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Cultura

O adeus ao mestre da crítica

Familiares e amigos velaram o corpo do crítico literário no Cemitério Luterano e depois conduziram o caixão até Crematório Vaticano, onde Martins será cremado: 70 anos dedicados a analisar a produção literária e cultural do país | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Familiares e amigos velaram o corpo do crítico literário no Cemitério Luterano e depois conduziram o caixão até Crematório Vaticano, onde Martins será cremado: 70 anos dedicados a analisar a produção literária e cultural do país (Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo)

A cultura brasileira está de luto. O crítico literário Wilson Martins, de 88 anos, faleceu às 20h55 do sábado, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba. Na terça-feira da semana passada, ele foi submetido a uma cirurgia para a retirada da bexiga e da próstata, devido a um câncer. O corpo de Martins foi velado na tarde de ontem na capela do Cemitério Luterano, no Alto da Glória. Às 17 horas, o caixão foi encaminhado ao Crematório Vaticano. Hoje, o corpo será cremado, às 15 horas, em cerimônia reservada à família.

Aproximadamente 50 pessoas, na maioria parentes, participaram do velório. A viúva, Anna Martins, de 87 anos, bastante emocionada, permaneceu sentada ao lado do corpo do marido durante a tarde de ontem. Martins e Anna não tiveram filhos.

Entre os amigos presentes na despedida, o escritor Miguel Sanches Neto, colunista da Gazeta do Povo, enunciou uma frase que define a trajetória de Martins: "Ele foi o maior e mais importante crítico literário do Brasil, de todos os tempos." A frase de Sanches se justifica diante da evidência: Martins publica textos críticos em jornal há 70 anos. "Ninguém, nem mesmo Antonio Candido, que é mais ensaísta, do que crítico, dedicou toda uma trajetória a analisar a produção literária e cultural sistematicamente", completou Sanches.

Wilson Martins escreveu textos para a Gazeta do Povo nas décadas de 1940 e 1950, mas passou a publicar sistematicamente textos críticos no jornal desde que retornou dos Estados Unidos, na década de 1990, quando se aposentou, aos 70 anos, por limite de idade, na Universidade de Nova Iorque. O último texto que ele escreveu, "Tempo de Compilações", foi veiculado no dia 24 de outubro de 2009, no Caderno G.

Em novembro do ano passado, o jornalista Aroldo Murá G. Haygert, acompanhado da jornalista Cláudia Gabardo e da fotógrafa Lina Faria, esteve no apartamento de Wilson Martins, no Juvevê, e, durante duas horas, realizou aquela que provavelmente foi a última entrevista que o crítico literário concedeu. O bate-papo será publicado no livro Vozes do Paraná, volume 3, a ser lançado em junho. Lina Faria disse que ficou emocionada ao presenciar um intelectual brilhante, "do porte de Wilson Martins", recuperar a sua própria trajetória com brilho nos olhos, graça e frases certeiras.

O jornalista Marden Machado e o seu irmão, o cineasta Douglas Machado, preparam um documentário sobre Wilson Martins. O depoimento de Martins, de três horas, realizado em 2002, vai ser o fio-condutor do audiovisual que deve ser finalizado neste ano.

Um leitor visceral

Martins nasceu no dia 3 de março de 1921, em São Paulo, mas em 1930 a família migrou para Curitiba. Aqui, o primeiro emprego dele foi como revisor na Gazeta do Povo. O crítico disse, em diversas ocasiões, que passava o tempo livre lendo na Biblioteca Pública do Paraná e que, sem exagero, chegou a pensar que leu todos os livros do acervo.

Foi locutor da (extinta) rádio PRB2. Chefiou o Diário dos Cam­­pos, jornal de Ponta Grossa. Ba­­charelou-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). O seu primeiro livro, Inter­­pretações, saiu em 1946 com o selo da José Olympio, na época a mais importante editora do Brasil.

O crítico foi ampliar os horizontes em Paris, durante 1947 e 1948, com bolsa do governo francês. Os seus textos, de certa forma, fazem um mapeamento não apenas da literatura, mas da cultura brasileira durante o século 20. Com a sua morte, assinala-se o final de uma época: dos intelectuais que pensavam o mundo de maneira ampla, complexa, e não generalista como hoje. Na história da inteligência brasileira, Wilson Martins (1921-2010) é um nome de destaque. Sem paralelos.

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