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O carro onde estavam os suspeitos, no Bairro Alto, foi atingido por inúmeros disparos | Diego Ribeiro
O carro onde estavam os suspeitos, no Bairro Alto, foi atingido por inúmeros disparos| Foto: Diego Ribeiro

Vila Torres: Uma guerra particular

Diego Ribeiro

Tráfico de drogas, poder e disputa territorial são, em resumo, os principais motivos da chacina ocorrida no supermercado na Avenida das Torres, no dia 31 de dezembro. É também a síntese do que tem acontecido dentro da Vila Torres desde 2013, quando o número de mortes começou a aumentar. A disputa acontece entre a turma da "Chicarada" [mortos no estacionamento do supermercado], a turma do "Predinho" [atiradores do estacionamento] e a turma de "Cima" [por enquanto sem participação neste crime].

Uma fonte da polícia chegou a descrever que a disputa dentro da Vila Torres se assemelha, em escala menor, a guerra de facções em alguns morros no Rio de Janeiro. A organização é alta, armamento usado pelos três grupos é de grosso calibre e todos usam o medo para estabelecer o domínio entre os moradores.

A demonstração de força dessas gangues também é caracterizada pelas armas. A polícia apreendeu um fuzil calibre 556, considerado de alta potência, uma pistola 9 milímetros e outra calibre ponto 40. Essa última pode ser patrimônio da Polícia Militar. O laudo da perícia vai informar se é ou não de um policial militar. Há suspeita ainda que as outras duas tenham chegado à Curitiba por meio do contrabando do Paraguai, mas essa informação ainda não foi confirmada.

O resultado da disputa violenta recente entre os grupos pode ir além da chacina e do medo estabelecido na Vila Torres. Outras quatro mortes ocorridas depois da chacina podem estar relacionadas a guerra entre as gangues da Vila Torres. Esses crimes também estão sendo investigados pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa.Ousadia e alegria

A ousadia é tanta que, mesmo com a polícia na cola, o grupo que executou a chacina no estacionamento do supermercado faria um churrasco no fim de semana passado na região metropolitana de Curitiba. A reunião acabou não acontecendo, em razão de três deles terem sido baleados na última sexta-feira (16), no bairro Alto, em uma emboscada, na divisa com Pinhais [veja foto do veículo Voyage usado pelas vítimas neste dia alvejado e com pacote de carvão dentro]. O local era um apartamento usado pelos criminosos como base de fuga após os crimes cometidos.

Três dias depois da chacina, as equipes da DHPP tinham identificado todos, mas ainda não tinha mandados de prisão e nem a localização. Mesmo assim, conseguiu autorização para monitorar os suspeitos, que foram acompanhados de perto. A maior dificuldade da polícia, no entanto, na investigação foi conseguir seguir de perto os passos dos suspeitos, que se movimentavam muito. A execução ocorrida no bairro Alto acabou frustrando os planos da DHPP em prendê-los no último fim de semana, mas acabou expondo a localização dos suspeitos.

Policiais da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) prenderam cinco suspeitos de integrarem a "turma do Predinho", que estiveram envolvidos na chacina do supermercado Walmart, na Avenida das Torres, na virada do ano. Um duplo homicídio, ocorrido na última sexta-feira, no Bairro Alto, acabou ajudando os policiais a localizar o grupo. Os assassinatos ocorreram próximos ao prédio em que a turma estava escondida.

Duas mulheres e três homens foram presos quando tentavam fugir para o interior do estado na madrugada desta terça-feira (20).

O delegado titular da DHPP, Miguel Stadler, explica que as duas mulheres estavam no mercado no dia da chacina. Foram elas que avisaram os parceiros da presença da turma rival. Quando os grupos se confrontaram no estacionamento, os cinco integrantes da 'turma da Chicarada' morreram na hora. O sexto morto na chacina era um dos autores do crime, vítima de fogo amigo.

Durante as investigações do caso, a polícia obteve os mandados de prisão para parte do grupo, mas acabou surpreendida por um duplo assassinato de membros da turma do Predinho.

O carro onde estavam, no Bairro Alto, foi atingido por inúmeros disparos. Um dos homens que foi morto participou da chacina do Walmart. Outro homem que estava no carro foi levado ao hospital, baleado."Intensificamos a diligência não só para identificar os autores da segunda execução, mas para complementar a investigação da chacina anterior", explicou o delegado.

No mesmo dia, a polícia localizou um fuzil e munição, que estavam escondidos no sótão de um apartamento localizado a 150 metros do local do duplo homicídio, também no Bairro Alto. O local estava sendo usado como esconderijo pelo grupo. No sábado, a polícia encontrou duas pistolas (9 mm e .40), com carregadores e munição, em um matagal ao lado desse apartamento.

"Certamente essas armas foram usadas na execução de várias pessoas na região da Vila das Torres", afirma.

Uma das armas, a pistola .40, estava com o número de identificação lixado. "Acreditamos que seja patrimônio da polícia e foi subtraída. Estamos fazendo os levantamentos."

Ainda de acordo com Stadler, o fuzil foi usado em outras práticas criminosas, como cessão ou arrendados para outras facções. Entre os crimes praticados estariam os roubos a caixas eletrônicos.

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