A revista “Nature”, uma das publicações científicas de maior prestígio do mundo, anunciou nesta segunda-feira sua lista dos dez nomes de maior destaque na ciência em 2016. E entre os escolhidos está a brasileira Celina Maria Turchi Martelli. Professora aposentada da Universidade Federal de Goiás e pesquisadora-visitante do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPQAM), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, Celina lidera o grupo que pela primeira vez associou cientificamente a infecção pelo vírus da zika em grávidas a casos de bebês com microcefalia.
Embora a relação entre o vírus da zika e a microcefalia já tivesse sido observada anteriormente, foi só a partir do trabalho de Celina e seus colegas do Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia (Merg, na sigla em inglês) – que inclui cientistas de diversas instituições de pesquisa e assistência de Pernambuco, assim como a London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido - que esta associação ganhou um caráter mais certeiro.
Publicado em setembro último no periódico “Lancet Infectious Diseases”, o estudo, ainda em fase preliminar, inclui crianças nascidas com microcefalia em oito hospitais públicos da Região Metropolitana de Recife entre 15 de janeiro e 2 de maio deste ano. Para cada um dos casos de microcefalia registrados na pesquisa, com exceção de dois, os cientistas incluíram mais dois nascimentos chamados “controles”, definidos como os primeiros dois bebês que vieram à luz na manhã seguinte sem microcefalia em um dos oito hospitais. Ao todo, foram 62 controles e 32 vítimas de microcefalia, que também foram pareados de acordo com a região de residência da mãe e a data esperada para o parto.
Após o recrutamento dos casos e controles, os pesquisadores analisaram o líquido cefalorraquidiano (líquor) e o o sangue do cordão umbilical de todos bebês em busca de sinais de infecção congênita pelo zika, e em 13 deles (41%) os testes deram positivo em uma ou ambas amostras. Já entre os controles, nenhuma das crianças apresentou indícios de exposição ao vírus. Além disso, exames mostraram que ao menos 24 de 30 das mães que tiveram filhos com microcefalia (80%) foram atingidas pela doença, contra 39 de 61 das mães dos controles (64%). Estes testes, no entanto, não podem dizer se elas adoeceram antes ou depois do início da gestação, nem em qual fase.
Segundo os pesquisadores, tentar detectar a presença do vírus da zika ou de seus anticorpos no sangue e no líquor são os únicos meios disponíveis atualmente para identificar a infecção congênita em recém-nascidos. Mas a confiabilidade deste método, especialmente quando a infecção acontece logo nos primeiros meses da gravidez, ainda não é bem compreendida. Assim, eles consideram que esta dificuldade pode explicar, pelo em parte, porque 19 (59%) dos 32 casos de microcefalia do estudo preliminar não deram positivo para zika.
“A escolha de meu nome é um reconhecimento do esforço feito não só por mim, mas por todo um grupo de pesquisadores que fazem parte do Merg, para estabelecer desde o início da epidemia de microcefalia qual a associação das diferentes hipóteses a estes casos”, disse Celina em entrevista ao Globo. “É muito gratificante ver nossas pesquisas serem reconhecidas e repasso esta lembrança a todos os pesquisadores do grupo, que com muito trabalho e colaboração alcançou este resultado”, afirmou.