A poluição, o mau cheiro, as enchentes e a infestação de ratazanas do rio Água Verde, que passa por três importantes bairros de Curitiba todos próximos ao Centro configuram um problema com várias causas e de difícil solução a curto prazo.
As águas poluídas, espalhando fedor nos trechos onde o rio corre a céu aberto, espelham o retrato de outros rios da capital e revelam apenas a ponta de um iceberg. A origem de problemas ambientais como este esbarra em questões complexas, como hábitos culturais da população, ausência de políticas de longo prazo e também de projetos de conscientização dos moradores.
Roberto Colin, engenheiro da secretaria municipal de Obras, explica que o problema começa décadas atrás, quando alguns moradores começaram a erguer construções em faixa não-edificável, muito próxima ao rio.
Impermeabilização
Já a urbanização do bairro Rebouças um dos mais antigos da capital, que nos anos 40 e 50 já recebia asfaltamento nas ruas principais contribuiu, negativamente, para o que os engenheiros chamam de impermeabilização da área.
De acordo com Colin, toda a bacia do rio Água Verde tem taxa de permeabilidade (capacidade de absorção de águas pluviais) muito baixa, o que agrava o problema das enchentes.
De acordo com um estudo feito pela prefeitura, já na década de 50 o rio Água Verde foi retificado (teve a correção de curso) e canalizado. Essa obra foi projetada para as proporções da época.
Hoje, as galerias estreitas, construídas há 50 anos, já não comportam a vazão das águas. Dezenas de ligações irregulares de esgoto, baixa permeabilidade da região e o lixo acumulado pioram ainda mais a situação do rio.
Produto escasso
"No Brasil, de forma geral, as pessoas não têm consciência da importância da água limpa, de preservar o meio ambiente. Na Europa, onde a água limpa é um produto escasso, já raro, a população e o poder público já têm outra atitude. Aqui, nesse paraíso, onde a água é farta, as pessoas se dão ao luxo de poluir rios e mares", lamenta Colin.
Para exemplificar, ele conta que acompanhou o projeto de despoluição e revitalização do rio Tâmisa, que passa por dentro de Londres, capital da Inglaterra. O rio estava morto.
"Foram 25 anos de trabalho contínuo para fazer o Tâmisa reviver. Dá para imaginar isso aqui no Brasil, onde não se fazem políticas de longo prazo? Tudo que envolve meio ambiente depende de vontade política, educação, mudança de comportamento, conscientização e muito tempo de trabalho", comenta o engenheiro.
Morto e podre
"Quem mais reclama do cheiro e dos ratos são justamente os que mais poluem", diz o corretor de imóveis Milton Giacometti. Ele diz que o rio Água Verde "está podre, morto, porque jogam podridão nessas águas, que deveriam nos dar peixes e nos trazem ratos e sujeira".
Há algum tempo, Giacometti tenta vender um imóvel na esquina das ruas Nunes Machado e Brasílio Itiberê uma casa antiga, vizinha a um dos trechos onde o leito do rio corre a céu aberto.
O corretor afirma que o cheiro, a sujeira e as enchentes desvalorizam bastante os imóveis daquela região do Rebouças confirmando o cenário constatado pela reportagem da Gazeta do Povo Online, com dezenas de casas à venda ou para alugar, quase todas em más condições ou abandonadas.
"Se o rio não fosse desse jeito, o imóvel valeria três vezes mais", calcula Giacometti.
Valor depreciado
Sirso Teodoro da Silva é outro corretor que trabalha na região. Ele confirma: "Na faixa entre 30 a 50 metros próxima ao leito do Água Verde, o preço dos imóveis fica bastante depreciado, tanto para locação quanto para venda", aponta.
"E a procura também reduz bastante", complementa o corretor, lembrando que o Rebouças vem se desenvolvendo comercialmente em outros eixos, como na região próxima à nova sede da faculdade Curitiba. Mas o bairro permanece estagnado nos locais vizinhos às águas do rio.
Tapar o problema
Os dois corretores de imóveis opinam: para eles, a solução seria fechar o rio nos trechos onde está aberto, para acabar com o cheiro. Esta é a visão da maioria das pessoas que sofrem com o Água Verde e com outros rios poluídos da cidade - tapar o problema.
Mas esta, além de ser uma atitude ambientalmente incorreta, não é a solução, diz o engenheiro Roberto Colin. "Retificar e canalizar rios são vistos, hoje em dia, pela engenharia, como uma mentalidade ultrapassada", diz.
O mais correto seria atacar os problemas na origem: esgoto irregular, poluição, lixo e sujeira. E contar com o apoio dos moradores. A prefeitura pede que a população colabore, não jogando lixo no rio e denunciando casos de esgoto irregular.
Embora a Sanepar empresa do governo estadual seja responsável por construir e fazer as ligações para escoamento e tratamento de esgoto, a prefeitura deve fazer a fiscalização.
"A Sanepar é concessionária do serviço. A administração municipal precisa checar e notificar os moradores que jogam esgoto nos rios da cidade e os que jogam lixo", observa o engenheiro.
Soluções possíveis
A secretaria de Obras da cidade tem um diagnóstico do rio Água Verde, feito recentemente, e um projeto que apresenta algumas soluções todas bastante dispendiosas.
Uma das propostas, ao custo de cerca de R$ 40 milhões, seria retificar o curso do rio e implantar canalização mais larga. Obra similar à que foi feita no rio Ivo, há oito anos, da qual Roberto Colin participou.
"Ali, saindo da Praça Osório, o Ivo passava dentro de imóveis, de terrenos particulares. Foi todo retificado para baixo da Avenida Vicente Machado, em tubulação de maior diâmetro", explica o engenheiro. Segundo ele, este é o que se chama de projeto convencional.
Outro projeto prevê a construção de uma galeria-reservatório para as águas do Água Verde. E um terceiro propõe a instalação de três galerias de retenção uma na Praça Afonso Botelho, outra na altura da Rua João Negrão e a última na foz do rio, onde ele deságua no Belém, já no bairro Prado Velho, próximo à Rodoferroviária.
As três propostas têm custo alto e dependem de recursos que a prefeitura não dispõe. Os estudos já foram levados ao Ministério das Cidades para requisitar investimento do governo federal.
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