Desde que retornou da temporada na América do Norte, no início da década de 1990, Wilson Martins reservava os sábados para almoçar com amigos. Foram poucos os que se reuniam ao redor de uma mesa com o crítico, e entre esses interloculotores estavam o ex-deputado Norton Macedo, 72 anos, e o ex-secretário de estado Pretextato Pennafort Taborda Ribas Netto, de 74 anos.
Macedo e Ribas recordam que, evidentemente, a literatura era o prato principal dos encontros. "Mas ele era imbatível nos assuntos gerais", diz Macedo, confidenciando que Martins não gostava apenas de uma "coisa": futebol. "Inclusive, o Wilson Martins reclamava do Coxa, porque ele morava perto do Estádio Couto Pereira e, quando tinha jogo, estouravam foguetes, o que de certa maneira o irritava", conta Macedo.
Na tarde de ontem, Macedo e Ribas lamentavam a perda do amigo. "Perdemos um grande amigo, um sujeito que, assim como toda comunidade intelectual brasileira, nós respeitamos muito", diz Ribas. Macedo conta que Wilson Martins costumava passar a semana esperando pelos encontros dos sábados. "Ele escolhia o restaurante. Íamos a muitos, e, nos últimos tempos, a nossa pedida era onde serviam peixe", recorda. Os almoços foram interrompidos entre outubro e novembro do ano passado.
Ribas observa que o convívio com Martins sempre proporcionava algum aprendizado. "Mais que isso. Muita gente que não conhecia, e que apenas lia os artigos dele, principalmente uma crítica contundente, às vezes poderia supor que se tratava de um sujeito bravo, ríspido. Nada mais falso. Ele era bem humorado, afável, um gentleman", define Ribas.
Os dois sabem que Martins é insubstituível. "A cultura brasileira perde um pensador complexo, que não se limitava a resenhar um livro. Ele sabia pensar uma obra dentro do contexto em que essa obra estava inserida", afirma Macedo, para em seguida dizer o que, para ele e Ribas, será o mais difícil de superar: "Sem Wilson Martins, nossos sábados perdem a graça, a inteligência, o brilho. Mas vamos em frente, não é mesmo? É preciso seguir. Perdemos um grande amigo. Curitiba, Paraná e o Brasil perderam o seu maior pensador." (MRS)