Desde o seu primeiro dia na corporação, o policial Roberto* sentiu uma “pressão explícita para matar”. Ouvia piadas dos colegas e cobranças sobre quando seria seu “batismo de sangue” – primeira morte provocada pelo agente em serviço. Sentia-se intimidado. Sete meses depois, fez a primeira vítima: um suspeito que desobedeceu a ordem de parar para ser abordado.
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Leia a matéria completa“Foi uma morte completamente evitável. Ele estava acuado, rendido. Mesmo assim eu atirei”, disse. “Você pensa que tirou uma vida, mas ao mesmo tempo você se sente poderoso e valorizado. Tem todo o discurso na corporação de que você matou um tralha, que fez uma limpeza. Para a sociedade, quanto mais gente com perfil de bandido ‘pular’ [morrer], melhor. As pessoas se sentem vingadas”, completou.
Além de Roberto*, que serviu às polícias Militar e Civil, outros dois agentes ouvidos pela Gazeta do Povo relataram sensação semelhante: de que há nas corporações uma inclinação à letalidade, respaldada pelo corporativismo e potencializada por uma parcela da sociedade. “Não é a polícia que é violenta. É a sociedade. A polícia é só o braço armado da sociedade, que legitima essas mortes”, disse o policial civil Tiago*, que participou de dois confrontos que terminaram em morte.
“A sociedade aperta o gatilho junto com o policial”, afirmou *Roberto.
Para os policiais, as falhas no sistema de persecução penal ampliam a aceitação da sociedade à letalidade policial e leva os agentes a crer na “justiça pelas próprias mãos”. “Se o policial não crê na Justiça, ele tende a matar com mais facilidade. Ele justifica pra si mesmo que é um ato de nobreza, mas, muitas das vezes, não passa de um ato covarde de execução”, apontou o policial militar Ricardo*.
Os agentes ouvidos pela reportagem, no entanto, reconhecem que a execução de suspeitos está longe de resolver os problemas estruturais de segurança, mas que apenas mascaram a realidade. “É igual a música da mosca: você mata uma e vem outra em seu lugar. Você vai ficar matando a vida inteira?”, questiona Tiago*.
“Por exemplo, se uma equipe mata um traficante que está passando drogas em vez de prendê-lo, ela está queimando a possibilidade de chegar aos grandes. Essa prisão seria muito mais eficiente à segurança. Vamos continuar matando os peixes pequenos?”, aponta Roberto*.
*Nomes fictícios.
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