O duro recomeço em São João do Triunfo
O agricultor aposentado Pedro Gordia (foto), 62 anos, perdeu tudo na cheia do Rio Vargem, em São João do Triunfo, no Centro-Sul. "Achei que esse ano seria bom, mas acabei perdendo tudo em duas horas", afirmou ontem, enquanto limpava a casa danificada pela enchente. A felicidade momentânea veio apenas com a notícia de que tinha ganhado um sofá usado. Os vizinhos o ajudariam no transporte. Gordia contabilizou o prejuízo com as chuvas: um boi, cinco porcos e 40 galinhas morreram afogados. O carro, usado para levar uma das filhas a Curitiba para um tratamento de saúde, teve perda total na tempestade. O aposentado mora há 30 anos em São João do Triunfo e nunca tinha visto tamanho prejuízo. A cidade está isolada porque a água levou uma parte da pista no quilômetro 439 da PR-151.
Estradas
Cai para 14 o número de rodovias totalmente interditadas
Kelli Kadanus, especial para a Gazeta do Povo
Caiu para 14 o número de pontos de interdição total nas rodovias federais e estaduais do Paraná. São seis pontos nas rodovias federais e oito nas estaduais. Outros 24 locais ainda apresentam algum tipo de restrição: 11 nas BRs e 13 nas PRs.
A BR-153, que apresentava três pontos de interdição na terça-feira, agora tem apenas um trecho obstruído pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), no Km 328, em Imbituva. Uma queda de barreira impede totalmente o tráfego na região.
Em Santa Tereza do Oeste, na BR-163, Km 199, os pilares do viaduto estão instáveis e nenhum veículo pode passar pelo local.
A BR-373 apresenta três pontos completamente interditados em Candói. Os Kms 426, 430 e 434 apresentam um afundamento de pista. Já em São Mateus do Sul, um alagamento na pista da BR-476, no Km 276, interdita totalmente o trânsito no local.
Além das BRs, mais oito pontos estão completamente interditados nas rodovias estaduais, de acordo com balanço da Polícia Rodoviária Estadual (PRE). Outros sete pontos têm trânsito liberado em meia pista, três locais apresentam restrições a veículos pesados e duas localidades estão parcialmente interditadas.
Ceprodec discute recuperação do estado
Carolina Pompeo, especial para a Gazeta do Povo
Na manhã de ontem, os 27 órgãos membros do Conselho da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (Ceprodec) reuniram-se no Palácio Iguaçu para avaliar as medidas que já foram tomadas e definir as prioridades de cada órgão para o atendimento imediato à população atingida.
O Instituto Tecnológico Simepar desenvolveu um sistema de monitoramento do nível das águas nas cidades alagadas para que a Defesa Civil consiga acompanhar o registro de chuvas e a redução do volume de água acumulada. Em Guarapuava, por exemplo, há três dias, o Rio Iguaçu estava 4,62 metros acima do nível normal, ontem, as águas já tinham baixado para 3,31 metros.
O Departamento de Estradas de Rodagem (DER), em ação conjunta com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), assumiu a responsabilidade pela apuração da quilometragem danificada em rodovias e estradas principais, enquanto a Secretaria de Infraestrutura e Logística juntamente com a Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar) avaliará os danos nas estradas rurais.
Enquanto isso, caminhões com donativos são encaminhados para os municípios afetados. Ontem, a Defesa Civil entregou alimentos e outros mantimentos para Quedas do Iguaçu, Irati e União da Vitória.
Estimativas da Defesa Civil estadual indicam que os prejuízos provocados pelas chuvas no Paraná já ultrapassam R$ 600 milhões, podendo chegar a R$ 1 bilhão. A contabilização dos estragos ainda está em fase inicial porque o nível das águas dos rios permanece alto, impossibilitando o levantamento de danos em estradas, plantações e edificações.
Entretanto, de acordo com o capitão da Defesa Civil, Eduardo Gomes Pinheiro, considerando-se o número de municípios atingidos e a gravidade da situação, a expectativa é de que os prejuízos sejam ainda maiores.
Até o momento, dos 147 municípios afetados pelas chuvas, 131 decretaram situação de emergência. Onze pessoas morreram e quase 565 mil foram afetadas de alguma forma em todo o estado. Mas a previsão é de que o nível das águas normalize nos próximos três dias, a partir daí, o evento é considerado encerrado e conta-se com um prazo de 10 dias para a apuração dos estragos e solicitação de verba ao Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap), da União. No entanto, Pinheiro alerta que, dadas as circunstâncias, esse prazo não é rigoroso, assim pode levar mais dias para que o governo estadual solicite verba de reconstrução para a União.
"Não podemos estimar um valor para recuperação porque temos um desastre ainda em expansão. Esse evento já integra o rol dos maiores desastres naturais do Brasil. Tivemos prejuízos acentuados e devemos solicitar um montante compatível com esse prejuízo, não adianta se antecipar e pedir uma quantia insuficiente", explicou Pinheiro.
O processo de apuração dos danos é centralizado pela Defesa Civil estadual através de um sistema on-line por meio do qual os municípios preenchem formulários com informações sobre os prejuízos sofridos e indicam o montante necessário para a recuperação. Cabe à Defesa Civil estadual avaliar os dados e repassar a solicitação à União cada pedido vem acompanhado de laudos técnicos para validação.
Entram no cálculo final danos classificados em quatro categorias: Humanos, referente ao número de óbitos, feridos, doentes, desabrigados e desalojados; Materiais, na qual são computados os estragos em edificações públicas e privadas, estradas, pontes, trincheiras e estações de tratamento de água; Ambientais, que lista os prejuízos à fauna e flora; e Econômicos, em que são apuradas as perdas causadas pela interrupção dos serviços essenciais, como água e energia elétrica, de culturas agrícolas, da pecuária e do comércio.
De acordo com o Tenente Coronel Edemilson de Barros, coordenador executivo de Proteção e Defesa Civil, a conclusão da contabilização dos prejuízos "depende da velocidade dos municípios em fornecer à Defesa Civil as informações necessárias para o cálculo final".
Moradores afetados poderão usar o FGTS
Pessoas que moram nas regiões afetadas pelas chuvas no Paraná devem ser amparados com a liberação de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A informação foi confirmada ontem pelo ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira.
"A todos os municípios afetados por esse tipo de desastre a gente pede que a prefeitura, com a ajuda da Defesa Civil, faça o levantamento da área atingida, para depois a Caixa Econômica Federal poder identificar as famílias e liberar o FGTS", afirmou. O trabalhador poderá sacar até R$ 6.220 da própria conta no fundo, dependendo do saldo. Só terão direito aqueles que comprovarem residência em áreas afetadas.
A bancada federal do Paraná também sugeriu o remanejamento de emendas parlamentares para programas de atendimento a áreas atingidas por desastres. Teixeira apoiou a proposta, mas a negociação precisa ser encaminhada à Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.
Por último, os parlamentares solicitaram a presença de mais um helicóptero no atendimento às vítimas. Uma aeronave da Polícia Rodoviária Federal no estado foi deslocada para fazer a segurança da Copa do Mundo, mas deve voltar a dar apoio às regiões afetadas.
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