Imagem de Antônio Aristeu Chagas Neto no dia posterior em que diz ter sofrido agressão no bar Santa Fé| Foto: João Varella/Gazeta do Povo

Foi preso temporariamente, na quarta-feira (15) à noite, o proprietário da danceteria country Santa Fé, Rodrigo Rodrigues de Lima, suspeito de mandar torturar 12 jovens na madrugada de 21 de setembro em Curitiba. A polícia pediu também a prisão da mulher dele, Márcia Cristina Sledz, que é acusada de ter participado do suposto crime.

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Segundo o delegado titular do 9º Distrito Policial, Luiz Antônio Zavattaro, o casal estaria se negando a fornecer o nome dos seguranças que teriam agredido os jovens e extorquido mais de R$ 1 mil. "A prisão temporária serve para auxiliar a investigação", afirma Zavattaro.

Márcia ficou presa no próprio 9º DP, onde há carceragem feminina. Lima foi levado ao 8º Distrito Policial, localizado no bairro Portão. Às 14h30 eles foram chamados para prestar depoimento ao delegado que preside o inquérito do caso, Tristão Antônio Borberama de Carvalho. Logo depois, seriam escoltados até a Delegacia de Furtos e Roubos, onde há outra investigação de furto, sem relação com o caso da suposta tortura.

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Carlos Hugo Maravalhas, advogado que representa parte dos garotos, diz achar que a prisão foi acertada. Segundo ele, o casal deveria ter sido preso em flagrante quando a Polícia Militar foi chamada, na madrugada do dia 21. "Agrava o fato do bar ser reincidente nesse tipo de crime". Há um outro caso similar envolvendo o bar Santa Fé e uma vítima desde março deste ano.

Entenda o caso

Um grupo de jovens, sendo alguns menores de idade, registrou queixa na Polícia Civil no dia 22 de setembro contra a casa noturna Santa Fé, no bairro Batel, por supostamente terem sido torturados por seguranças do estabelecimento. O proprietário alegou que os jovens estariam aplicando um golpe na casa, com fichas de consumação falsas, e teriam sido expulsos.

O caso se deu pouco depois da meia-noite de domingo (21). Os funcionários da casa acusaram um cliente (identificado como "Gordo") de ter falsificado uma comanda, ficha onde é registrado o consumo de cada cliente. O garoto era conhecido da casa pelo alto consumo e pela freqüência no bar.

Segundo o advogado Vital Cassol da Rocha, que é pai de um dos envolvidos, o Gordo teria apontado para o grupo, que alega não ter relação com a suposta falsificação. O proprietário da casa, Rodrigo Lima, a mulher dele e três seguranças teriam torturado os clientes por mais de uma hora em uma parte isolada da cozinha.

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"Os seguranças chegaram a colocar um revólver na boca de um dos jovens, além de dar várias coronhadas", diz o advogado. Além disso, os jovens teriam sido golpeados com a coronha dos revólveres e recebido chutes. "Um amigo meu foi forçado tirar a roupa para provar que não tinha nenhuma comanda falsa", conta um rapaz de 16 anos. O estudante universitário Antônio Aristeu Chagas Neto, de 18 anos, disse que seus companheiros foram forçados a pagar mais de mil reais em dinheiro vivo para cessar a tortura.

Outra denúncia foi levantada por Maravalhas: Rodrigo Lima teria dito que o verdadeiro proprietário era um delegado da Polícia Federal, o mesmo que prendeu o traficante Abadía. "É de se fazer uma investigação sobre quem é esse delegado da PF. Se não investigar isso, registrarei a omissão na corregedoria da Polícia Civil", ameaça Maravalhas.

Outro lado

No entendimento do advogado Elias Assad, que representa o casal, a prisão do casal "não tem utilidade". De acordo com Assad, os indiciados compareceram à delegacia sempre que foi solicitado pela polícia.

Questionado sobre a negativa do casal em fornecer o nome dos seguranças, o advogado afirma que não há obrigação nenhuma por parte dos suspeitos. "Os acusados têm o direito absoluto e constitucional até de permanecer em silêncio, se assim optarem", argumenta Assad.

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A defesa dos proprietários do Santa Fé solicitou ao mesmo juiz que concedeu a prisão temporária a revogação do ato. Caso o juiz decline, Assad prevê entrar com um pedido de habeas-corpus.

No dia posterior ao fato, a administração do Santa Fé negou a acusação de ter agredido o grupo de jovens, porém, confirma ter levado os jovens até um local isolado para conversar. O bar cogitou que os próprios jovens teriam se agredido depois de terem sido expulsos da casa.