Os dois homens presos e o adolescente apreendido em Piraquara pelo Gaeco na última quarta-feira (18) teriam reconhecido os policiais acusados de tortura em depoimento nesta sexta-feira (20)| Foto: Marcelo Andrade / Arquivo / Agência de Notícias Gazeta do Povo

MP-PR confirma que Gaeco investigará os próprios policiais

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) confirmou nesta sexta-feira (20), através da assessoria de imprensa, que os promotores do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) serão responsáveis pela investigação da denúncia de tortura contra dois homens e um adolescente detidos em Piraquara na última quarta-feira. A responsabilidade do caso é do grupo especial mesmo com a suspeita de que policiais militares e civis, integrantes do próprio Gaeco, tenham participado das agressões.

Em nota, o MP-PR afirmou que "o GAECO é o setor do Ministério Público do Paraná responsável pelo combate ao crime organizado e pelo controle externo da atividade policial. Portanto, é o mais indicado para conduzir esta ou qualquer outra investigação envolvendo policiais. O fato de os investigados integrarem o Grupo não muda, de forma alguma, a conduta na apuração do caso. Pelo contrário, reforça o rigor no esclarecimento dos fatos, já que a instituição é a maior interessada em possuir pessoas idôneas no desempenho de suas atividades."

Também em nota, o procurador-geral de Justiça do Paraná, Gilberto Giacoia, determinou apuração rigorosa do caso. "O Ministério Público, com certeza, não pode conviver com agentes da lei que não tenham compromisso com seu integral cumprimento e com a preservação das garantias constitucionais de todos, as quais cumpre à própria instituição assegurar. Daí a recomendação de imediata e completa apuração da verdade para os devidos encaminhamentos."

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Depois de quatro horas de depoimento, os dois homens presos e o adolescente apreendido na última quarta-feira (18) em uma chácara na Estrada das Pedreiras, em Piraquara, reconheceram policiais que teriam torturado os três durante a detenção. Eles teriam confirmado que parte dos agressores é da equipe do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Paraná, especializado no combate ao crime organizado e responsável pelo controle externo da atividade policial.

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O reconhecimento foi feito com o uso de um álbum de fotografias. O depoimento deles foi tomado por um promotor do Gaeco no Centro de Triagem II (CT-II), em Piraquara, na tarde desta sexta-feira, entre as 15 horas e as 19 horas. "Os três depoimentos aconteceram em separado e são riquíssimos em detalhes. Eles confirmaram que as agressões aconteceram na chácara e dentro das dependências do Gaeco", disse o advogado dos detidos, Cleverson Greboggi Cordeiro.

"Deste álbum, eles reconhecem certos policiais que os agrediram e reconhecem policias que viram as agressões e nada fizeram. Um dos homens reconheceu dois policiais, o outro quatro e o adolescente mais dois policiais", acrescentou Cordeiro. Segundo ele, há mais policiais envolvidos. "Eles alegam que mais policiais agrediram e não estavam no álbum de fotografia."

O advogado voltou a criticar a ação do Gaeco. "Não havia delegado no depoimento ao Gaeco (na quarta, dia da prisão). Até agora, não foi apresentado o mandado de busca e apreensão." Cordeiro disse ainda desconhecer o porquê de um dos homens detidos ter a prisão preventiva decretada pela Justiça de Santa Catarina. "Não há qualquer menção no mandado de prisão."

Os dois homens e o adolescente foram detidos durante uma operação organizada para cumprir um mandado de prisão temporária contra um homem identificado pelas inicias R.V., investigado pelo Gaeco de Santa Catarina. Uma equipe policial do Gaeco do Paraná e integrantes da Comandos e Operações Especiais (COE), grupo de elite da Polícia Militar (PM), deram apoio para efetuar a prisão.

Álbum

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O procurador de Justiça e coordenador do Gaeco no Paraná, Leonir Batisti, não confimou que houve o reconhecimento. Ele informou que até as 18h30 (horário da entrevista) ainda não tinha a confirmação do resultado dos depoimentos, mas reforçou a informaçção de que dois promotores do grupo especial foram ao CT-II com um álbum de fotos de policiais do Gaeco para reconhecimento. Segundo ele, não foi possível conseguir nesta tarde imagens dos policiais de Santa Catarina e do COE, que participaram da operação.

"O principal objetivo do depoimento é para que eles detalhem como aconteceu e em que momento teria acontecido as agressões. Foi levado fotos para ver se eles reconhecem (os policiais)", disse Batisti.

Ripa de madeira

A suspeita de tortura por policiais durante uma operação com integrantes do Gaeco foi tornada pública nesta quinta-feira (19) pelo advogado dos presos e pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR).

Um dos presos, identificado como R.V., de 27 anos, contou que eles ouviram barulhos vindos da entrada da chácara antes do amanhecer. Com a confusão, o menor de idade, pensando se tratar de um assalto, teria pegado uma arma. Depois dos policiais terem controlado a situação, teriam começado a tortura. "Eles me bateram com uma ripa na barriga e ficavam me espancando na cabeça". R.V. é de Blumenau e estava sendo procurado para o cumprimento do mandado de prisão.

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O outro preso, J.S. de 26 anos, afirmou que os policiais o deixaram despido na frente da família. A vítima alega que foi forçada a dizer que era o responsável pela arma que estava em posse do menor. "Eles ameaçavam bater na minha esposa e na minha mãe se eu não assumisse". J.S. alega que a arma não lhe pertence, e sim ao adolescente, e que eles mantêm essa arma na propriedade rural para se defender. J.S. foi detido por porte ilegal de arma de fogo.

Os nomes não foram divulgados a pedido da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR. Na chácara, três armas teriam sido apreendidas com o grupo. Uma espingarda garrucha e duas armas de pequeno porte, possivelmente um revólver e uma pistola, de acordo com o advogado dos presos, Cleverson Greboggi Cordeiro. "A garrucha seria do antigo dono da chácara, que morreu há 11 meses. Como está em inventário, eles não podiam se desfazer da arma. O adolescente admitiu que estava com uma arma quando a polícia chegou."