriam 30 mil no local. O trabalho seguirá nos próximos dias. A estratégia da polícia é continuar no complexo à procura de traficantes e armas.

"Todas as casas serão revistadas. Beco por beco, buraco por buraco", afirmou o comandante geral da PM, Mário Sergio Duarte. Para a polícia, a operação foi um sucesso. Com 1h30 de operação, o comandante já declarava: "Ven­­cemos, vencemos. Trou­­xemos a liberdade para a população do Alemão."

O delegado Ronaldo Oliveira, coordenador das delegacias especializadas da Polícia Civil, disse que a operação "deixa claro que é mentira dizer que a polícia entra em favela atirando". "‘Policiólogos’ de plantão falam besteira", ironizou Oliveira, o primeiro a hastear uma bandeira do Brasil no ponto mais alto do Alemão, na estação do teleférico.

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Antes da ocupação, chefes do tráfico baixaram uma ordem impedindo que os moradores deixassem a região antes e durante a ocupação. Quem saísse perdia a casa e os móveis. Também ficaria sujeito a julgamento pelos chefes do tráfico. O comerciante João Aparecido Alves, morador há 22 anos, foi ameaçado depois de mandar a mulher e os filhos para Cabo Frio. Já Glauco Pereira foi autorizado a sair com a mãe doente, mas precisou deixar os dois filhos como garantia de que voltaria.

Prisão

O traficante Zeu, 31 anos, estava foragido da Justiça desde 2007 até ser detido ontem por policiais militares na localidade do Coqueiro, no Complexo do Alemão. Uma denúncia levou a PM até a casa onde ela estava escondido. Segundo o comandante do 17.º Batalhão da PM, tenente-coronel Marcos Neto, Zeu foi encontrado desarmado e sozinho. Ele ainda tentou esboçar resistência, não queria sair de casa, mas, após negociar com os PMs, rendeu-se. "Com um trabalho de convencimento nosso de que sairia vivo, ele resolveu se entregar", disse. Zeu deve ser transferido hoje para um presídio federal.

Sobre Fabiano "FB", a inteligência da polícia recebeu informações de que ele teria fugido para a Favela da Mangueira ou para Manguinhos, ambas dominadas pelo Comando Vermelho (CV). A maioria dos cerca de 500 traficantes que a polícia calculava estarem no complexo fugiu ou se escondeu nas casas de moradores.